Resenha: “More Life”, Drake

/ Por: Cleber Facchi 24/03/2017
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Há tempos Drake não vivia uma fase tão produtiva quanto a atual. Em um intervalo de apenas dois anos, o rapper canadense deu vida a duas ótimas mixtapes – If You’re Reading This It’s Too Late (2015) e What a Time to Be Alive (2015), essa última, parceria com Future –, lançou um trabalho marcado pela boa recepção comercial – Views (2016) –, e ainda esteve envolvido em uma série de faixas colaborativas, caso do hit Work, parceria com a cantora Rihanna, For Free, de DJ Khaled e outros destaques do Hip-Hop/R&B norte-americano.

Todo esse excesso de composições e ideias talvez desconexas acaba se refletindo na forma como Drake decidiu lançar o novo registro de inéditas: como uma playlist. Intitulado More Life: A Playlist by October Firm (2017), o presente “álbum” do artista canadense se espalha sem pressa em um intervalo de mais de 80 minutos de duração. São 22 composições que passeiam por entre gêneros, diferentes colaboradores, estúdios e produtores de forma essencialmente acessível, íntima do grande público.

More Life, como tudo aquilo que o Drake vem produzindo desde Nothing Was The Same, em 2013, utiliza das rimas lançadas pelo rapper como um complemento ao rico catálogo de samples e versos interpretados por diferentes convidados ao longo do disco. Uma coleção de ideias, fragmentos e pequenos interlúdios que tem início no canto negro de Free Smoke e segue de forma coesa, ainda que exageradamente extensa, até a construção da derradeira Do Not Disturb.

Sem necessariamente depender de uma mesma base instrumental, vide a atmosfera que ocupa o denso Take Care, de 2011, Drake faz de cada composição um ato isolado – lírica e musicalmente. Instantes em que o artista passeia pelo dancehall (Madiba Riddim, Blem), grime (Get It Together, Passionfruit) e R&B (4422, Gylchester) sem necessariamente fazer disso o princípio para uma obra confusa. Duas dezenas de faixas que replicam parte expressiva dos principais sucessos do rapper nos últimos anos, vide a similaridade com músicas como One Dance e Hotline Bling.

Costurado por versos intimistas que passeiam por entre cenários urbanos, relacionamentos instáveis, abusos com drogas e conflitos pessoais, Drake cria pequenas brechas para que parceiros de diferentes campos da música ocupem o trabalho. Entre os convidados, nomes como Kanye West, Young Thug, Travis Scott, 2 Chainz, Sampha e PartyNextDoor. Entretanto, o destaque acaba ficando por conta de artistas menos conhecidos, caso de Jorja Smith, dona da voz forte na intensa Get It Together, ou mesmo a rápida passagem de Zoë Kravitz, colaboradora em Passionfruit.

Entre retalhos instrumentais extraídos da obra de Lionel Richie, Hiatus Kaiyote, Earth, Wind & Fire e Jennifer Lopez, Drake faz de More Life uma obra essencialmente versátil. Versos, batidas, bases e samples que jogam com a mesma colisão de ideias incorporada de maneira instável por Kanye West em The Life of Pablo e Frank Ocean em Blonde. Um resumo inteligente, pop e particular de tudo aquilo que o rapper canadense vem produzindo nos últimos anos.

 

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.