[40-31]
.
#40. Leon Bridges
Coming Home (2015, Columbia)
Leon Bridges é um nostálgico. Nascido em julho de 1989 na cidade de Atlanta, Georgia, o cantor e compositor norte-americano parece viver em um mundo em preto e branco, vozes captadas em baixa fidelidade e temas que instantaneamente remetem ao som projetado na década de 1960. Orientado por Otis Redding, Al Green, Sam Cooke e outros gigantes do Soul e R&B do mesmo período, o novato (finalmente) abre as portas do primeiro disco solo: Coming Home (2015, Columbia). Catálogo empoeirado de canções românticas, entristecidas e até mesmo dançantes, o registro segue um caminho isolado em relação a diferentes conterrâneos da música negra recente. Oposto ao trabalho de Janelle Monáe, Adele, Raphael Saadiq e tantos outros artistas interessados em brincar com referências lançadas há mais de quatro décadas, ao mergulhar no primeiro álbum solo de Bridges, a proposta assumida pelo cantor é clara e imutável. Trata-se de uma visita breve ao passado, como uma tentativa de replicar sons, temas e conceitos sem necessariamente investir na transformação. [✚]
#39. Kacey Musgraves
Pageant Material (2015, Mercury Nashville)
É difícil escapar da voz doce de Kacey Musgraves. Ainda que o interesse do ouvinte pela música Country seja limitado (ou talvez inexistente), basta um passeio pelo jogo de melodias delicadas tecidas pela cantora de Mineola, Texas para que a identificação seja imediata. Uma sensação explícita desde o lançamento de Same Trailer Different Park (2013), primeiro trabalho da jovem artista dentro de um grande gravadora, e marca reforçada com maior naturalidade nas confissões que movem Pageant Material (2015, Mercury Nashville). Quinto álbum de inéditas da cantora e segundo trabalho com lançamento pelo selo Mercury Nashville – braço sertanejo da gigante Universal Music e casa de artistas como Shania Twain e Billy Currington -, Pageant Material é um álbum que encanta pelas melodias. Da voz doce que inaugura o disco em High Time, passando pelos violões de Die Fun ou temas melancólicos Family Is Family e Fine, cada segundo dentro da obra soa como uma tentativa de Musgraves em acolher e confortar o ouvinte. [✚]
.
#38. Levon Vincent
Levon Vincent (2015, Novel Sound)
Claustrofóbico e, ao mesmo tempo, libertador. Assim é o trabalho desenvolvido no homônimo álbum de estreia de Levon Vincent. Em um diálogo preciso com a eletrônica de Berlin, onde estabeleceu residência nos últimos anos, o artista original da cidade de Nova York encontra nos experimentos da Deep House e Minimal Techno um jogo de pequenas ambientações tão acolhedoras, quanto capazes de provocar a mente do ouvinte. Uma manobra sutil, entalhada em cima de loops reciclados, porém, montados de forma a hipnotizar o ouvinte, lentamente seduzido pelas colagens do produtor. Feito para ser ouvido sem pressa, o registro que conta com quase duas horas de duração, parece ocultar segredos de qualquer ouvinte afobado. Salve exceções, caso de For Mona, My Beloved Cat. Rest in Peace e Her Light Goes Through Everything, grande parte das canções espalhadas pelo álbum ultrapassam os seis minutos de duração, arrastando o espectador para um cenário de maquinações robóticas, bases minimalistas e beats tão flexíveis, que parece impossível fixar o trabalho de Vincent dentro de um único gênero ou cena específica. [✚]
.
#37. Kelela
Hallucinogen EP (2015, Warp / Cherry Coffee Music)
Poucos artistas atuais parecem entender tão bem o espírito da década de 1990 quanto Kelela. Mesmo antes de ser oficialmente apresentada com Cut 4 Me, trabalho lançado em 2013, todas as canções assinadas pela cantora – individualmente ou acompanhada por diferentes produtores – parecem dialogar com o som incorporada por veteranos da música negra que surgiram há duas (ou mais) décadas. Um curioso exercício de visita ao passado que volta a se repetir no melancólico Hallucinogen EP. Produto final de uma sequência de composições planejadas desde o último ano – vide The High, lançada em fevereiro de 2014 -, o EP cresce como uma extensão aprimorada do trabalho entregue pela cantora há dois anos. São seis faixas, pouco mais de 20 minutos, tempo suficiente para que Kelela reforce o diálogo com velhos colaboradores – caso do produtor Kingdom -, ao mesmo tempo em que novos parceiros são encaixados no interior do trabalho. Parte desse segundo grupo, o venezuelano Alejandro Ghersi assume a responsabilidade por duas canções do EP: A Message e a própria faixa-título. Mais conhecido pelo trabalho como Arca, Ghersi curiosamente transporta para dentro do disco a mesma sonoridade incorporada em carreira solo. Enquanto a faixa de abertura resgata parte do som explorado em parceria com FKA Twigs, esbarrando em elementos típicos do Trip-Hop, com Hallucinogen, cançnao que concede título ao registro, um labirinto de ruídos, batidas e bases instáveis parece orientar o caminho percorrido pela voz de Kelela. [✚]
.
