Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 20/03/2011

Los Hermanos
Brazilian/Indie/Alternative
http://www.myspace.com/loshermanos

Por: Cleber Facchi

O Bloco do Eu Sozinho (2001) é o disco mais importante do rock nacional dos anos 2000. A afirmativa é ambiciosa, um achismo e também uma certeza. De um trabalho de estreia marcado pela mistura de ska e hardcore – capitaneado pelo mega hit Anna Júlia – para uma mudança espantável em seu segundo álbum, os cariocas do Los Hermanos não apenas soltavam o disco mais importante de suas carreiras, mas dariam ao rock tupiniquim a possibilidade de reinvento.

O registro é uma sucessão de acertos. Embora cada uma das 14 faixas que compõem o álbum transitem por um mar de referências instáveis, bebendo desde a MPB, o indie rock dos anos 90 e uma sobriedade melancólica, todas as canções estão coerentemente amarradas. Não mais Marcelo Camelo destacava-se como o grande compositor da banda, mas o aumento no número de faixas criadas por Rodrigo Amarante ajudava de maneira brilhante a edificar o trabalho.

Porém, antes que o disco fosse sequer lançado, uma série de problemas e mudanças na carreira da banda atrapalhariam o trabalho. O primeiro foi a saída do baixista Patrick Laplan, por “divergências musicais”, já o segundo foi o veto da gravadora Abril Music, por achar o álbum ausente de hits e indisposto de qualidades técnicas. Remixado por Marcelo Sussekind (que pouco modificou o trabalho, pelo fato de ter gostado do resultado), o álbum acabou saindo sem o completo apoio da gravadora, vendendo 35 mil cópias, um número minúsculo comparado as 350 mil cópias do álbum anterior.

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A baixa vendagem do disco esconde, porém, uma coleção de pérolas de pura sensibilização, poesia e a habilidade da dupla de letristas em brincar com as palavras. Bloco… é um trabalho sofrido, mas que por mais dolorosos e angustiantes que sejam seus quase 50 minutos é impossível se ver livre dele. Dos versos penosos de Sentimental à aceitação em Assim Será, cada faixa vem talhada com precisão.

A evolução do trabalho não está apenas nas letras sinceras e caprichadas do disco, mas acima de tudo no modo de fazer som. Da sonoridade padronizada do primeiro disco pouco sobreviveu, a banda explora desde uma instrumentação acústica de maneira precisa, como em Mais Uma Canção, até guitarras puramente distorcidas e acopladas de sujeira em Casa Pré-Fabricada.

O álbum acabou servindo como um grande filtro, deixando apenas os fãs realmente fiéis do grupo, assim como lentamente foi agregando novos seguidores. A sucessão de bandas que surgiram inspiradas pela sonoridade do grupo foi categórica, mesmo distantes da mídia e afastados de tudo que os fizesse comerciais, o Los Hermanos crescia de maneira substancial. Embora por caminhos diferentes, o disco tem o mesmo papel que Is This It (2001) do The Strokes teve lá fora e não vergonha nenhuma em assumir isso.

Bloco do Eu Sozinho (2001)

Nota: 10.0
Para quem gosta de: Little Joy, Marcelo Camelo e Móveis Coloniais de Acaju
Ouça: Retrato Pra Iaiá

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.