Os 50 Melhores Discos Brasileiros de 2018 [30-21]

/ Por: Cleber Facchi 19/12/2018

De Duda Beat à Alice Caymmi, de Mahmed a Catavento, é hora de relembrar alguns dos principais trabalhos lançados nos últimos meses. São registros independentes ou mesmo obras apresentadas por grandes gravadoras que sintetizam parte da produção nacional em diferentes gêneros – pop, indie rock, hip-hop, R&B, jazz e eletrônica. Nos comentários, conte pra gente: qual é o seu disco favorito de 2018?


#30. Maurício Pereira
Outono no Sudeste (2018, Independente)

Pra que caneta, papel? / A poesia hoje não apareceu / E as rosas / Na floricultura / E os pássaros / Na gaiola … Eu não sei se o amor existe / Eu sou um homem triste“. Em tom sóbrio, o canto melancólico de A Mais (Rubião Blues), faixa de abertura de Outono no Sudeste (2018, Independente), indica parte do caminho percorrido pelo cantor e compositor paulistano Maurício Pereira no 7º álbum de inéditas em carreira solo. Versos descritivos, ora cantados, ora declamados, como se cada elemento espalhado pelo cotidiano do artista fosse observado de maneira atenta e transformado em música. “Um windows ligando lá longe / Passar a noite em claro roendo unha / Com a luz apagada / Chorar baixinho no escuro / Com o despertador armado em seis e meia“, canta em Tudo Tinha Ruído, música em que passeia por entre cenas (“A primeira lasca do iceberg / Que o Alasca um dia rachará“), personagens (“O coração da moça que partiu / Sozinha no último metrô“) e acontecimentos mundanos (“A mãe de um nenê que chora / Anda e canta zonza com ele no colo“) que se conectam pelo som. Pequenas narrativas visuais que se permitem montar na cabeça do ouvinte, fazendo deOutono no Sudeste uma obra que parece maior a cada nova audição. Leia o texto completo.

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#29. Josyara
Mansa Fúria (2018, Pomelo)

A dualidade explícita no título de Mansa Fúria (2018, Pomelo) diz muito sobre a direção e pequenas variações rítmicas assumidas no segundo e mais recente álbum de estúdio da baiana Josyara Lélis. Produto das emoções e sentimentos detalhados pela cantora e compositora original de Juazeiro, o sucessor do curioso Uni Versos, lançado em 2012, transporta as ambientações acústicas da musicista para um novo território. São melodias ruidosas, semi-psicodélicas e entalhes eletrônicos que se amarram à poesia metafórica que invade os versos. Com o próprio corpo como um elemento vivo, mesclado à natureza, Josyara se transforma em solo fértil, deságua em um oceano de emoções profundas e possibilita o crescimento de árvores de sentimentos lascivos, sempre centrados em casos recentes de amor. “Feito um cometa você chegou / E me abraçou com todo ardor / Fez a extinção das coisas más / Levou o mar pro meu sertão … Você surgiu e germinou / As frutas doces despencaram / Feito minhas pernas ao te ver“, canta em Rota de Colisão, síntese da poesia detalhista que serve de sustento ao disco, mostrando o avanço e força da cantora em relação ao material entregue há seis anos. Leia o texto completo.

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#28. Cambriana
Manaus Vidaloka (2018, Independente)

Em um universo de artistas ainda embrionários, porém, hoje cultuados, como Carne Doce e BoogarinsHouse of Tolerance (2012), álbum de estreia do grupo Cambriana, talvez seja um dos primeiros exemplares da cena goiana a atrair maior atenção do público para além do núcleo sertanejo que parecia movimentar música local. Entre versos cantados em inglês e melodias crescentes que pareciam dialogar com o trabalho de estrangeiros como Grizzly Bear e Arcade Fire, cada composição do elogiado debute parecia servir de passagem para um novo ambiente criativo, conceito posteriormente reforçado durante o lançamento do EP Worker (2013), registro de seis faixas entregue meses mais tarde. Entretanto, importante notar que mesmo a boa repercussão em torno do álbum não impediu que a banda mergulhasse em um longo período de hiato. Com os membros espalhados em diferentes projetos — como o paralelo Ara Macao, do vocalista e líder Luís Calil —, restou ao público esperar pacientemente por um possível regresso do grupo de Goiás. Uma espera angustiada que se estendeu por mais de cinco anos, até a recente entrega de Center of Universe, primeiro fragmento do novo álbum de inéditas do coletivo goiano, o experimental Manaus Vidaloka (2018, Independente).

