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Crítica

Superchunk

: "Wild Loneliness"

Ano: 2022

Selo: Merge

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Guided by Voices e Dinosaur Jr.

Ouça: Endless Summer e On the Floor

7.8
7.8

Superchunk: “Wild Loneliness”

Ano: 2022

Selo: Merge

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Guided by Voices e Dinosaur Jr.

Ouça: Endless Summer e On the Floor

/ Por: Cleber Facchi 04/03/2022

Em um intervalo de poucos meses, alguns dos nomes mais interessantes da cena alternativa dos Estados Unidos presentearam o público com uma seleção de obras inéditas. Do som granulado de Hey What (2021), último disco do Low, passando pela urgência de Lucifer on the Sofa (2022), mais recente álbum de estúdio do Spoon, sobram registros significativos assinados por veteranos do gênero. Parte importante dessa frente de artistas que moldaram a estética dos anos 1990, Superchunk, grupo original de Chapel Hill, na Carolina do Norte, está de volta com mais um novo e bem-sucedido lançamento, Wild Loneliness (2022, Merge).

Sequência ao material entregue em What a Time to Be Alive (2018), o trabalho de dez faixas utiliza de uma abordagem completamente distinta em relação ao álbum que o antecede. Enquanto o disco lançado há quatro anos indicava a crueza do grupo formado por Mac McCaughan (voz, guitarra), Laura Ballance (baixo), Jim Wilbur (guitarra) e Jon Wurster (bateria), Wild Loneliness encanta pelo refinamento dado aos arranjos e busca do quarteto em estreitar a relação com diferentes colaboradores dentro de estúdio, vide a presença de nomes como Sharon Van Etten, Mike Mills (R.E.M.) e Tracyanne Campbell (Camera Obscura).

Parte desse resultado vem do esforço do grupo em fazer de Wild Loneliness uma obra sobre o período de isolamento vivido durante a pandemia de Covid-19, porém, livre do aspecto reducionista de outros registros do gênero. É como um campo aberto às possibilidades e reencontros que contrastam com a sobriedade dos versos. “Refaça o mundo quando o antigo morrer / Cubra a boca e abra os olhos / Construa suas pirâmides altas e suas avenidas largas / Porque a sua sujeira colonial não pode fertilizar“, cresce a letra da introdutória City of the Dead, música que sintetiza parte dos conceitos explorados pela banda.

Sobrevive justamente nessa estrutura contrastante o principal componente criativo para o fortalecimento da obra. São canções marcadas pelo evidente esmero dado aos arranjos e uso de melodias cantaroláveis, como se pensadas para grudar na cabeça do ouvinte, porém, pontuadas por momentos de maior tensão e versos sempre questionadores. Exemplo disso fica bastante evidente na já conhecida This Night, composição adornada pelos arranjos de cordas de Owen Pallett, porém, marcada pela letra que discute o retrocesso vivido pela população estadunidense durante os quatro anos de governo de Donald Trump.

São reflexões, muitas vezes amargas, sobre o atual cenário político e cultural, como um mergulho na mente de McCaughan, músico que lançou há poucos meses um novo álbum em carreira solo, The Sound of Yourself (2021), marcado pela utilização de temas bastante similares. A diferença está na forma como o artista amplia o próprio campo de atuação, revelando ao público uma seleção de faixas que mesmo pessimistas e densas, ecoam de forma sempre acessível. Composições como a cantarolável Endless Summer, On The Floor e a própria faixa-título do disco, música que cresce no inusitado uso de metais.

Tamanha convergência de ideias e atenção dada aos versos faz de Wild Loneliness um novo e precioso capítulo na discografia do Superchunk. Desde o retorno do grupo, com Majesty Shredding (2010), obra que deu fim ao hiato de quase dez anos longe dos estúdios, cada registro parece transportar o ouvinte para um território parcialmente distinto. São canções que preservam a urgência de What a Time to Be Alive, porém, marcadas pelo acabamento primoroso e temas que dialogam com o presente, como um produto natural do nosso tempo e das experiências vividas pelos próprios integrantes desde a entrega do álbum anterior.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.