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Críticas

Kanye West / Kid Cudi

: "Kids See Ghosts"

Ano: 2018

Selo: GOOD Music / Def Jam

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Pusha-T, Nas e Drake

Ouça: 4th Dimension e Freeee (Ghost Town, Pt. 2)

8.0
8.0

Resenha: “Kids See Ghosts”, Kanye West / Kid Cudi

Ano: 2018

Selo: GOOD Music / Def Jam

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Pusha-T, Nas e Drake

Ouça: 4th Dimension e Freeee (Ghost Town, Pt. 2)

/ Por: Cleber Facchi 20/06/2018

Mesmo estremecida nos últimos anos por conta de uma série de conflitos e provocações (já resolvidas), em estúdio, a relação entre Kanye West e Kid Cudi sempre foi bastante positiva, rica. Prova disso está em toda a sequência de músicas assinada pela dupla desde 2008, quando West convidou o novato para colaborar na produção de 808s & Heartbreak. De composições como Heartless e Make Her Say, a trabalhos completos, caso de My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010) e Man on the Moon: The End of Day (2009), sobram encontros e criações bem-sucedidas.

Não por acaso, quando West anunciou que viria a produzir cinco registros de inéditas em um intervalo de poucas semanas, incluindo o autoral Ye (2018), a colaboração com Cudi estava longe de parecer uma surpresa. De fato, desde 2016 a dupla vem se revezando em estúdio, ampliando parte do material testado pelo rapper durante o lançamento de The Life of Pablo, obra que contou com a presença de Cudi em duas composições, Father Stretch My Hands, Pt. 1 e Waves.

Em Kids See Ghosts (2018, GOOD Music / Def Jam), registro que também dá título ao “supergrupo” formado por West e Cudi, cada uma das sete composições serve de ponte criativa para o passado, porém, sempre guiadas pela novidade e fino toque de renovação. Do uso de samples extraídos de clássicos esquecidos do jazz/soul, como What Will Santa Claus Say (When He Finds Everybody Swingin’), de Louis Prima, em 4th Dimension, passando pela inserção dos versos, sempre caóticos e crescentes, tudo se projeta de forma a dialogar com a boa fase de West entre Graduation (2007) e MBDTF.

Prova disso está na faixa de abertura do disco, Feel The Love. Pouco menos de três minutos em que a dupla recebe o convidado Pusha-T — com quem West trabalhou no recente Daytona (2018) —, para rimar sobre os problemas de saúde mental, depressão e forte instabilidade emocional vivida pelos próprios artistas últimos meses. “Eu ainda posso sentir o amor“, cresce a letra da canção enquanto batidas e vozes berradas se chocam a todo instante, como um indicativo de tudo aquilo que Kids See Ghosts reserva ao ouvinte. Um ato grandioso, completo pela presença de velhos colaboradores, caso de Justin Vernon (Bon Iver), Cashmere Cat, Francis and the Lights e Benny Blanco.

A mesma força na construção das batidas e rimas se reflete na sequência formada por Freeee (Ghost Town, Pt. 2), Reborn e a própria faixa-título do disco. Uma colisão de ideias e melodias tortas que não apenas preserva a essência libertadora detalhada na música de abertura, como ainda se conecta ao trabalho de West em Ye, vide a propositada interpolação de Ghost Town — “Eu me sinto livre, livre“. Mesmo Cudi Montage, melancólica faixa de encerramento do disco, reflete o mesmo cuidado na composição dos versos (“Aqui vamos nós de novo, Deus, faça seu amor brilha em mim, me salve, por favor“), abrindo espaço para a inserção de Burn the Rain, uma preciosidade no extenso catálogo de Kurt Cobain que ser como base para a canção.

Da imagem de capa, uma ilustração produzida por Takashi Murakami — com quem West havia trabalhado em Graduation, além, claro, do vídeo de Good Morning —, passando pela breve interferência de Yasiin Bey (Mos Def), Ty Dolla $ign e André 3000, cada elemento de Kids See Ghosts parece pensado em totalidade, fazendo do encontro entre Cudi e West uma coleção de pequenos acertos. Um som cuidadoso que se reflete tanto no isolamento de cada composição, como no encontro das batidas, rimas e incontáveis tormentos detalhados de forma homogênea durante toda a execução da obra.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.