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#27. Lupe de Lupe
Vocação (2018, Balaclava Records / Geração Perdida)

Infelizmente, infelizmente / Não é possível resolver os problemas do país com uma música“. O verso sóbrio que ganha forma no interior da verborrágica O Brasil Quer Mais, quinta faixa de Vocação (2018, Balaclava Records / Geração Perdida), diz muito sobre a atmosfera pessimista que orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução do quarto álbum de estúdio da Lupe de Lupe. Primeiro registro de inéditas do quarteto mineiro desde o excelente Quarup (2014), o trabalho de dez faixas segue exatamente de onde o grupo parou há quatro anos. Frações instrumentais e poéticas que se espalham em meio a delírios existencialistas, conflitos políticos e tormentos pessoais. Catapultado pela força criativa e crueza que invade a crescente Frágua, faixa de abertura do disco e uma das melhores composições do grupo mineiro, Vocação parece seguir o fluxo incerto de uma corredeira. São ideias e fragmentos poéticos arremessados sem ordem aparente, como um convite a se perder pela mente insana de cada integrante da banda — hoje composta pelos músicos Cícero Nogueira (bateria e voz), Gustavo Scholz (guitarra e voz), Renan Benini (guitarra e voz) e Vitor Brauer (baixo e voz). Leia o texto completo.

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#26. Séculos Apaixonados
Suspenso Graças Ao Princípio da Insignificância (2018, Balaclava Records)

A nostálgica viagem instrumental da Séculos Apaixonados pelo pop/rock dos anos anos 1980 parece longe de chegar ao fim. Terceiro álbum de estúdio do grupo carioca, Suspenso Graças Ao Princípio da Insignificância (2018, Balaclava Records) convida o ouvinte a explorar um território à meia luz, impregnado pelo cheiro de perfume barato, móveis fora de época e cortinas empoeiradas, como um antigo quarto de motel à beira da estrada. Canções embriagadas pela tristeza, crises existencialistas e conflitos internos do eu lírico, como uma fuga do romantismo torto originalmente apresentado pelo grupo no debute Roupa Linda, Figura Fantasmagórica (2014). Deliciosamente estranho, como tudo aquilo que Gabriel Guerra (voz, guitarra, baixo e teclados), Arthur Braganti (voz e teclados), Lucas de Paiva (voz, piano e teclados), Felipe Vellozo (baixo) e Lucas Freire (bateria) vem produzindo nos últimos anos, o sucessor do ótimo O Ministério da Colocação (2016) assume certo distanciamento em relação ao material pulsante produzido pela banda há dois anos. Trata-se de uma obra contida, mas não menos complexa e hipnótica, como se o quinteto carioca jogasse com a inserção de pequenos detalhes. Leia o texto completo.

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#25. Emerald Hill
Para Sempre Conectados Mas Eternamente Distantes (2018, Fiasco Records)

Para sempre conectados, mas eternamente distantes. O título escolhido pelos músicos Vítor Figueiredo de Almeida (guitarra, voz, sintetizadores) e Gabriel Novais (baixo, voz) para o primeiro álbum de estúdio da dupla como Emerald Hill não poderia ser mais claro. Obra de poemas lancinantes, o trabalho guiado pela completa honestidade dos versos encontra em desilusões amorosas, conflitos pessoais e memórias de um passado ainda recentes os principais componentes líricos para o fortalecimento de cada nova composição, resultando em um permanente exercício de fina exposição sentimental. Concebido em uma estrutura crescente, livre de possíveis respiros, cada composição do disco serve de alicerce para a música seguinte, proposta que bruscamente arrasta o ouvinte para dentro de um imenso turbilhão emocional. “Me arrependo mais a cada vez / Que ouço ‘acabou’ / Mudanças pelas quais passamos / Os votos que não renovamos / Me destroem“, entrega a letra da inaugural Recomeço, um indicativo da poesia amarga que rege o disco. Versos tristes que acabam servindo de estímulo para o caótico cruzamento entre guitarras carregadas de efeitos, ruídos e a bateria firme que orienta a experiência do ouvinte até a derradeira faixa-título. Leia o texto completo.

