[50-41]
.
#50. Death Grips
Government Plates (Independente)
Depois de dois grandes discos apresentados em 2012 – The Money Store e NO LOVE DEEP WEB -, ninguém esperava que o Death Grips voltasse com um novo registro em estúdio tão cedo. Ou melhor, um registro tão bom quanto Government Plates. Ainda mais excêntrico que o trabalho proposto anteriormente pelo trio californiano, o álbum de 11 faixas encontra no estágio de anarquia que preenche os sons e versos um princípio de renovação para o projeto. Íntimo da eletrônica, o disco posiciona as rimas de MC Ride em um segundo plano, abrindo espaço para que Zach Hill e Flatlander brinquem com os experimentos sintéticos. O resultado está em uma obra que inevitavelmente regressa ao território da mixtape Exmilitary (2011), sem necessariamente perder a força alcançada no último ano. Em meio ao cenário caótico proposto para o disco, o mais curioso talvez seja observar o quanto o álbum soa “acessível” ao público médio, algo que Birds e Whatever I want (Fuck who’s watching) revelam em um catálogo de beats e vocalizações versáteis, sem necessariamente perder a fúria do coletivo. [+]
.
#49. Kelela
Cut 4 Me (Fade To Mind)
De todo o (imenso) catálogo de obras que visitaram a década de 1990 ao longo do ano, poucos foram os registros que alcançaram um resultado tão nostálgico e ainda assim inventivo quanto Cut 4 Me. Mixtape de estreia da cantora norte-americana Kelela, o trabalho encontra na seleção cuidadosa dos produtores um princípio de transporte para o cenário musical construído há duas décadas. Tendo o R&B como base conceitual, nomes como Jam City, Nguzunguzu, Girl Unit e Kingdom conseguiram criar um verdadeiro cenário de pequenas experiências soturnas. Um efeito potencializado ao se encontrar com as vocalizações sintéticas que a artista sustenta de forma melancólica durante toda a construção da obra. Marcado de forma expressiva pela dor, o disco vai de encontro aos sentimentos mais angustiantes de Kelela, revivendo de forma dolorosa amores que não deram certo, os medos e todo um conjunto de versos que dialogam de forma precisa com o isolamento. [+]
.
#48. Earl Sweatshirt
Doris (Columbia/Tan Cressida)
Earl Sweatshirt passou os últimos cinco anos experimentando no uso de beats, samples e, principalmente, na construção das próprias rimas. Um dos integrantes mais novos do coletivo Odd Future, o jovem rapper fez do primeiro registro solo uma coleção de tramas sombrias e versos essencialmente maduros – um feito raro para um “garoto” de 19 anos. Consumido pelas trevas, Doris é a plena representação da nova safra de rappers californianos, uma versão desesperançosa e nada romântica daquilo que Frank Ocean trouxe no último ano com Channel Orange. De composição hermética – visível na maneira como as bases são arquitetadas pelo trabalho -, o disco usa do isolamento e da melancolia de seu criador como um exercício de aproximação com o público. Seja na construção individual das músicas, caso de Chum, ou nas pequenas parcerias – incluem Tyler The Creator, Mac Miller, Domo Genesis e o já citado Frank Ocean -, cada instante da obra ecoa aproximação, como se ao dar play no disco, o ouvinte fosse imediatamente sugado para o universo autoral de Sweatshirt. [+]
.
#47. Foxygen
We Are the 21st Century Ambassadors of Peace & Magic (Jagjagwar)
Seja bem vindo aos anos 1960. Na contramão de uma centena de outros projetos – sempre inclinados ao resgate do espírito Hippie -, o duo Jonathan Rado e Sam France fez do mais recente álbum do Foxygen uma curiosa e renovada visita ao passado. São os mesmos arranjos, timbres e tramas líricas que abasteceram o cenário musical apresentado há duas décadas. Um catálogo de referências nostálgicas e naturalmente empoeiradas, mas que de forma alguma se distanciam da proposta autoral dos compositores. Construído em cima de histórias curtas, relacionamentos fracassados ou mesmo versos de fluxo existencial, We Are the 21st Century Ambassadors of Peace & Magic percorre toda a California em um estágio de celebração e busca espiritual. Sem parecer datado, o trabalho se sustenta por conta das próprias experiências e canções, algo que San Francisco, Shuggie e o hino No Destruction revelam com uma beleza rara. A melhor forma de visitar o passado, sem fugir do presente. [+]
.
#46. Tim Hecker
Virgins (Kranky)
O lançamento de Ravedeath, 1972, há dois anos, parecia ter posicionado Tim Hecker em um estágio autoral difícil de ser superado. O manuseio específico dos ruídos, a extensa tapeçaria climática e os atos curtos criados ao longo da obra, ainda hoje se revelam como um ponto de pleno aprimoramento dentro da estética Ambient/Drone. Consciente das próprias “limitações” e da maturidade conquistada previamente, o artista canadense fez de Virgins, sétimo registro em estúdio, uma expressiva obra de recomeço. Sustentando atos cada vez mais extensos e faixas projetadas de forma complementar, o músico faz de cada composição dissolvida pela obra um natural acréscimo para a formação de um bloco imenso de experiências sonoras interligadas. É como se cada piano soturno, loop atmosférico ou mínimo ruído que preenche a obra fosse parte essencial da imensa (e hipnótica) faixa que Hecker busca desenvolver com precisão ao longo do disco. [+]
.
