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Crítica

Clairo

: "Sling"

Ano: 2021

Selo: Fader / Republic

Gênero: Pop Rock, Pop, Bedroom Pop

Para quem gosta de: Cuco, Girl in Red e Claud

Ouça: Blouse e Joanie

7.5
7.5

Clairo: “Sling”

Ano: 2021

Selo: Fader / Republic

Gênero: Pop Rock, Pop, Bedroom Pop

Para quem gosta de: Cuco, Girl in Red e Claud

Ouça: Blouse e Joanie

/ Por: Cleber Facchi 21/07/2021

O acolhimento explícito na imagem de capa de Sling (2021, Fader / Republic), segundo e mais recente álbum de estúdio de Clairo, funciona como uma clara representação de tudo aquilo que a cantora e compositora norte-americana busca desenvolver ao longo do trabalho. Nada urgente em relação ao material entregue no disco anterior, Immunity (2019), o registro de essência atmosférica estabelece no completo reducionismo dos elementos o estímulo para a construção dos versos. São fragmentos sentimentais, confissões e momentos de maior vulnerabilidade, conceito que rompe com a lógica descompromissada que marca as primeiras composições da artista, como Flaming Hot Cheetos e Pretty Girl, e ainda serve de passagem para a formação de um novo e delicado território criativo.

Para mim, esse álbum é uma coleção de sentimentos que nunca me permiti explorar. Está cheio de tópicos e experiências que foram muito emocionais ou intensas para desvendar. Maternidade, sexualização, saúde mental e muitos dos meus próprios erros e arrependimentos“, comentou no texto de apresentação do trabalho. E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos do registro, em Bambi. “Eu não gosto de chorar antes de saber o porquê / Mas, honestamente, eu posso“, confessa. São versos sempre intimistas, honestos, como um produto das experiências e conflitos vividos pela cantora nos últimos anos, principalmente cobranças relacionadas ao acesso facilitado às gravadoras por conta de contatos do próprio pai, Geoff Cottrill, marqueteiro que esteve envolvido com uma série de marcas importantes, inclusive, o MusiCares, grupo filantrópico relacionado ao prêmio Grammy.

Entretanto, contrariando outros nomes recentes, como Olivia Rodrigo e Billie Eilish, infladas pelo investimento de grandes gravadoras, Clairo segue uma trilha particular. Salve exceções, como a cantarolável Amoeba, pouco do material apresentado em Sling parece pensado para atrair com o grande público. É como se a cantora se distanciasse cada vez mais do repertório acessível que embala o álbum anterior, vide músicas como Bags e Closer to You. O resultado desse processo está na entrega de uma obra genuinamente autoral. Canções em que a artista norte-americana utiliza do próprio recolhimento como importante componente de diálogo com o ouvinte, proposta que se reflete não apenas na construção dos versos, mas no uso calculado de cada fragmento instrumental.

Não por acaso, Clairo decidiu colaborar em estúdio com Jack Antonoff. Conhecido pelo trabalho como produtor de obras recentes como Chemtrails Over The Country Club (2021), de Lana del Rey, e Folklore (2020), de Taylor Swift, o multi-instrumentista parece a escolha perfeita para potencializar as vozes e sentimentos expressos pela cantora ao longo do registro. E isso fica bastante evidente em músicas como a já conhecida Blouse. Enquanto os versos evidenciam a completa vulnerabilidade da artista – “Por que eu te digo como me sinto? / Quando você está muito ocupado olhando para minha blusa” –, arranjos econômicos se revelam ao público em uma medida própria de tempo, conceito reforçado de forma ainda mais detalhista na instrumental Joanie, nona faixa do disco.

Se por um lado a relação com Antonoff contribui para o maior refinamento das melodias e uso destacado dos vocais, mesmo quando sussurrados, por outro, evidencia um dos pontos críticos da obra: a ausência de ritmo. Do momento em que tem início, na já citada Bambi, tudo gira em torno de um limitado conjunto de ideias que vai da movimentação contida dos pianos às harmonias de vozes, sempre serenas. Faltam contrastes ou possíveis quebras que distanciem o ouvinte da ambientação morosa que consume parte expressiva do disco, principalmente na segunda metade, quando várias composições se confundem estruturalmente. E isso fica ainda mais evidente quando voltamos os ouvidos para o álbum anterior, onde, além da produção dinâmica de Rostam Batmanglij, Clairo utiliza dos estudos de bateria e interferência direta de Danielle Haim em diferentes canções.

E isso faz de Sling uma obra menor? De forma alguma. Como indicado desde a música de abertura, o grande mérito de Clairo está no fortalecimento dos versos e profunda entrega sentimental da cantora. Canções que preservam tudo aquilo que a artista havia testado durante o lançamento do disco anterior, porém, mergulhadas em conflitos existencialistas e letras que evidenciam a transição da compositora para a vida adulta. O problema é que esse evidente desequilíbrio no andamento do álbum e pequenos desajustes impedem a formação de um registro que poderia ser ainda maior e mais impactante. Frações instrumentais e poéticas que evidenciam o amadurecimento artístico e emocional da musicista, mas que em nenhum momento ultrapassam um limitado cercado conceitual.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.