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Crítica

Joca

: "Cortavento"

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Rap

Para quem gosta de: Black Alien e Ebony

Ouça: Só Por Hoje, Badu & 3000 e Não Me Reconheço

8.3
8.3

Joca: “Cortavento”

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Rap

Para quem gosta de: Black Alien e Ebony

Ouça: Só Por Hoje, Badu & 3000 e Não Me Reconheço

/ Por: Cleber Facchi 01/08/2025

A fluidez explícita nos minutos iniciais de Cortavento (2025, Independente) diz muito sobre aquilo que Joca busca desenvolver no segundo registro da carreira. Com Exu abrindo os caminhos, o mineiro radicado em Niterói encaixa uma canção na outra de maneira sempre acelerada, mas que em nenhum momento oculta a mesma riqueza de detalhes incorporada ao introdutório A Salvação é Pelo Risco: O Show do Joca (2019).

Terceira canção do disco, Só Por Hoje sintetiza de maneira bastante eficiente parte dos temas e estruturas exploradas por Joca no decorrer do trabalho. Enquanto os versos reforçam a sensação de inquietude que consome o rapper, batidas aceleradas contrastam com o sopro melancólico de Antonio Neves. É como um enérgico cruzamento de informações, estilos e sentimentos que ampliam os horizontes do artista mineiro.

Mesmo quando se entrega aos desejos mais íntimos, como em Badu & 3000, o artista mantém firme o ritmo acelerado. E não poderia ser diferente. Completa pela participação especial de Ebony, a faixa não apenas transcende o habitual comodismo de outros duetos do rap nacional, como se permite ser explícita, lasciva e, consequentemente, inescapável. Em Cortavento, tudo se revela de maneira intensa, real e livre de filtros.

Embora marcado pela urgência dos elementos, o trabalho mantém firme a vulnerabilidade dos versos que destacam a entrega e sensibilidade do artista. É o caso de Não Me Reconheço, composição de acabamento existencialista que ainda se completa pela presença da Tuyo. Já em Night Angel, com produção caprichada de Marcelo de Lamare e ErickBeatz, é o romantismo agridoce que orienta o lirismo confessional da canção.

Essa mesma riqueza na elaboração dos versos acaba se refletindo na musicalidade e pluralidade de estilos que movem o disco. Com músicas como Onda e Filho do Vento, fica bastante evidente o esforço do artista em exaltar a própria ancestralidade, porém, partindo de uma linguagem atualizada, proposta que a todo momento dialoga com o som de outros nomes da cena niteroiense, como Dadá Joãozinho e Vitor Milagres.

Ainda que sustentado pelo evidente esmero na construção das músicas, Cortavento por vezes sofre com o volume excessivo de canções. São composições como TML e Afefé que, embora interessantes isoladamente, parecem mais repetir ideias já abordadas em momentos anteriores do disco, o que dilui parte do impacto do trabalho. Nada que comprometa a força criativa de Joca, sempre atento ao controle da própria narrativa, transformando vulnerabilidade, urgência e desejo em combustível para uma obra em constante expansão.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.