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#24. Moons
Thinking Out Loud (2018, Balaclava Records)

A beleza explícita nas canções de Thinking Out Loud (2018, Balaclava Records), segundo e mais recente álbum de inéditas do Moons, exige tempo ser totalmente absorvida pelo ouvinte. Imerso em ambientações minimalistas, pianos, arranjos acústicos e vozes submersas, sempre vagarosas, cada fragmento do trabalho se revela aos poucos, em pequenas doses, como se o mineiro André Travassos, grande responsável pelo projeto, fosse capaz de jogar com os próprios sentimentos, ocultando e revelando segredos a todo instante. Próximo e ao mesmo tempo distante do som incorporado no primeiro álbum de estúdio do músico, Songs of Wood & Fire (2016), o registro de dez faixas e pouco menos de 40 minutos de duração se distancia do ambiente arborizado de faixas como Golden Sun e Hunting You para explorar um território urbano, sombrio. São movimentos econômicos que delicadamente transportam o ouvinte para um ambiente à meia luz, talvez um clube de jazz. Leia o texto completo.

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#23. Mahmundi
Para Dias Ruins (2018, Universal Music)

É impressionante a capacidade de Marcela Vale em traduzir as emoções humanas, mesmo as mais complexas, em forma de música pop. Sem necessariamente perder a própria identidade, dialogando com sentimentos e experiências tão particulares, como cenas e acontecimentos de um Rio de Janeiro que cresce por entre os versos, cada composição assinada pela cantora e compositora carioca se adapta aos sentimentos e conflitos pessoais de qualquer indivíduo. Um contínuo desvendar das relações humanas que assume novo direcionamento no delicado Para Dias Ruins (2018, Universal Music). Segundo e mais recente trabalho de inéditas como Mahmundi, o sucessor do excelente álbum homônimo de 2016 confirma o interesse da cantora em transitar por entre gêneros, porém, mantendo firme a consistência sentimental que embala os versos. Composições que vão da descoberta de um novo amor à melancolia fina que sutilmente corrompe qualquer relacionamento, cuidado que ecoa com naturalidade até a derradeira Eu Quero Ser O Mar (“Lá aonde surge a onda pra recomeçar / Na profusão dos sentidos da vida da gente / Da vida do tempo da gente / Mas eu tão aflito / Não consigo / Eu quero ser o mar“). Leia o texto completo.

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#22. BK
Gigantes (2018, Pirâmide Perdida)

E eles falam que eu não sou o mesmo de antes / Fato, fui Cássius Klay voltei Muhammed“. O verso extraído de Abebe Bikila, colaboração com KL Jay que leva o título do próprio nome de BK, diz muito sobre o som produzido pelo rapper carioca em Gigantes (2018, Pirâmide Perdida Records). Obra de transição, o trabalho orientado pelo peso das batidas, novas possibilidades e rimas assume vívido distanciamento em relação ao material entregue no minimalista Castelos & Ruínas (2016). Trata-se de uma obra de ruptura. Composições marcadas pela quebra de velhos paradigmas e evidente desejo do artista em avançar criativamente. Concebido em uma estrutura crescente, direcionamento explícito logo na inaugural Novo Poder — música que utiliza do sample de Robot Rock, da dupla Daft Punk —, Gigantes transporta o som produzido pelo rapper para um novo território. Como indicado no título do trabalho, BK rima sobre o próprio crescimento — pessoal e material —, refletindo sobre tudo aquilo que conquistou nos últimos anos, porém, olhando para frente, antecipando conflitos e desafios espalhados pelo caminho. “Eu quero ser maior que essas muralhas que eles construíram ao meu redor“, branda em Titãs, um indicativo da força poética que serve de sustento ao disco. Leia o texto completo.

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#21. Kiai
Além (2018, Escápula Records)

Quatro anos, esse foi o tempo investido pelos músicos Marcelo Vaz (piano e teclado), Lucas Fê (bateria) e Dionísio Souza (baixo elétrico) para a produção do complexo Além (2018, Escápula Records), primeiro álbum de estúdio do grupo gaúcho Kiai. Ora climático e intimista, feito para ser apreciado sem pressa, ora grandioso, conduzido em meio a nuances e camadas instrumentais de vívido esmero, o trabalho de sete faixas (oito na versão digital) convida o ouvinte a se perder em um cenário marcado pela constante transformação, como uma fuga declarada do óbvio. Completo pela presença do guitarrista Isaías Soares, hoje ex-integrante da banda, a estreia do grupo gaúcho é um trabalho que exige tempo até ser absorvido em essência pelo ouvinte. De fato, são mais de 70 minutos de duração dissolvidos em meio a composições extensas, atos espaçados com mais de 10 minutos de duração onde cada instrumentista assume uma posição de merecido destaque, detalhando um universo de histórias e influências particulares mesmo no completo silenciamento das vozes. Leia o texto completo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.