Resenha: “Ainda Que de Ouro e Metais”, Jude

/ Por: Cleber Facchi 13/01/2017

Artista: Jude
Gênero: Rock Psicodélico, Alternativo, Rock
Acesse: https://soundcloud.com/jude-banda

 

Não faltam registros inspirados na boa safra do rock psicodélico produzido entre o final dos anos 1960 e começo da década de 1970. Trabalhos ancorados de forma explícita na obra de veteranos da música nacional – como Os Mutantes e Clube da Esquina –, ou mesmo gigantes da cena estrangeira – principalmente The Beatles e Pink Floyd. Todavia, poucos são os registros capazes de ir além da mera reciclagem de conceitos, sufocando pela completa ausência de identidade.

Prazeroso encontrar em Ainda Que de Ouro e Metais (2016, Crooked Tree Records), álbum de estreia do grupo alagoano Jude, uma seleção de músicas que vão além do empoeirado resgate de velhas ideias e melodias. Dividido com naturalidade entre a nostalgia e o frescor dos arranjos, o trabalho entregue ao público em dezembro do último ano confirma o esmero e verdadeira entrega do trio Reuel Albuquerque (guitarras, violão, baixo, teclados, programações, bateria e vocais) Fernando Brasileiro (vocais e violão) Alex Moreira (baixo e violão) em estúdio.

A cada nova composição, um precioso diálogo com o passado. Entre falsetes e arranjos descomplicados, a homônima música de abertura do disco orienta a direção seguido pela trinca de Maceió. Guitarras, pianos e batidas que se espalham de maneira sutil, detalhando um colorido pano de fundo para o canto melódico da faixa, por vezes íntima do clássico Pet Sounds (1966), dos Beach Boys. O mesmo cuidado se repete ainda na divertida Vá Ser Feliz Como o Arnaldo Baptista, faixa assinada em parceria com o músico João Paulo, vocalista e líder da conterrânea Mopho.

Por falar no trabalho da Mopho, sobrevive em Ainda Que de Ouro e Metais parte da essência lisérgica e grande parte das referências que abasteceram a curta discografia da banda alagoana. Difícil ouvir músicas como Gigante de Aço e Com Olhos Serenos e não lembrar de obras como Volume 3 (2011) ou o homônimo registro de estreia do grupo – 56º lugar na nossa lista dos 100 Melhores Discos Nacionais dos Anos 2000. A mesma ambientação psicodélica, louca. Arranjos e vozes que analisam o passado de forma curiosa, porém, mantendo firme os dois pés no presente.

Longe de parecer uma obra coesa, a estreia do Jude encanta pelo conceito versátil dos arranjos, fazendo de cada composição um ato isolado. Em Pássaro Negro, um som folclórico, repleto de metáforas, por vezes íntimo da obra do Secos & Molhados. Na acelerada De Uma Vez Só, uma espécie de fuga, guitarras decididas que rompem com a atmosfera letárgica do disco. Sétima faixa do trabalho, Barco Azul detalha um som íntimo da Jovem Guarda, pop, como se o grupo de Maceió brincasse com as possibilidades.

Na contramão de outros projetos do gênero, em geral inspirados pela psicodelia eletrônica de artistas como Tame Impala, Ainda Que de Ouro e Metais mantém firme a própria identidade. São melodias saudosistas, claramente inspiradas no trabalho produzido por artistas como Arnaldo Baptista e Ave Sangria. Arranjos, vozes e versos que parecem flutuar pelo tempo, fazendo de cada composição no interior do registro um curioso objeto de destaque.

 

Ainda Que de Ouro e Metais (2017, Crooked Tree Records)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Mopho, Tagore e Boogarins
Ouça: Ainda Que de Ouro e Metais, Gigante de Aço e Com Olhos Serenos

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.