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Crítica

Hatchie

: "Giving the World Away"

Ano: 2022

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Dream Pop

Para quem gosta de: Soccer Mommy e Snail Mail

Ouça: This Enchanted e Quicksand

8.0
8.0

Hatchie: “Giving the World Away”

Ano: 2022

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Dream Pop

Para quem gosta de: Soccer Mommy e Snail Mail

Ouça: This Enchanted e Quicksand

/ Por: Cleber Facchi 29/04/2022

Harriette Pilbeam, assim como Soccer Mommy, beabadoobee e Snail Mail faz parte de uma geração de novas compositoras que encontrou no rock produzido entre o final dos anos 1990 e início da década de 2000 uma importante fonte de inspiração para a própria obra. São trabalhos sempre marcados pelo refinamento das vozes e melodias cantaroláveis que contrastam com a completa crueza das guitarras. Um misto de nostalgia e doce toque de renovação, estímulo para as composições de Giving the World Away (2022, Secretly Canadian), mais recente criação da cantora e compositora australiana como Hatchie.

Sequência ao material entregue pela artista em Keepsake (2019), de onde vieram preciosidades como Without a Blush e Stay With Me, o novo disco preserva parte dos elementos apresentados há três anos, porém, evidencia o esforço de Pilbeam em provar de uma sonoridade cada vez mais acessível, flertando de maneira bastante particular com a música pop. Do uso cada vez mais destacado dos sintetizadores, passando pelo tratamento dado às guitarras e versos que parecem pensados para grudar na cabeça do ouvinte em uma primeira audição, poucas vezes antes o som produzido por Hatchie pareceu tão atrativo.

E isso ficou bem representado em toda a série de composições reveladas por Pilbeam nos últimos meses. É o caso de This Enchanted. Do momento em que tem início, no cruzamento entre batidas, sintetizadores e vozes ecoadas que apontam para a cena inglesa dos anos 1990, passando pela base labiríntica de guitarras e efeitos que garantem maior profundidade ao material, tudo se organiza de forma deliciosamente mágica. É como um vasto pano de fundo instrumental que favorece a construção dos versos, cheio de ganchos e pequenas repetições que continuam a ecoar na cabeça do ouvinte mesmo após o encerramento da faixa.

Esse mesmo refinamento estético fica ainda mais evidente com a chegada de Quicksand. Enquanto os versos se aprofundam em tormentos pessoais compartilhados por Pilbeam (“Eu continuaria lutando se não houvesse mais nada pelo que lutar? / Às vezes eu sinto que estou afundando em areia movediça“), cada fragmento da canção reflete o esmero no processo de montagem do material, destacando a co-produção de Jorge Elbrecht (Sky Ferreira, Wild Nothing) e Dan Nigro (Olivia Rodrigo, Caroline Polachek). São incontáveis camadas instrumentais, texturas sintéticas e vozes que ampliam consideravelmente os limites da obra.

Uma vez imersa nesse ambiente marcado pelas possibilidades e criativo diálogo com novos colaboradores, Pilbeam aproveita para testar os próprios limites e provar de ritmos pouco usuais dentro de estúdio. Exemplo disso fica bastante evidente em Think Of, composição que vai da música brasileira ao uso de temas litorâneos, flertando com a balearic beat. A própria faixa-título do disco, com suas batidas eletrônicas e ambientações lisérgicas, aponta para o mesmo território de artistas como Saint Etienne e Primal Scream, feito reforçado em Take My Hand e The Rhythm, essa última, um dos momentos de maior beleza do álbum.

Próxima e ao mesmo tempo distante do repertório apresentado em Keepsake, Pilbeam estabelece nesse precioso cruzamento de informações um importante componente criativo para o fortalecimento de Giving the World Away. Enquanto os versos utilizam de inquietações e conflitos sentimentos há muito explorados pela artista, vide o material entregue no introdutório Sugar & Spice EP (2018),costuras irregulares e diferentes ritmos transportam o som produzido por Hatchie para um território parcialmente novo. Instantes em que a artista australiana alterna entre o conforto e a permanente busca por novas direções criativas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.