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Crítica

Zopelar

: "Charme"

Ano: 2022

Selo: Tartelet Records

Gênero: Eletrônica, Funk

Para quem gosta de: Carlos do Complexo e Guerrinha

Ouça: Charme e Shibuya

8.0
8.0

Zopelar: “Charme”

Ano: 2022

Selo: Tartelet Records

Gênero: Eletrônica, Funk

Para quem gosta de: Carlos do Complexo e Guerrinha

Ouça: Charme e Shibuya

/ Por: Cleber Facchi 30/11/2022

Charme (2022, Tartelet Records), como tudo aquilo que Pedro Zopelar tem produzido em carreira solo, é uma obra feita para causar sensações. Deliciosamente nostálgico e autoral na mesma proporção, o registro de dez faixas soa como uma viagem em direção ao passado. Entre diálogos com a música produzida no Rio de Janeiro no final da década de 1980, o artista paulistano garante ao público um registro que se revela em pequenas doses, sempre misterioso e contido, mas não menos interessante. Composições que funcionam como uma extensão natural do material entregue nos antecessores Universo (2021) e Mensagem (2021).

Com Clara como música de abertura, o produtor que já trabalhou com nomes como L’Homme Statue e Teto Preto, indica parte dos temas que serão explorados ao longo da obra. São camadas de sintetizadores, melodias enevoadas e batidas sempre calculadas, como uma interpretação atmosférica do estilo batizado por DJ Corello há quatro décadas. Composições que mais parecem ocultar do que necessariamente revelar informações, direcionamento reforçado na música seguinte, Shibuya, com sua ambientações e bases orientais que vão de encontro ao mesmo território criativo explorado por diferentes nomes do city pop.

E essa abordagem contida permanece evidente durante toda a primeira metade do disco. Mesmo quando utiliza de um direcionamento dançante, como em Festa, prevalece o reducionismo dos elementos e busca de Zopelar por um material que parece pensado para envolver o ouvinte. A própria Chain Net, com bateria assinada por OSAGIE, reforça a sutileza do produtor paulistano. São pouco menos de cinco minutos em que somos convidados a mergulhar em um verdadeiro labirinto de sensações, estrutura que vai da linha de baixo sintetizada ao uso de pequenos acréscimos e melodias que borbulham em momentos estratégicos.

Passada a breve aceleração em Virgo, Zopelar faz da faixa-título um ponto de transição para a segunda metade do trabalho. Pronta para as pistas, a canção destaca o uso das batidas e sintetizadores quase festivos. Instantes em que o artista parece dialogar com as criações de Todd Terje, em It’s Album Time (2014), porém, preservando a própria identidade. O mesmo acontece na canção seguinte, a crescente Passado. Com um pé na deep house, a composição segue a trilha nostálgica do restante da obra de forma bastante particular, efeito direto da pulsação que orienta o uso dos teclados e bases sempre dançantes.

Depois de tamanha euforia, Zopelar mais uma vez regressa ao uso temas atmosféricos, ponto de partida para o material entregue em Born Again. São inserções sutis, por vezes melancólicas, proposta que faz lembrar do material explorado pelo artista em Joy of Missing Out (2020). É partindo dessa mesma base entristecida que o produtor abre passagem para a canção seguinte. Marcada pela uso de ambientações noturnas, Do You Feel? destaca o esmero do paulistano durante toda sua execução. O próprio dedilhado sintético que surge em momentos pontuais ao longo da composição torna tudo ainda mais interessante.

Tamanho esmero no processo de criação acaba se refletindo até os minutos finais do álbum. Escolhida para o encerramento do trabalho, Despedida traz de volta uma série de elementos incorporados pelo artista em Charme, porém, partindo de uma abordagem ainda mais contida e entristecida. Do tratamento dado aos sintetizadores, passando pela bateria discreta, quase inexistente, difícil não se deixar conduzir pelo direcionamento emocional que orienta a construção da faixa e pontua o registro de forma bastante sensível. É como um respiro necessário, ainda que melancólico, após a intensa jornada proposta por Zopelar.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.