Resenha: “The Glowing Man”, Swans

/ Por: Cleber Facchi 22/06/2016

Artista: Swans
Gênero: Experimental, Pós-Rock, Pós-Punk
Acesse: https://www.facebook.com/SwansOfficial/

 

Seis anos após o lançamento de My Father Will Guide Me up a Rope to the Sky (2010), obra que deu fim ao longo hiato que silenciou o Swans na segunda metade dos anos 1990, Michael Gira e o imenso time de colaboradores continuam a surpreender o público em estúdio. Com a chegada de The Glowing Man (2016, Young God / Mute), 14º álbum de inéditas da banda estadunidense, Gira finaliza uma coleção de faixas que delicadamente transportam o ouvinte para dentro de um universo marcado pela violência, isolamento, amor e completa angústia.

Último registro da presente “encarnação” da banda, o álbum que conta com oito canções inéditas e quase duas horas de duração assume um caminho parcialmente distinto em relação aos antecessores The Seer (2012) e To Be Kind (2014). Livre do experimentalismo ruidoso que marca o trabalho lançado há dois anos, ou mesmo das ambientações góticas do álbum de 2012, Gira se concentra na produção de um som essencialmente arrastado, climático e visivelmente apoiado na repetição das vozes e arranjos. Um turbilhão de experiências que inicia de forma acolhedora em Cloud of Forgetting, porém, se encerra de maneira completamente instável na derradeira Finally, Peace.

De essência épica, The Glowing Man trata cada composição como uma espécie de obra completa. Um jogo de vozes e arranjos instrumentais marcados, por vezes cênicos, como se cada ruído tivesse um objetivo específico no interior do disco. “O equivalente musical de Ben-Hur juntamente com Ran, de [Akira] Kurosawa”, comparou Gira em entrevista à Mojo. Ainda que pareça desproporcional a colocação do músico, sobrevive no interior de cada faixa um mundo de histórias, personagens e sentimentos conflitantes que facilmente servem de ponte para a imediata aproximação do ouvinte.

São referências religiosas, como na jazzística The World Looks Red/The World Looks Black – “Follow the Sleeper Man / Follow the Maker Man / Follow the Keeper Man / Follow the Leaver Man” –; canções centradas em personagens, caso da perturbadora Frankie M.; além de composições marcadas pelo uso de referências marcadas pelo ocultismo, drogas e paisagens pós-apocalípticas. Interessante notar como todos esses elementos – referências literárias, poéticas e até versos confessionais – se amarram de forma coesa no interior da obra. Uma versão controlada do mesmo som caótico apresentado em To Be Kind.

Claramente fragmentado em duas metades distintas, The Glowing Man sustenta no primeiro ato – entre Cloud of Forgetting e People Like Us –, o lado mais “sereno” do disco. São canções tecidas em cima de uma delicada tapeçaria instrumental, por vezes íntima do trabalho de gigantes como a banda canadense Godspeed You! Black Emperor, efeito da ativa interferência entre cada um dos integrantes da banda. Nomes como o veterano Thor Harris, além de Bill Rieflin, artista que já trabalhou ao lado de bandas como R.E.M. e King Crimson. Quatro composições  que resgatam de forma particular uma série de temas e arranjos acústicos anteriormente testados em The Seer.

Na segunda metade do registro, um jogo de pequenos contrastes. De um lado, composições como a delicada When Will I Return?, música que relata o estupro sofrido pela esposa de Gira, Jennifer Gira, também responsável pelo vocal melancólico que preenche a canção. No outro oposto, a explosão de músicas como Frankie M. e a própria faixa-título do disco, peças que dialogam com a crueza de To Be Kind, porém, apontam para um território parcialmente novo, orquestral e épico. O fechamento perfeito para aquela que pode ser considerada uma das fases mais férteis em toda a discografia do Swans.

 

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The Glowing Man (2016, Young God / Mute)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Godspeed You! Black Emperor, Wire e Coil
Ouça: The Glowing Man e The World Looks Red/The World Looks Black

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.