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Crítica

Caroline Polachek

: "Desire, I Want To Turn Into You"

Ano: 2023

Selo: Perpetual Novice

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Charli XCX e Weyes Blood

Ouça: Welcome To My Island e Bunny Is a Rider

9.0
9.0

Caroline Polachek: “Desire, I Want To Turn Into You”

Ano: 2023

Selo: Perpetual Novice

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Charli XCX e Weyes Blood

Ouça: Welcome To My Island e Bunny Is a Rider

/ Por: Cleber Facchi 20/02/2023

Embora tratada como iniciante por aqueles que descobriram seu trabalho no lançamento de Pang (2019) ou mesmo durante a turnê de divulgação de Future Nostalgia (2020), Caroline Polachek está longe de parecer uma novata. Perto de completar duas décadas de carreira, a cantora, compositora e produtora norte-americana acumula três ótimos registros com a extinta banda ChairliftDoes You Inspire You (2008), Something (2012) e Moth (2016) –, um álbum com sob o pseudônimo de Ramona Lisa, Arcadia (2014), o experimental Drawing the Target Around the Arrow (2017), lançado com o nome de CEP, além de boas colaborações com Beyoncé, Charli XCX, Flume e Christine and The Queens. Um vasto e invejável currículo que parece desembocar no fino repertório de Desire, I Want To Turn Into You (2023, Perpetual Novice).

Segundo e mais recente trabalho de estúdio da artista em carreira solo, o registro de doze faixas soa como um acumulo natural do que há de mais provocativo no som produzido por Polachek. São composições que estreitam relações com diferentes colaboradores, estilos e tendências, porém, de forma pouco usual, tencionando os limites do pop tradicional. Da música flamenca ao colorido tropical que serve de base para Sunset, passando pela gaita de fole às guitarras que surgem de maneira nada discreta em Blood and Butter, cada fragmento parece pensado e encaixado pela artista para brincar com a interpretação do ouvinte.

Com a já conhecida Welcome To My Island como composição de abertura, a cantora faz do registro a passagem para um mundo totalmente particular, a ser desvendado pelo ouvinte. “Bem-vindo à minha ilha / Espero que você goste de mim, você não sairá daqui“, alerta. E é difícil querer sair. Rodeada por diferentes parceiros criativos, como Danny L Harle, A. G. Cook, Dan Nigro, Ariel Rechtshaid e Jim E-Stack, Polachek mergulha de cabeça nas próprias inquietações, traumas e sentimentos enquanto brinca com a combinação de elementos e estruturas rítmicas. Um misto de resgate e permanente desconstrução, conceito que se reflete até os minutos finais do trabalho, em Billions, música em que fragmenta e atualiza de forma quase transcendental o mesmo pop contemplativo testado por Kate Bush no delicado The Sensual World (1989).

É como se cada faixa começasse e terminasse de um jeito inesperado, orientando de maneira incerta a experiência do ouvinte. E isso fica bastante evidente em Bunny Is a Rider. Mesmo revelada pela cantora há quase dois anos, a canção ganha novo significado e cresce substancialmente quando próxima de outras composições que recheiam o disco. Pouco mais de três minutos em que Polachek parte de um pop minimalista para brincar com o uso dos sintetizadores, sopros, vozes sempre carregadas de efeitos, assobios e batidas. Um lento, porém, permanente desvendar de informações, conceito que se reflete em outros momentos ao longo da obra, como na crescente Pretty Is Possible, música que evoca Suzanne Vega.

Embora marcado pelo precioso cruzamento de informações, reforçando a versatilidade de Polachek em estúdio, Desire, I Want To Turn Into You em nenhum momento soa como uma obra consumida pelos excessos. Da escolha dos timbres ao minucioso uso dos vocais, sempre tratados como um instrumento complementar, tudo gira em torno de um mesmo conjunto de elementos. Exemplo disso acontece em Fly To You, música em que colabora com Grimes e Dido, flerta com o drum and bass, porém, sustenta no dedilhado acústico que corre ao fundo da canção um elemento de diálogo com o restante do trabalho.

Dessa forma, Polachek garante ao público um repertório que talvez se perdesse nas mãos de um artista iniciante, mas que parece brilhantemente orquestrado durante toda sua execução. Mesmo que algumas composições utilizem de uma abordagem tão particular que beiram o inacessível, como na atmosférica Crude Drawing of an Angel, prevalece o esforço em atrair a atenção do ouvinte logo em uma primeira audição. Canções que transitam por entre estilos e confessam referências, mas em nenhum momento mascaram a identidade criativa e capacidade da cantora em testar os próprios limites dentro de estúdio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.