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Crítica

Charli XCX

: "Brat"

Ano: 2024

Selo: Asylum / Atlantic

Gênero: Pop

Para quem gosta de: SOPHIE e Caroline Polachek

Ouça: Von Dutch, Talk Talk e Club Classics

9.0
9.0

Charli XCX: “Brat”

Ano: 2024

Selo: Asylum / Atlantic

Gênero: Pop

Para quem gosta de: SOPHIE e Caroline Polachek

Ouça: Von Dutch, Talk Talk e Club Classics

/ Por: Cleber Facchi 12/06/2024

Noites de excessos, carros em alta velocidade e relacionamentos complicados. Em mais de uma década de carreira, Charli XCX sempre orbitou os mesmos temas, porém, nunca fez disso o estímulo para uma obra repetitiva. Da fragmentação do pop oitentista em True Romance (2013) ao diálogo com o rock em Sucker (2014), das experimentações em Vroom Vroom (2016), POP 2 (2017) e How I’m Feeling Now (2020) à busca por um som cada vez mais acessível em Charli (2019) e Crash (2022), sobram momentos em que a cantora, compositora e produtora britânica soube como tensionar os limites da própria criação dentro de estúdio.

Entretanto, mesmo nesse espaço de contínua ruptura e busca por novas possibilidades, a artista original de Cambridge, na Inglaterra, parece ir ainda mais longe com o lançamento de Brat (2024, Asylum / Atlantic). Ponto de consolidação estético, sonoro e lírico, o registro inspirado pelas raves que a cantora frequentou ilegalmente durante a adolescência, mais uma vez leva o trabalho de Charli para outras direções. Canções que preservam a relação com o pop, porém, se entregam de vez à força das batidas e produção eletrônica.

Quando vou ao clube, quero ouvir aqueles clássicos das pistas“, canta em Club Classics, música em que se une ao produtor A. G. Cook e ao noivo, o baterista George Daniel, um dos membros do grupo The 1975, para mergulhar em uma composição que instantaneamente convida o ouvinte a dançar. São batidas, fragmentos de vozes e sintetizadores frenéticos, conceito que embala a experiência do ouvinte tão logo o trabalho tem início, em 360, até os minutos finais, no misto de remix e faixa-crédito de 365, música que se encerra de maneira catártica, destacando as batidas que parecem resgatadas de uma rave lamacenta dos anos 1990.

Em Brat, há espaço para tudo, menos para o conforto e a calmaria. Não por acaso, cada nova faixa parece encaixar na composição seguinte, convidando o ouvinte a se perder pelas pistas ao som de músicas como Von Dutch, B2B e a libertadora Mean Girls, criação que parece pensada para as apresentações ao vivo da cantora. Claro que isso não interfere na entrega de canções menos urgentes, como a melancólica I might say something stupid, So I e Talk Talk, preciosidade que evoca o mesmo pop retrô de Carly Rae Jepsen.

É como um acumulo natural de tudo aquilo que a cantora tem testado desde o início da carreira, porém, partindo de uma honestidade poucas vezes antes vista no pop atual. Quando foi a última vez que vimos uma artista discutir questões complexas como maternidade e carreira profissional feminina, base para a delicada I Think About It All the Time, para logo em seguida cantar sobre cheirar pó na fila de uma festa? Charli não tem medo de tratar sobre o que realmente pensa e é isso que faz dela uma figura tão fascinante.

Esse álbum é muito direto. Cansei da ideia de metáfora, de lirismo floreado e de não dizer exatamente o que penso, como diria a um amigo em uma mensagem de texto“, disse em uma entrevista à Billboard. Vem justamente dessa crueza e leve toque de inconsequência a real beleza do repertório de Brat. É como se, na contramão da indústria, com suas canções altamente higienizadas, a cantora jogasse com regras próprias. Não se trata de algo inovador ou revolucionário, mas ao adotar uma abordagem realista e livre do pop asséptico de outros nomes do gênero, Charli parece ter encontrado um espaço que pertence somente à ela.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.