#36. Torres
Sprinter (2015, Partisan)
Dois anos após o lançamento do primeiro álbum de estúdio, a melancolia continua a orientar a voz angustiada da norte-americana Mackenzie Scott. Em Sprinter (2015, Partisan), segundo e mais recente trabalho em estúdio da cantora de Nashville, Tennessee, temas como separação, abandono e isolamento ainda servem de incentivo para cada um dos versos assinados pela artista, a diferença? Longe de sufocar de forma perturbada pelo próprio desespero, Torres cresce, explode, transformando o registro em uma obra essencialmente dominada pela raiva. Como explícito logo na capa do álbum – um retrato da cantora divido em duas partes -, Sprinter, diferente do conceito homogêneo retratado no álbum que o antecede, é uma obra de metades bem definidas. Na primeira delas, eixo que se estende da inaugural e intensa Strange Hellos até a faixa-titulo, uma clara extensão do último disco da musicista. Canções que mesmo aceleradas, por vezes cruas, mantém firme a relação com o Alt. Country e o rock alternativo explorado na década de 1990, principalmente o trabalho de veteranas como PJ Harvey (New Skin) e Cat Power (Son, You Are No Island). [✚]
.
#35. Arca
Mutant (2015, Mute)
Alejandro Ghersi não poderia ter pensado em um título mais inteligente para o segundo álbum como Arca do que Mutant (2015, Mute). De fato, desde a estreia do produtor venezuelano, em 2012, a incerteza das batidas e imagens – assinadas pelo parceiro Jesse Kanda – servem de estímulo para cada composição produzida pelo artista. Uma permanente desconstrução ampliada durante o lançamento do álbum Xen, em 2014, mas que se revela de forma ainda mais assertiva e perturbadora nos mais de 60 minutos do presente álbum. Livre da vitrine de possibilidades explorada no trabalho entregue há pouco mais de um ano, em Mutant, Arca conquista uma obra que mesmo torta, essencialmente instável, mantém firme a relação de similaridade entre as faixas. Em um explícito exercício de aproximação, cada música parece servir de estímulo para a composição seguinte, resultando em um registro que lentamente oculta as próprias lacunas e se completa. São colagens eletrônicas (Sinner), vocais explorados como instrumentos (Anger) e até a interferência atípica de instrumentos, marca de Gratitud, 13ª faixa do disco e composição que parece extraída do clássico Endless Summer (2001), do produtor austríaco Fennesz. Observado de forma atenta, mais do que um exercício de criação, com o segundo álbum de inéditas, Arca se concentra em “homenagear” e resgatar o trabalho de diferentes nomes da música experimental – antiga ou recente. [✚]
.
#34. Lower Dens
Escape From Evil (2015, Ribbon Music)
Você não precisa ir além da capa de Escape From Evil (2015, Ribbon Music) para perceber a mudança em torno da (recente) obra do grupo Lower Dens. Longe do uso limitado de preto, branco e pequenas variações de cinza, a comportada inserção de cores serve como indicativo para o som cada vez mais abrangente da banda de Baltimore. Ainda que a essência consolidada em Twin-Hand Movement (2010) e Nootropics (2012) seja a mesma do terceiro álbum de estúdio, faixa, após faixa, Jana Hunter, líder do grupo, reforça a busca por um novo mundo de possibilidades rítmicas. Sintetizadores “alegres” em To Die in L.A., guitarras (quase) dançantes em Non Grata e Company, além dos vocais grandiosos de Hunter, pela primeira vez, esquiva da frieza habitual que sustenta os dois últimos discos da banda. Em uma desconstrução lenta da sobriedade que caracteriza o Post-Punk em mais de três décadas de formação do estilo, cada música do novo álbum aproxima o coletivo de um som menos mecânico, ainda amargo e melancólico, mas não menos acessível, como se os pontos de luz bloqueados na fase inicial do projeto fossem agora desobstruídos. Mudança brusca em relação ao som “obscuro” que encerra Nootropics – com a extensa In the End Is the Beginning -, Escape From Evil demonstra a imagem de uma banda movida pela transformação. A julgar pelo cardápio imenso de arranjos, temas e conceitos explorados, não seria um erro interpretar o presente disco do Lower Dens como a obra mais “irregular” já assinada pelo grupo. [✚]
.
