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Crítica

Ravyn Lenae

: "Hypnos"

Ano: 2022

Selo: Atlantic

Gênero: R&B, Neo-Soul, Pop

Para quem gosta de: Syd, Tinashe e Kali Uchis

Ouça: Skin Tight, M.I.A. e Venom

8.2
8.2

Ravyn Lenae: “Hypnos”

Ano: 2022

Selo: Atlantic

Gênero: R&B, Neo-Soul, Pop

Para quem gosta de: Syd, Tinashe e Kali Uchis

Ouça: Skin Tight, M.I.A. e Venom

/ Por: Cleber Facchi 09/06/2022

Há quatro anos, quandoRavyn Lenae deu vida ao último registro de inéditas, Crush EP (2018),o R&B vivia um de seus períodos mais férteis. Enquanto SZA ganhava o mundo com o ainda recente Ctrl (2017), nomes como Teyana Taylor, Jorja Smith, Tierra Whack e Kali Uchis brilhavam com uma seleção de outros lançamentos que proporcionaram ainda mais destaque ao estilo. Porém, na contramão dessas mesmas artistas, que seguiram em uma sequência de grandes registros e outras parcerias esporádicas, Lenae se manteve bastante discreta. Salve raras aparições, como em Rewind, produzida especialmente para a trilha sonora da quarta temporada de Inscure, pouco foi apresentado pela cantora e compositora de Chicago.

A justificativa para tamanha discrição e afastamento do público? “Eu queria me desafiar vocalmente e desafiar minha caneta. Esse era meu objetivo principal. Acho que é fácil para mim cair nessa zona de conforto que é boa“, disse em entrevista ao The Recording Academy. Vem justamente desse esforço em buscar por novas possibilidades e testar os próprios limites o estímulo para o primeiro álbum de estúdio da artista estadunidense, o aguardado Hypnos (2022, Atlantic.). São canções que preservam tudo aquilo que a cantora tem produzido desde os primeiros registros autorais, porém, de forma sempre imprevisível.

Parte desse resultado vem do esforço da própria artista em estreitar a relação com um time totalmente diverso de colaboradores. Diferente do repertório entregue no registro anterior, em que Steve Lacy (The Internet) assumiu integralmente a produção das material, Lenae decidiu transitar por entre estilos e parceiros durante toda a execução da obra. O resultado desse processo está na entrega de músicas como Xtasy,composição que preserva a essência da cantora, porém, flerta com as pistas, produto direto da interferência de Kaytranada, com quem divide a canção. O mesmo direcionamento sintético fica ainda mais evidente em Venom, bem sucedido encontro com o conterrâneo Monte Booker (Noname, Saba).

E não são apenas os produtores que surgem e desaparecem durante toda a execução do álbum. De forma a potencializar o alcance das próprias criações, Lenae estabelece pequenos diálogos com outras vozes da cena norte-americana. É o caso de Fousheé, com quem divide parte dos versos em Mercury, próxima ao encerramento do disco. Em 3D, são as rimas de Smino que se conectam às vozes da cantora. Um precioso exercício criativo que ganha ainda mais destaque em Where I’m From, música que se completa pela presença de Mereba e ainda encanta pela base reducionista de Luke Titus, produtor executivo da obra.

Nada que prejudique a relação da cantora com alguns de seus colaboradores mais antigos. O próprio Lacy, por exemplo, está de volta para uma série de composições ao longo da obra. São músicas como a introdutória Cameo, Deep in the World, Satellites e Light Me Up. É como uma extensão natural de tudo aquilo que os dois artistas haviam testado durante a produção do registro anterior. Exemplo disso fica bastante evidente na já conhecida Skin Tight. Do uso destacado das guitarras, sempre labirínticas, ao refinamento dado aos vocais, perceba como Lenae preserva e sutilmente perverte a própria essência.

Próximo e ao mesmo tempo distante dos trabalhos que o antecedem, Hypnos estabelece nesse precioso cruzamento de informações um estímulo para o fortalecimento da obra. Mesmo que parte dos versos pareçam ancorados em conceitos bastante característicos da cantora, como os conflitos sentimentais, romances passageiros e instantes de maior vulnerabilidade, evidente é o esforço da artista em ampliar os próprios domínios e testar limites. Da costura de ritmos que ganha forma em faixas como M.I.A. ao refinamento dado aos arranjos durante toda a execução do material, não são poucos os momentos em que Lenae potencializa tudo aquilo que havia testado em estúdio desde os primeiros registros autorais.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.