Image
Crítica

Tuyo

: "Paisagem"

Ano: 2024

Selo: BMG

Gênero: R&B, Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: Mahmundi e Luedji Luna

Ouça: Paisagem, Me Distrai e Apazigua

7.7
7.7

Tuyo: “Paisagem”

Ano: 2024

Selo: BMG

Gênero: R&B, Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: Mahmundi e Luedji Luna

Ouça: Paisagem, Me Distrai e Apazigua

/ Por: Cleber Facchi 15/04/2024

Nas mãos erradas, Paisagem (2024, BMG) é um trabalho que dificilmente daria certo. Em um intervalo de poucos minutos, incontáveis variações rítmicas se entrelaçam em uma abordagem que parte do R&B, mas em nenhum momento busca conforto em um gênero específico. Composições que alternam entre o canto e a rima, detalham experimentações sutis com a música eletrônica e ainda usam de elementos orquestrais. O princípio de uma verdadeira confusão estética, mas que dá muito certo nas mãos dos integrantes da Tuyo.

Tendo no uso quase instrumental das vozes um precioso elemento de amarra, as irmãs Lio e Lay Soares e o músico Jean Machado se aventuram na construção de um repertório essencialmente diverso, mas que em nenhum momento rompe com o que parece ser um limite pré-estabelecido pelo trio. São composições que deixam de lado parte do acabamento acústico que marca os primeiros registros autorais, como Pra Curar (2018), destacando o uso dos sintetizadores, batidas e demais componentes voltados à produção eletrônica.

Claro que essa busca por uma sonoridade menos orgânica, conceito iniciado já no antecessor Chegamos Sozinhos Em Casa (2021), em nada diminui o que talvez seja o principal componente criativo na obra do trio paranaense: a força dos sentimentos. Em geral, são canções que tratam sobre mudanças tão pessoais quanto físicas, proposta que esbarra em algumas repetições temáticas quando pensamos em criações como O Jeito É Ir Embora, do disco anterior, porém, partindo de um novo direcionamento sonoro e poético.

A cidade desapropriou meu sentimento / Não é todo dia que a gente sai de casa pra falar de dor / Me mudei pra libertar o meu coração“, cresce a letra de Apazigua, música que se engrandece pelos arranjos de Arthur Verocai, evidencia no amadurecimento lírico uma síntese poética do restante da obra, mas em nenhum momento perder o brilho de uma típica canção pop. E isso se reflete durante toda a execução do trabalho. Faixas que mesmo marcadas pela densidade dos temas, nunca deixam de parecer acessíveis.

A própria estrutura adotada ao longo do trabalho parece contribuir para esse resultado. Com exceção da sequência de fechamento, quando o clima pesa e o ritmo do registro diminui consideravelmente, evidente é o esforço do trio em equilibrar momentos de maior melancolia com faixas que surgem como verdadeiros exercícios de libertação. Exemplo disso fica bastante explícito na contrastante combinação entre a soturna Dentro Dessa Noite e Infinita, música que destaca o lado radiante e potência criativa do grupo paranaense.

Essa mesma riqueza de ideias acaba se refletindo nos encontros pontuais que surgem ao longo do álbum, como as rimas de Joca, na introdutória Devagar, e a voz forte de Luedji Luna, engrandecendo os versos da própria canção-título. São atravessamentos sutis, por vezes discretos, vide a produção que se abre para nomes como Lucs Romero, JLZ e VHOOR, porém, essenciais para o direcionamento exploratório que vai da construção das faixas à colorida imagem de capa, com o trio partindo em busca de novas possibilidades.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.