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Crítica

Sudan Archives

: "Natural Brown Prom Queen"

Ano: 2022

Selo: Stones Throw Records

Gênero: Neo-Soul, R&B, Art Pop

Para quem gosta de: Jamila Woods e L'Rain

Ouça: Selfish Soul e NBPQ (Topless)

8.5
8.5

Sudan Archives: “Natural Brown Prom Queen”

Ano: 2022

Selo: Stones Throw Records

Gênero: Neo-Soul, R&B, Art Pop

Para quem gosta de: Jamila Woods e L'Rain

Ouça: Selfish Soul e NBPQ (Topless)

/ Por: Cleber Facchi 13/09/2022

Sudan Archives, assim como Jamila Woods, Solange, L’Rain e YaYa Bey, é parte importante de uma frente de mulheres negras que não apenas abandonaram a posição de intérpretes, como assumiram um papel dominante no processo de composição e produção de seus próprios trabalhos. Dessa forma, ao mergulhar nas canções Natural Brown Prom Queen (2022, Stone Throw Records), temos acesso não apenas a um novo e importante capítulo na obra da cantora e compositora estadunidense, mas o produto final de um lento processo de amadurecimento pessoal e transformação criativa que teve início ao longo da última década.

Desde que foi oficialmente apresentada, com um autointitulado registro de inéditas, Brittney Denise Parks, verdadeiro nome da musicista, tem investido na construção de um repertório que aponta para diferentes direções criativas e perverte cada uma delas. E isso ficou ainda mais evidente em toda a sequência de obras reveladas pela artista, como no posterior Sink EP (2018), em que estreita relações com a música africana, e principalmente com o lançamento de Athena (2019), primeiro álbum de estúdio e uma tentativa, por vezes torta, de organizar parte desses elementos, ritmos e conceitos que vinham sendo explorados.

Em Natural Brown Prom Queen, Parks formaliza melhor todas essas ideias, porém, se entrega de vez ao exagero. Do momento em que tem início, em Home Maker, cada composição parece transportar o ouvinte para um novo e sempre inusitado território criativo. São canções que evidenciam o esforço da musicista em provar de uma sonoridade cada vez mais acessível, flertando com a música pop, porém, nunca de maneira previsível. A própria imagem de capa do disco, uma fotografia vertical posicionada na horizontal, funciona como uma clara representação do esforço da artista em perverter toda e qualquer forma estética.

Para além da permanente busca da artista por novas possibilidades, Natural Brown Prom Queen talvez seja o trabalho em Parks mais se revela ao público. Exemplo disso fica bastante evidente na já conhecida NBPQ (Topless), música que chama a atenção pelo lirismo autobiográfico e pequenas reflexões da compositora sobre a própria negritude. “Às vezes eu acho que se eu tivesse a pele clara / Então eu entraria em todas as festas / Ganharia todos os Grammys, faria os meninos felizes“, detalha em meio a batidas destacadas e arranjos pouco usuais, estrutura que evidencia a força e minucioso processo de composição da musicista.

E ela não é a única. Mesmo consumido por pequenos excessos, Natural Brown Prom Queen concentra uma seleção de faixas que evidenciam o domínio criativo e força de Parks durante toda a execução do material. Do misto de canto e rima que se apodera de Selfish Soul, outra importante faixa que trata de autoaceitação, passando pelo brilho pop de OMG BRITT e Freakalizer, sobram momentos em que a artista demonstra toda sua versatilidade em estúdio. A própria ChevyS10, com seu inusitado diálogo com a produção eletrônica, destaca o esforço da cantora em ampliar permanentemente o próprio campo de atuação dentro de estúdio.

Interessante perceber em Natural Brown Prom Queen um registro que destaca o amadurecimento criativo de Parks durante toda sua execução, mas que a todo momento estabelece pequenas conexões com nomes importantes da música negra estadunidense. São ecos de Janet Jackson, Betty Davis, Nina Simone e outras mulheres sempre marcadas pelo forte aspecto transgressor de suas obras. Canções que se dividem entre a celebração e o lirismo contestador da artista, proposta que captura a atenção do ouvinte logo em uma primeira audição, porém, revela diferentes camadas e novas tonalidades a cada regresso ao trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.