Os 50 Melhores Discos Nacionais de 2013 [10-01]

/ Por: Cleber Facchi 20/12/2013

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Ceticências

#10.Ceticências
Lua (Independente)

Cadu Tenório é dono de um território próprio. Seja nas imediações claustrofóbicas do Sobre A Máquina, ou qualquer outro projeto em que apareça como colaborador, por onde passa, os traços deixados pelo músico são evidentes, sempre encarados em uma arquitetura soturna. Contudo, nunca antes o artista esteve tão ciente da própria obra quanto no universo isolado de Lua. Mais recente lançamento pelo Ceticências, o projeto deixa de lado o distanciamento climático dos inventos que o antecedem para encontrar na presença de Sávio de Queiroz um natural complemento. Como duas crianças brincando em um território sombrio, a dupla estabiliza sintetizadores e fragmenta ambientações em um estágio de forte provocação para o ouvinte. Mais do que um agregado aleatório de ruídos, Lua se revela como uma obra de limites bem definidos, como se cada canção preparasse o terreno para a chegada da faixa seguinte. Em um detalhamento de forte desconstrução, o disco faz com que meros ruídos e vozes fragmentadas contem histórias, como se dentro da habitual desordem do disco, um cenário inteiro fosse aos poucos construído. [+]

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karol Conká

#09. Karol Conká
Batuk Freak (Vice)

Poucas vozes do Rap Nacional parecem ter evoluído tanto em tão pouco tempo quanto Karol Conká. Curitibana, a artista trouxe nas batidas e na rima frenética de Batuk Freak um cenário que mesmo íntimo do pop, jamais se deixa seduzir pelas repetições do estilo. A presença do catarinense Nave como principal produtor da obra, garante aos versos e ao fluxo que acompanha a rapper um natural reforço para as canções. São músicas que passeiam com descompromisso pelo cotidiano da artista (Gandaia), falam sobre amor (Que Delícia) e até chamam a atenção para as pistas (Caxambu) sem necessariamente se distanciar dos versos de políticos/sociais que apresentaram a artista. Como bem expressa no interior de Gueto Ao Luxo, Conká é a voz dos diferentes personagens da periferia e até de quem vive fora dela, indivíduos que aproximam luxo e gueto sem prováveis divisões sociais. Comprometida com a própria estética, Conká assume na construção das rimas e na base dos arranjos um domínio próprio, um espaço de evidente organização lírica e sonora, mas que aos poucos se expande, rumando diretamente para o grande público. [+]

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Sants

#08. Sants
Low Moods/Soundies! (Beatwise)

A primeira impressão de quem ouve o trabalho de Sants é a mesma: “esse cara só pode ser gringo”. As batidas que flertam com o toque sedutor do Hip-Hop/R&B e as referências instaladas em cada faixa, fazem do produtor um artesão tão criativo quanto qualquer nome de peso da cena estrangeira. Diego Santos, entretanto, é brasileiro, paulistano para ser mais específico, e carrega no manuseio atento de samples e beats um conjunto de inventos em plena expansão. Flying Lotus ou Hudson Mohawke, Rustie ou Shlohmo, em nada o jovem de apenas 21 anos fica devendo ao que outros figurões do gênero exibem como “novidade” lá fora. Dono de dois EPs de forte representatividade para a eletrônica nacional – Soundies! e Low Moods -, Sants fez das canções apresentadas ao longo dos meses um cardápio aberto ao experimento. Seja na melancolia de Alone, ou na leveza de Valerie, cada música assinada pelo artista atravessa gerações e brinca com referências essencialmente próximas. Sejam nas animações clássicas do Cartoon Network ou em um simples passeio pela Rua Augusta, tudo se transformasse em (boa) música nas mãos de Sants. [+] [+]

 

Dorgas

#07. Dorgas
Dorgas (Vice)

Das guitarras enevoadas de Verdeja Music (2010), aos ensaios jazzísticos em Loxhanxha (2011), pouco parece ter sobrevivido do conceito original do Dorgas. Talvez apenas as vozes inteligíveis e a mudança brusca de percurso tenha acompanhado o quarteto carioca, que ao apresentar o primeiro grande álbum da carreira assume uma completa transformação. Visivelmente próximo da música nacional, principalmente na forma como os arranjos esbarram na obra de Marcos Valle e Jards Macalé, o disco encontra na proposital ironia o ponto de partida para a (des)construção da obra. Os versos (hoje) acessíveis, instalam na esquizofrenia de Faisão Dourado (Tendência e Cor) e o “Hit Pop” Hortência uma completa fuga da realidade, utilizando desse curioso labirinto de tendências desconstruídas um ponto acessível ao espectador. Escapar da atmosfera tímida e naturalmente excêntrica do disco parece um erro, afinal, que segredos a banda esconde nas melodias românicas de Viratouro, ou quais são os reais significados que habitam o interior da desconexa Bósforo? Sem respostas, a estreia do Dorgas permanece como um trabalho muito mais atrativo do que qualquer obra de interpretação óbvia. [+]

