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Crítica

N.I.N.A

: "Para Todos Os Garotos Que Já Mamei"

Ano: 2023

Selo: Pineapple Storm

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Tássia Reis e Duquesa

Ouça: Faz Assim, Karma e Prece

7.8
7.8

N.I.N.A: “Para Todos Os Garotos Que Já Mamei”

Ano: 2023

Selo: Pineapple Storm

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Tássia Reis e Duquesa

Ouça: Faz Assim, Karma e Prece

/ Por: Cleber Facchi 06/09/2023

Depois de ser oficialmente apresentada durante o lançamento de Pele (2022), Anna Ruth Ferreira, a N.I.N.A, regressa de forma ainda mais provocativa com a chegada de Para Todos Os Garotos Que Já Mamei (2023, Pineapple Storm). Sequência ao material entregue há poucos meses, o novo álbum diz a que veio logo na introdutória Faz Assim. “Preto, você me revira inteira / Quero foder de sábado à sexta-feira / Sei que tu ama socar minha buceta / doze horas e o nosso corpo incendeia“, confessa a artista em meio a batidas e bases cuidadosamente encaixadas por Matheus Terra, com quem havia colaborado no registro anterior. Pouco mais de três minutos em que o ouvinte é convidado a se perder em um território marcado pelas sensações.

Menos explícita, porém, tão interessante quanto a faixa que a antecede, Ferve, vinda logo em sequência, reforça esse direcionamento adotado por N.I.N.A. Diferente do material entregue no lançamento anterior, a nova música reforça a relação da artista com o R&B, rompendo com o drill/grime que marca as primeiras criações da artista em estúdio. Enquanto os versos destacam a sensibilidade da cantora (“Quatro paredes isso é tão nosso / Você suspira e eu te devoro / Djavan tem inveja por que eu posso“), batidas e guitarras labirínticas avançam em uma medida própria de tempo, reforçando a atmosfera sedutora da composição.

É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais interessante com a chegada da posterior Prece. Regida pelo uso sempre calculado das batidas e um violão latino que faz lembrar as criações de Kehlani, a composição tanto reflete a vulnerabilidade de N.I.N.A (“Não dá pra disfarçar / 40 graus de febre / Dá pra ver no teu olhar / Teu corpo pede“), como ainda abre passagem para os versos detalhados pelo convidado, o rapper Baco Exu Do Blues. “Eu to na sua / Todos por perto / Tem a certeza /Você tá com o cara o certo“, rima enquanto busca replicar a mesma suavidade expressa no ainda recente QVVJFA? (2022).

Passado esse momento de maior calmaria e doce romantismo, Despedidas traz de volta parte das angústias incorporadas ao último trabalho de estúdio da artista. Do tratamento dado às batidas, sempre em destaque, passando pelas rimas compartilhadas com o rapper Sant, tudo soa como um aceno para o material entregue no lançamento anterior, porém, mirando em novas temáticas. “Buscando maneiras de seguir a minha vida / Percorro estradas te caçando em cada esquina / Tento te odiar, mas no fim amo mais ainda“, confessa enquanto prepara o terreno para o que talvez seja uma das principais faixas do registro, Karma.

Completa pela participação de MC Luanna, a faixa chama a atenção pela narrativa que destaca o diálogo entre duas ex-amigas e uma história de traição. “Castigo pra puta pra mim é colírio / Amor, você decidiu viver isso“, dispara a convidada que logo recebe sua resposta: “Tudo isso por que essa noite eu fiz teu marido? / Enquanto cê falava que não queria ele te enrolando e fudendo comigo / E eu lá tenho culpa dele dar perdido?“. Tudo é trabalho de forma tão bem sucedida pela dupla que Porrada De Balinha, vinda em sequência, quase passa despercebida frente ao minucioso cruzamento de rimas da canção que a antecede.

Embora esquecível, a parceria com Yure IDD e Thiago Pantaleão assume a função de estimular o diálogo da carioca com o pop, direcionamento reforçado com a chegada da canção de encerramento do disco, Teve Uma Garota. Talvez deslocada do restante da obra, o encontro com Ruxell destaca a versatilidade da artista em estúdio, lembrando o mesmo synthpop explorado por The Weeknd em Dawn FM (2022). É como se N.I.N.A abrisse passagem para um universo de novas possibilidades. Uma criativa combinação de ideias, diferentes ritmos e referências, mas que em nenhum momento rompe totalmente com o próprio passado.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.