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Crítica

Tuyo

: "Chegamos Sozinhos Em Casa, Vol. 2"

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: R&B, Soul, Pop

Para quem gosta de: Mahmundi e Bruna Mendez

Ouça: Tem Dias e Fracasso

7.5
7.5

Tuyo: “Chegamos Sozinhos Em Casa, Vol. 2”

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: R&B, Soul, Pop

Para quem gosta de: Mahmundi e Bruna Mendez

Ouça: Tem Dias e Fracasso

/ Por: Cleber Facchi 16/08/2021

Os sentimentos expressos em Chegamos Sozinhos Em Casa (2021), segundo álbum de estúdio da Tuyo, continuam a reverberar. Poucos meses após o lançamento da obra que revelou preciosidades como O Jeito é Ir Embora e Sem Mentir, o grupo curitibano entrega ao público a metade seguinte do registro. São oito composições em que as irmãs Lio e Lay Soares e Jean Machado passeiam em meio a conflitos sentimentais, histórias de fracasso e momentos de maior vulnerabilidade, conceito que tem sido explorado desde o amadurecimento artístico expresso nas canções de Pra Curar (2018), de onde vieram faixas como Vidaloca e Terminal, mas que buscam por diferentes possibilidades a cada novo movimento ou mínimo entalhe poético que parece trabalhado de forma a confortar o ouvinte.

E isso fica bastante evidente na introdutória Do Lado de Dentro. Mesmo regida pela habitual melancolia que orienta as criações do trio, a faixa sustenta na letra um momento de doce entrega sentimental. “Você me encontra do lado de dentro / E a gente se ama / E não desiste mais“, confessa. Nada que a composição seguinte, Fracasso, não dê conta de derrubar. Naturalmente íntima de tudo aquilo que a banda tem produzido desde o introdutório Pra Doer (2017), a parceria com Lenine encontra no peso da memória um ingrediente importante, potencializando a forte carga emocional presente nos versos. “Todo fracasso é pra sempre / Toda memória humilhante“, repete a letra da canção, como um anti-mantra, direcionamento que se completa pelo uso fragmentado das batidas.

Essa mesma sensação de sufocamento causada pelo peso da memória fica bastante evidente na composição seguinte, Saudade Impura. Embora excessivamente próxima dos temas instrumentais detalhados no primeiro volume de Chegamos Sozinhos Em Casa, a canção carrega nas vozes e versos assumidos por Machado um dos momentos mais dolorosos do trabalho. “Correndo atrás de alguma companhia / É injusto Sentir / Sua falta / E ver você pedindo por alguém bem nos últimos dias“, desaba. Interessante perceber na música seguinte, Tem Dias, parceria com Drik Barbosa, uma fuga desse resultado. Do uso das vozes ao encaixe das batidas, poucas vezes antes o som produzido pela Tuyo pareceu tão acessível, capaz de dialogar com uma parcela ainda maior do público.

Com a canção seguinte, Turvo, o grupo segue de onde parou no disco anterior, porém, sustenta na latinidade impressa nas batidas um curioso ponto de renovação. São sobreposições econômicas, mas não menos detalhistas, estrutura que se completa pelas vozes etéreas que embalam a experiência do ouvinte até o último segundo. É como um respiro breve que antecede a forte carga emocional explícita em Hoje Eu Quero Chorar. Típica criação do trio curitibano, a composição cresce em meio a texturas eletroacústicos, vozes onduladas e momentos de breve silenciamento, como um estímulo para a formação dos versos, sempre impactantes, feitos para emocionar. “Hoje eu quero chorar / Hoje eu quero dormir com medo / Que é pra me machucar / Por a culpa em outra coisa“, canta.

Intensa, a composição não apenas sintetiza a potência das vozes e sentimentos expressos por Lio ao longo do trabalho, como quase acaba engolindo música seguinte. Faixa-título do álbum, a canção assumida por Machado parte de uma base reducionista e atmosférica, porém, cresce à medida em que o artista desenvolve os versos. “Desde cedo eu aprendi / Que o soco vem antes do perdão / E apanhando eu entendi / Nunca mais te entregar meu coração“, confessa em meio a ambientações e batidas sempre calculadas, produto da parceria e abordagem minuciosa de Bruno Giorgi e Gianlucca Azevedo (Fresno, Jean Tassy), esse último, produtor e parceiro de longa data do trio paranaense.

Escolhida para o encerramento do trabalho, Pouco Espaço repete o exercício criativo proposto na composição de fechamento do álbum anterior, Toda Vez Que Eu Chego Em Casa, com uma letra econômica e pianos de Jonathan Ferr, porém, partindo de uma abordagem completamente diferente. São batidas e bases cíclicas, sempre incrementadas pelo acabamento eletrônico, estrutura que se completa pela participação de Shuna, uma das metades do Yoùn. Instantes em que o grupo condensa ideias, recicla e resgata elementos originalmente testados na porção inicial de Chegamos Sozinhos Em Casa, como um reforço ao conceito da obra fatiada em dois atos distintos, mas que se completam.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.