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Iara

#06. Iara Rennó
Iara (Joia Moderna)

A crueza dos acordes e o minimalismo dos vocais chegam como novidade para quem esperava pela essência colorida de Iara Rennó. Longe da pluralidade de sons que abasteceram os dois discos pelo DonaZica, e distante das composições versáteis que a aproximaram de Tulipa Ruiz, Tom Zé e outros nomes da cena nacional, a cantora e compositora paulistana assume no primeiro registro solo um ambiente de plena ruptura. São faixas que se esquivam da redundância da nova MPB, abraçam os transambas de Caetano Veloso, até fragmentar e organizar a imagem da cantora em um novo cenário, exercício que praticamente converte a artista em um novo “personagem”. De fluência precisa, quase matemática em determinados pontos, o disco assume na produção de Moreno Veloso uma inevitável extensão daquilo que Caetano vem promovendo desde a chegada de (2006). Construído em uma atmosfera de caos controlado, o projeto – Iara – cruza vozes e instrumentos em um mesmo composto musical, um tratamento homogêneo que funciona com naturalidade para a coluna vertebral que sustenta o álbum. Cru, mas nunca distante dos detalhes, a “estreia” de Rennó é uma obra que abraça com segurança os pequenos experimentos – mesmo que os limites e o planejamento da obra seja explícito durante todo o tempo. [+]

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Marcelo Jeneci

#05. Marcelo Jeneci
De Graça (Slap)

O melhor da vida é de graça” e reside no interior do segundo álbum solo de Marcelo Jeneci. Menos “épico” que o antecessor Feito Pra Acabar, 2011, o registro encontra no detalhamento pop das melodias e nos versos de proximidade abrangente uma natural comunicação com o público – seja ele qual for. Como se fosse feito para toda a família, De Graça entrega um Jeneci maduro e, consequentemente, capaz de brincar de forma atenta com as próprias melodias. As canções enquadradas em uma leveza radiofônica vão de encontro aos grandes exemplares da nossa música, fazendo da obra de Toquinho, Erasmo Carlos e Caetano Veloso um palco aberto às transformações. A matemática simples das palavras faz nascer faixas como O Melhor Da Vida e Pra Gente Se Desprender, músicas que dividem Jeneci entre o erudito e o popular sem que exista um provável distanciamento entre as canções. Além da presença de Laura Lavieri, parceira do cantor desde as primeiras músicas, nomes como Kassin, Adriano Cintra e Eumir Deodato reforçam a atmosfera do trabalho. São interferências que ampliam a multiplicidade estética da obra, e fazem do presente disco um passo firme dentro da proposta cada vez menos isolada de Jeneci. [+]

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Projota

#04. Rashid
Confundindo Sábios (Independente)

O crescimento estampa as rimas, bases e até mesmo a capa que ilustra Confundindo Sábios. Solucionando de forma atenta todos os erros (e acertos) impressos nos anteriores Dádiva e Dívida (2011) e Que Assim Seja (2012), Rashid encontra na terceira mixtape sua obra mais completa e, ainda assim, um palco aberto às possíveis transformações. Dos versos sóbrios conquistados no trabalho anterior, o rapper parece extrair toda a construção temática das rimas, que ao serem cruzadas com as bases e samples fortes, típicos do álbum de 2011, rompem com as prováveis limitações do artista. Acompanhado de perto pelo velho colaborador DJ Caíque, Rashid caminha por um território de evidente sobriedade e relação entre as músicas, faixas que entre temas sociais (Virando a Mesa) e versos de envolvimento romântico (Vício) em nenhum instante ecoam irregularidade. Se durante as primeiras composições Rashid parecia rimar sobre um universo bastante particular – vide Porradão de 5 e Poucos e Bons -, hoje o discurso se amplia. O crescimento afasta o rapper de uma provável zona de conforto, dialogando com os mais distantes grupos sociais e até de forma significativa sobre ele mesmo. [+]

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Castello Branco

#03. Castello Branco
Serviço (Independente)

