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Crítica

100 gecs

: "10,000 gecs"

Ano: 2023

Selo: Dog Show / Atlantic

Gênero: Hyperpop, Pop Punk, Noise Pop

Para quem gosta de: Black Dresses e SOPHIE

Ouça: Doritos & Fritos e Hollywood Baby

7.8
7.8

100 gecs: “10,000 gecs”

Ano: 2023

Selo: Dog Show / Atlantic

Gênero: Hyperpop, Pop Punk, Noise Pop

Para quem gosta de: Black Dresses e SOPHIE

Ouça: Doritos & Fritos e Hollywood Baby

/ Por: Cleber Facchi 24/03/2023

Nos últimos anos, a relação com o som produzido entre o final da década de 1990 e início dos anos 2000 não apenas se intensificou, como tem servido de inspiração para uma série de obras vindas dos mais variados campos da música. De Olivia Rodrigo à Rina Sawayama, de Paramore a Soccer Mommy, sobram artistas que têm encontrado nessa relação nostálgica com o material produzido há mais de duas décadas uma importante fonte de inspiração. Entretanto, poucos parecem fazer isso de maneira tão eficiente, atualizada e completamente caótica quanto a dupla formada por Dylan Brady e Laura Les no 100 gecs.

Responsáveis por uma das estreias mais barulhentas e originais da música recente, 1000 gecs (2019), a dupla original de St. Louis, no Missouri, continua a testar os limites da própria obra com o lançamento do segundo e mais novo trabalho de estúdio da carreira, 10,000 gecs (2023, Dog Show / Atlantic). Como o título do registro logo aponta, trata-se de uma expansão natural do repertório entregue há quatro anos. Uma ruidosa combinação de elementos, ritmos e vozes sempre carregadas de efeitos que ora confessam algumas das principais influências da banda, ora evidenciam a identidade artística dos dois parceiros.

Inaugurado pela marca sonora da THX, normalmente empregada na introdução de filmes, sistemas de som e jogos, 10,000 gecs sinaliza que um novo espetáculo vai começar. Com Dumbest Girl Alive como música de abertura, Brady e Les não apenas arremessam o público para dentro do disco, como ampliam tudo aquilo que foi apresentado no trabalho anterior. Do uso destacado das guitarras e batidas, passando pelas vozes maquiadas pelo auto-tune, tudo parece pensado para ambientar o ouvinte. A própria letra da composição, marcada pelo consumo excessivo de drogas, reflexões sobre gênero e cultura de internet funciona como uma síntese conceitual do repertório que mais uma vez alterna entre o cinismo, a crítica e o bom humor.

São composições trabalhadas como um amontoado de ideias tortas. Um delirante exercício criativo que talvez ecoe de forma amadora para os ouvidos mais conservadores, mas que a todo momento reforça o brilhantismo da dupla em incorporar e perverter os maiores absurdos da música pop. Da interpretação caricatural do nu metal, em Billy Knows Jamie, passando pelo flerte com o ska, na derradeira mememe, Brady e Les demonstram ser verdadeiros especialistas em incorporar o que foi rotulado como “gosto duvidoso” nas últimas décadas e fazer disso a base para um repertório difícil de ser ignorado pelo ouvinte.

Embora evidencie o domínio criativo da dupla em relação ao próprio trabalho, 10,000 gecs, assim como o registro que o antecede, é uma obra que não se permite ser levada a sério. E isso fica bastante evidente em grande parte das letras detalhadas pelos dois artistas. Em Frog On The Floor, por exemplo, Brady ironiza os temas existenciais típicos das composições emo dos anos 2000 para refletir sobre o mundano, ainda que misterioso, aparecimento de um sapo. Já I Got My Tooth Removed, a simples extração de um dente é combustível suficiente para uma faixa que vai de uma balada romântica da década de 1980 ao ska-punk.

Nada que prejudique a construção de faixas capazes de evidenciar o amadurecimento técnico e esforço da dupla em testar os próprios limites dentro de estúdio. Do noise pop alucinante de Hollywood Baby, canção que evoca os primeiros trabalhos do Sleigh Bells, passando pelo pop punk de Doritos & Fritos, música que soa como um encontro entre No Doubt e The Offspring, perceba como Brady e Les incorporam décadas de referências de forma a estimular um repertório marcado pelo frescor e imprevisibilidade dos elementos. O típico caso de uma obra que poderia se perder nas mãos de outros artistas, mas que funciona para o 100 gecs.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.