Image
Crítica

Jean Tassy

: "Amanhã"

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Hip-Hop, R&B, Neo Soul

Para quem gosta de: Tassia Reis, NiLL e Fabriccio

Ouça: Não Desanimei, +1 Minuto e Hoje à Noite

7.5
7.5

Jean Tassy: “Amanhã”

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Hip-Hop, R&B, Neo Soul

Para quem gosta de: Tassia Reis, NiLL e Fabriccio

Ouça: Não Desanimei, +1 Minuto e Hoje à Noite

/ Por: Cleber Facchi 27/04/2021

Mesmo regido pelo título de “amanhã”, a estreia de Jean Tassy é um trabalho sobre o hoje. Da construção das batidas, cuidadosamente encaixadas pelo produtor Iuri Rio Branco, passando pela escolha dos temas e colaboradores que invadem o disco, cada elemento do álbum parece incorporar o que há de mais fresco no novo R&B, riqueza que se reflete do primeiro ao último segundo da obra. São canções que atravessam as pistas, utilizam de narrativas noturnas, romances e momentos de doce melancolia como estímulo para a formação dos versos. Instantes em que o artista original de Brasília traz de volta tudo aquilo que tem sido incorporado em uma série de composições apresentadas nos últimos anos, porém, partindo de uma abordagem deliciosamente refinada.

Não por acaso, Cadê Nosso Sol? foi a música escolhida para inaugurar o disco. Do uso versátil das vozes e versos que parecem acompanhar a fluidez das batidas, passando pelo costura atmosférica dos sintetizadores, cada elemento da canção funciona como uma síntese conceitual de tudo aquilo que o rapper e o parceiro de produção buscam desenvolver até a chegada da derradeira Test Drive. São inserções pontuais, por vezes minimalistas, estrutura que naturalmente potencializa os sentimentos e histórias detalhadas por Tassy. Composições que parecem apontar para a obra de estrangeiros, como Khalid e Daniel Caesar, mas que a todo momento regressam ao território brasileiro, efeito direto da colorida sobreposição dos ritmos que garante maior riqueza e vívida identidade ao trabalho.

E isso fica bastante evidente em Fuga, canção que vai do R&B ao pagode romântico em uma linguagem que muito se assemelha ao som produzido por nomes como ÀTTØØXXÁ e Afrocidade. Mesmo a atmosférica O Que Liberta, com suas ambientações jazzísticas, encanta pelo uso batidas que parecem mergulhara na produção eletrônica dos anos 1990. Nada que se compare ao material entregue em +1 Minuto, composição que flerta para o mesmo pop latino de artistas como Bad Bunny e Kali Uchis, mas que cresce na voz e interferência direta de Marina Sena, ex-integrante do Rosa Neon. “Falei o que vou fazer contigo / To sabendo que sonhou comigo / Tá querendo / E vou rebolar na sua cara“, provoca em um misto de canto e rima que funciona com um contraponto à voz de Tassy.

São justamente essas interferências pontuais que garantem maior destaque e profundidade à obra. Exemplo disso acontece em Hoje à Noite. Bem-sucedido encontro com o rapper Fleezus, a canção parte dos sintetizadores e temas eletrônicos lançados pelo produtor, porém, ganha ainda mais destaque nas rimas assinadas pelo convidado. A própria Não Desanimei, mesmo assumida integralmente pelas rimas de Tassy chama a atenção pela co-produção de Gianlucca Azevedo, artista que já colaborou com Tuyo e Bruna Mendez. Até Marina Sena, parceira na já citada +1 Minuto, volta minutos à frente, na acelerada Sem Coração, outro importante registro do trabalho. Frações poéticas, rítmicas e melódicas que surgem e desaparecem durante toda a execução do álbum.

Mesmo quando desfila solitário pelo interior do registro, como em Perdeu a Chance e Se Eu Vou Lá, Tassy mantém a boa forma. É como se o artista incorporasse parte expressiva dos elementos testados em obras como Ontem EP (2018) e Hoje EP (2020), ambos em parceria com Iuri Rio Branco, porém, de forma ainda mais polida a acessível. Do tratamento dado aos vocais, passando pelo uso certeiro das batidas e melodias, tudo parece pensado para capturar a atenção do ouvinte logo em uma primeira audição. Claro que isso não exime o trabalho de alguns excessos, principalmente no bloco final do álbum. São canções como Desarrumar o Sol e as colaborativas Viver e Test Drive, que pouco contribuem para o fortalecimento do disco ou que repetem ideias previamente testadas em outras composições.

Típico caso de uma obra que você ouve com um sorriso estampado na cara, Amanhã concentra o que há demais interessante na novíssima safra do R&B produzido no país, porém, longe do hermetismo, quebras e fórmulas complexas de outros projetos do gênero, vide a abordagem usada por nomes como 1LUM3 e Tuyo. Do momento em que tem início, na introdutória Cadê Nosso Sol?, passando pela construção de músicas como Não Desanimei, +1 Minuto e Hoje à Noite, difícil não se deixar guiar pelas criações apresentada pelo artista. Canções que buscam inspiração em vivências e acontecimentos essencialmente simples do cotidiano, mas não menos expressivos, leveza que embala a experiência do ouvinte mesmo nos momentos de maior instabilidade do registro.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.