#45. Drake
Nothing Was The Same (Cash Money/Young Money)
Thank Me Later (2010) e Take Care (2011) arremessaram sem grandes dificuldades Drake para o topo dos grandes nomes do rap atual. A relação melódica com o R&B, os pequenos flertes com o pop e a construção de obras cada vez mais grandiosas, garantiram ao artista a base para uma sequência bem sucedida de canções. Todavia, no meio de obras cada vez mais extensas, algumas composições acabaram perdendo o rumo, esquivando o rapper de um registro verdadeiramente assertivo. Em Nothing Was The Same, terceiro registro solo, Drake parece limar com precisão todos os exageros assumidos nos primeiros discos. Muito mais “humano”, o trabalho encontra no texto de autoajuda e na constante temática da superação a base para aquilo que Started From The Bottom e demais faixas do registro carregam com sobriedade. Sem se desprender de possíveis hits – caso de Hold On, We’re Going Home e Too Much -, o rapper parece alcançar uma obra que aponta para todas as direções, sem necessariamente perder o próprio foco. [+]
.
#44. Giraffage
Needs (Alpha Pup)
Com uma mão no R&B da década de 1990, e outra nos sons que conduzem a cena californiana, Charli Yin transformou Needs, obra de estreia do Giraffage, em um catálogo para pequenos experimentos. Vocais fragmentados entre as batidas, instantes de melancolia casados com fórmulas eróticas, e todo um conjunto de sons autorais praticamente transportaram o disco para além dos limites do gênero. Imensa coletânea de bases à espera de possíveis rimas e cantos, o álbum faz de cada composição um objeto isolado dentro do projeto. Enquanto Undress U parece servir como uma extensão da obra de Abel Tesfaye (The Weeknd), outras como Money e Home aproximam o disco do trabalho de Beyoncé e demais nomes recentes, caso da dupla AlunaGeorge. Construído em cima de pequenos detalhes, Needs é uma obra que aproxima samples e bases com verdadeiro cuidado. Um trabalho que serve tanto como trilha sonora para os instantes de solidão do indivíduo, como a base para os encontros mais íntimos de qualquer casal. [+]
.
#43. Sky Ferreira
Night Time, My Time (Capitol)
Sky Ferreira poderia ter seguido a trilha de outras jovens cantoras e sufocado com a redundância do mundo pop. Felizmente, resolveu ir além. Aos comandos da dupla Ariel Rechtshaid (Vampire Weekend, Haim) e Justin Raisen (Charli XCX, Tegan and Sara), a cantora norte-americana fez de Night Time, My Time um típico exemplar do que há de mais comercial na música recente, mas que ainda assim consegue provocar. São canções sustentadas de forma explícita pela melancolia (Nobody Ask Me), amor (24 Hours) e separação (You’re Not the One), porém, ao abraçar o desespero de forma próxima da insanidade, um novo catálogo de referências dita com ineditismo os rumos da obra. Com ares de registro clássico dos anos 1980, o disco revisita aspectos específicos da discografia de Madonna, sem necessariamente perder a composição própria de Ferreira. Autorizando pequenos experimentos – Omanko, Love In Stereo -, e brincando com o pop-rock – I Blame Myself, Heavy Metal Heart -, Sky entrega ao ouvinte uma obra versátil, capaz de dialogar com todos os públicos, sem perder a própria especificidade. [+]
.
#42. The National
Trouble Will Find Me (4AD)
Trouble Will Find Me é uma obra que cheira à álcool e tem sabor de depressão. Sexto registro em estúdio do The National, o álbum traz de volta toda a carga de referências conquistadas pelo grupo de Cincinnati, Ohio desde o amargo Sad Songs for Dirty Lovers (2003). A diferença em relação ao fluxo instrumental proposto até o lançamento de High Violet (2010), então último registro em estúdio da banda, está na construção de faixas sustentadas por uma arquitetura acústica, essencialmente compacta e simples. De composição lírica muito mais egoísta que os trabalhos anteriores, o álbum assume na poesia bêbada de Matt Berninger um efeito de desespero constante, sempre enquadrado em uma atmosfera pessoal. Entre faixas como Don’t Swallow The Cap, Demons e Sea Of Love, o disco arrasta o ouvinte para os pesadelos e angústias confessas do cantor, “personagem” que em nenhum momento se distancia do próprio universo temático de pequenas desilusões. Um disco feito para ser absorvido em doses ou em uma só golada – até se afogar. [+]
.
#41. Fuck Buttons
Slow Focus (ATP)
Caos sob controle. Desde o lançamento de Street Horrrsing, em 2008, o conjunto atento de ruídos, sintetizadores e batidas instáveis garantiram ao duo Fuck Buttons – Andrew Hung Benjamin e John Power – uma obra distante de possíveis limites. Com Slow Focus, terceiro registro em estúdio da dupla britânica, essa mesma percepção se faz evidente, porém, em um estágio ainda maior de invento e desconstrução da própria estética. Com um destaque maior para o aproveitamento da percussão, o registro segue até o último instante em um conjunto de reverberações épicas. São faixas que transitam pelas experiências nunca óbvias do Drone (Year Of The Dog), traços específicos da World Music (Sentients) e até mesmo passagens por sons de apelo “comercial” (The Red Wing). Mesmo em meio ao conjunto extenso de colagens e ruídos que se aproximam das faixas, Slow Focus em nenhum momento distancia o duo da inserção de pequenos detalhes e minuciosos encaixes sonoros. Das vocalizações breves aos sintetizadores minimalistas, cada música carrega um cardápio ilimitado de sons e essências, o que converte o disco de forma natural em uma gigantesca discografia dissolvida. [+]
.
.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.