Disco: “Parallax”, Atlas Sound

/ Por: Cleber Facchi 29/10/2011

Atlas Sound
Experimental/Indie/Psychedelic
http://www.myspace.com/atlassound

 

Por: Cleber Facchi

Talvez aos olhos de quem não conheça Bradford James Cox, seus trabalhos através do Atlas Sound nada mais são do que um mero passatempo, apenas uma possibilidade do músico garantir alguns trocados entre um intervalo e outro de sua principal banda, o Deerhunter. Entretanto, quem há tempos acompanha o trabalho do norte-americano vindo de Athens, Georgia sabe que qualquer mínima composição exaltada pelo excêntrico músico é um motivo mais do que aceitável para concentrarmos toda nossa atenção, afinal, nada do que é proclamado por Cox surge de forma descartável.

O mesmo pensamento vale para seu mais novo álbum, Parallax (2011, 4AD), mais uma sequência da psicodelia esquizofrênica e suja do compositor, que longe de seus companheiros de banda investe em uma sonoridade quase acústica e levemente distanciada das reverberações shoegaze de seu principal projeto. Sempre inserido em um ambiente obscuro, melancólico e intimista, o músico converte seu novo lançamento em uma sequência de composições pesarosas, faixas que passeiam pela mesma desilusão negativista exaltada pelo Deerhunter, mas que aqui ganham uma tonalidade particular e única.

Embora muito do que dite o fluxo das composições exaltadas pelo Deerhunter venha diretamente da cabeça de Cox, com o Atlas Sound todas as regras, formas e versos enaltecidos são criações únicas e diretas do próprio músico. Tudo se volta para ele, com o artista delimitando todos os espaços da obra através de uma fluidez original, uma espécie de retrato do que se passa no subconsciente do músico e que através de seus registros somos amigavelmente convidados a adentrar.

Aos que acompanham o trabalho do norte-americano em carreira solo desde que Let the Blind Lead Those Who Can See but Cannot Feel, seu primeiro disco, foi lançado em fevereiro de 2008, perceberão em Parallax o trabalho mais maduro ou talvez melhor direcionado do artista até o presente momento. Diferente do que delimitava suas anteriores obras, com o novo álbum Bradford consegue proporcionar um acabamento menos caseiro, algo que caracterizava todo o primeiro disco e que aos poucos foi abandonado com a chegada do segundo álbum, Logos, em outubro de 2009.

De certo modo Parallax se materializa como uma espécie de dissidência acústica do que fora propagado pelo Deerhunter em seu último álbum, o completo Halcyon Digest. Ao mesmo tempo em que consegue manter uma limpidez sonora reconfortante, Cox nos circunda com uma soma de sons ambientais e climáticos. Uma fina camada de pequenas projeções atmosféricas que vão da faixa de abertura The Shakes até o fechamento com Quark Part 2. Contudo, oposto do que desenvolve em sua banda, em projeto solo Cox nos conforta pela amenidade de suas criações, algo que se revela tanto na calmaria de Te Amo como na densidade de Doldrums.

Diferente do último álbum, em que contou com a bem explorada presença de Noah Lennox (Panda Bear), Sasha Vine (Sian Alice Group) e Lætitia Sadier (Stereolab), em seu novo álbum o músico surge integralmente solitário, algo que de forma alguma prejudica o bom rendimento do disco. A constante solidão que permeia o disco, com apenas Bradford, alguns violões e parcas guitarras acaba por desenvolver um hermetismo confortável, onde todo e qualquer composição apresentada nos aprisiona de maneira aconchegante.

Parallax (2011, 4AD)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Derrhunter, Avey Tare e Panda Bear
Ouça: Te Amo, Terra Incognita e The Shakes

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.