#33. Alabama Shakes
Sound & Color (2015, ATO)
Quando foi a última vez que você se emocionou com um disco de rock? Se a resposta for “há muito tempo”, Sound & Color (2014, ATO), segundo e mais recente álbum de estúdio do Alabama Shakes, talvez seja capaz mudar esse resultado. Fuga do imediatismo quase enérgico testado em Boys & Girls, de 2012, Brittany Howard, Zac Cockrell, Heath Fogg e Steve Johnson encontram no novo registro de inéditas mais do que um aprofundamento do próprio universo de referências, mas uma completa desconstrução e particular montagem de diferentes gêneros lançadas em mais de cinco décadas de produção musical. Blues, Soul, Indie, Country, Gospel e Garage Rock, não importa o estilo, cena ou caminho percorrido pelo quarteto ao longo do disco – o resultado final será comovente, único. Verdadeira prova de conceitos, cada faixa do álbum parece apagar qualquer traço de previsibilidade talvez anunciada dentro da estrutura montada para o debut de 2012, revelando mesmo em gêneros tão desgastados, como o “rock clássico”, uma série de passagens antes ocultas. Mais do que flertar com as décadas de 1950, 1960 ou 1970, em Sound & Color o grupo de Athens define a própria identidade. [✚]
.
#32. Empress Of
Me (2015, Terrible / XL)
Se existe uma linha que separa o pop da cena alternativa, então Lorely Rodriguez está posicionada bem em cima dela. Com o lançamento de Me (2015, Terrible / XL), primeiro trabalho em estúdio da cantora e compositora norte-americana, vozes e arranjos se articulam de forma a prender a atenção do ouvinte, brincando com elementos típicos de grandes nomes da música comercial, porém, sem necessariamente abandonar a originalidade e boa dose de experimento que sustentam a obra do Empress Of desde as primeiras canções. Como indicado logo no título do trabalho – em português, “Eu” -, o registro que entrega o som de Rodriguez ao grande público passeia pelo universo de conflitos, crônicas e confissões íntimas da própria cantora. Versos descomplicados que detalham o cotidiano de qualquer indivíduo, caso do relato caseiro de Need Myself, até composições que mergulham em pequenas poças de sofrimento (Everything Is You) e relacionamentos esmiuçados (How Do You Do It) pela artista. A principal diferença em relação ao trabalho de outras “divas” da música pop? A completa crueza e honestidade expressa em cada verso articulado por Rodriguez. [✚]
.
#31. Dr. Dre
Compton (2015, Interscope / Aftermath)
Desde a estreia com o álbum The Chronic, em 1992, o grande acerto de Dr. Dre nunca esteve na rima versátil ou no pulso firme como produtor, mas no time de colaboradores que acompanham o rapper a cada novo trabalho de estúdio. Prova disso está no interior do bem-sucedido Compton. Terceiro álbum de inéditas do ex-integrante do N.W.A., o disco de 16 faixas e mais de 60 minutos de duração estabelece um diálogo inevitável com a frente de artistas apadrinhados pelo rapper nos últimos anos. Da abertura ao fechamento da obra, um espaço livre para a chegada de nomes como Kendrick Lamar, Snoop Dogg, Anderson .Paak, The Game, Ice Cube, Eminem e outros colaboradores – antigos e recentes – que recheiam o ambiente conceitual proposto por Dre. Uma espécie de passeio cinematográfico pelo cenário real apresentado logo na capa do álbum, base para o lançamento de composições como Genocide, All in a Day’s Work e One Shot One Kill. Lançado “de surpresa” em agosto deste ano, ocupando o espaço do aguardado (e hoje cancelado) Detox, Compton mostra um rapper que mesmo maduro, ainda preserva sua essência.
.
Clique no “✚” e leia a resenha completa
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.