Amor é palavra de ordem em Serviço. Álbum de estreia do cantor e compositor Castello Branco, o registro de 12 faixas segue em uma direção contrária ao que o músico carioca parecia habituado a promover com a R.Sigma, sua antiga e hoje extinta banda. Marcado pelas emanações hippies e pontuado por versos de forte detalhamento espiritual, o álbum passeia pelos sentimentos com uma leveza poucas vezes vista em trabalhos do gênero. Resultado da própria essência do músico – criado em um monastério -, o álbum encontra na aproximação com Deus e na pureza dos sentimentos um estado de conforto que preenche o disco até a última faixa, sem distinções. Imensa comunidade, o trabalho nada mais é do que um imenso ponto de encontro para personagens – Mahmundi, Cícero, Diogo Strausz e Alice Caymmi entre eles – e gêneros, como se tudo fosse encarado com delicadeza e conforto abrangente. A atmosfera terna que ocupa o disco, nada mais é do que um passo seguro para a consolidação dos versos, cuidado que faz de Crer-Sendo, Necessidade e Kdq músicas adaptadas às diferentes percepções do indivíduo. Mais do que um mero álbum, uma verdadeira morada para que sons e sentimentos convivam em plena harmonia. [+]

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Apanhador Só

#02. Apanhador Só
Antes Que Tu Conte Outra (Independente)

As regras há muito não são as mesmas dentro dos domínios da música nacional. Desde o simbólico “hiato por tempo indeterminado” de um certo quarteto carioca, poucos se arriscaram a ir além do que parecia inicialmente previsto em solo tupiniquim – seja dentro da industria musical, ou no espaço de “libertação” da cena independente. Ciente de todas essas transformações, ao alcançar Antes Que Tu Conte Outra, a gaúcha Apanhador Só não apenas resolveu inverter os formatos, como trouxe para a própria música um novo direcionamento. Lançado com base em um financiamento coletivo, o álbum está longe de confortar o ouvinte pagante em um estágio de redundância ou provável sequência ao disco anterior, de 2010, pelo contrário, brinca o tempo todo com um jogo intencional de desconforto. Costurado pela experimentação e fluxo torto das melodias, o álbum segue até a última música em uma trama que mesmo “estranha”, curiosamente parece difícil de ser evitada.

Dividido em dois atos claros, o disco traz na primeira metade a agitação dos versos de Alexandre Kumpinski e o instrumental próprio de Felipe Zancanaro. Os ruídos ocasionais, mudanças de rumo e quebras conceituais fazem de Despirocar e Mordido faixas puramente instáveis, como um dedo que cutuca os tímpanos do espectador sem parar. Mesmo a segunda metade da obra, orquestrada pelo uso de faixas “acessíveis”, de maneira alguma se desprendem da proposital irregularidade. São canções existenciais, como Rota, ou de tratamento cotidiano, Não se precipite, que fragmentam os exageros acumulados na última década em um cenário que está longe de ser novo, mas que em nenhum momento busca parecer igual. [+]

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Emicida

#01. Emicida
O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui (Laboratório Fantasma)

“Irmão, você não percebeu que você é o único representante do seu sonho na face da Terra? Se isso não fizer você correr, chapa, eu não sei o que vai”.

A mensagem em Levanta e Anda, mais do que um recado de Emicida para o ouvinte, parece fluir como uma representação da luta do próprio rapper em busca de um posto de destaque no rap nacional. Depois de duas Mixtapes que trouxeram frescor à cena brasileira – Pra Quem Já Mordeu Um Cachorro Por Comida, Até Que Eu Cheguei Longe… (2009) e Emicídio (2010) -, o rapper alcança o primeiro registro de estúdio em uma proposta que olha para o grande público, mas que em nenhum instante se esquiva das periferias. Do grito urbano que acompanha Nóiz (“Minha palavra vale na rua, onde não existe contrato”) aos flertes com o Funk Ostentação, em Gueto (parceria com o cobiçado MC Guimê), cada etapa do registro percorre diferentes aspectos do universo que circunda o artista, unindo passado (Crisântemo) e presente (Hoje Cedo) em uma atmosfera que ultrapassa sem dificuldades os limites do próprio criador.

Oposto aos projetos que o antecedem, quando Emicida olhava para os diferentes aspectos da sociedade de forma aleatória, com o presente álbum, a unidade entre as faixas ecoa como um reforço natural para as rimas. Pontuado pelos versos da poetisa Elisa Lucinda, e atento à estética do “Milionário do Sonho”, o rapper revela uma coluna vertebral de conceitos que aproxima todas as canções do disco, tratamento poucas vezes observado em obras do gênero – dele ou de outros rappers. Livre do isolamento anunciado até a última Mixtape, Emicida atravessa o território urbano do álbum cercado de colaboradores. São os versos acolhedores de Tulipa Ruiz (em Sol de Giz de Cera), ou o romantismo de Rafa Kabelo (no R&B de Alma Gêmea), complementos que não apenas expandem a sonoridade do rapper, como aproximam o artista de uma nova parcela do público. Falseando um crooner dos anos 1950 na capa do disco, Emicida está longe de presentear o ouvinte com um discurso gasto, pelo contrário, nunca antes esteve tão atual e ciente da própria obra quanto agora. [+]

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.