Os 50 Melhores Discos Internacionais de 2016 [30-21]

/ Por: Cleber Facchi 22/12/2016

[30 – 21]

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#30. Rihanna
ANTI (Roc Nation / Westbury Road)

O refrão explosivo de Bitch Better Have My Money, a melodia pop de FourFiveSeconds– parceria com Paul McCartney e Kanye West -, a base dançante de Only Girl (In The World) ou a pegajosa letra de We Found Love. Nada disso faz parte do arsenal que abastece ANTI (Roc Nation / Westbury Road). De fato, é muito mais fácil montar uma lista com todas as canções, parcerias e temas que foram abandonadas por Rihanna nos últimos meses do que levantar todos os elementos que pareciam garantidos dentro do oitavo registro de inéditas da cantora – vide a série de colaborações previamente estabelecidas com Sia, Calvin Harris, Kiesza e Charli XCX. ANTI, como o próprio título indica, é uma obra de ruptura e oposição. Da imagem de capa, um trabalho assinado pelo artista gráfico Roy Nachum, passando pela parcial ausência de hits e versos comerciais, além da fuga de temas descomplicados, típicos da EDM, Rihanna estabelece um trabalho em que busca perverter a própria imagem – mesmo que temporariamente. Nada parece acessível. Todas canções se movimentam de forma particular, como se a cantora (e o ouvinte) trocassem segredos em um cenário essencialmente restrito, intimista e sombrio. [Resenha]

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#29. Kevin Morby
Singing Saw  (Dead Oceans)

Kevin Morby está longe de parecer um iniciante. São quatro registros de peso como baixista do Woods – Songs of Shame (2009), At Echo Lake (2010), Sun and Shade(2011) e Bend Beyond (2012); dois trabalhos em parceria com Cassie Ramone (ex-Vivian Girls) pelo The Babies – The Babies (2011) e Our House on the Hill (2012) –, além de uma sequência de obras em carreira solo – Harlem River (2013) e Still Life(2014). Ainda assim, é com o recente Singing Saw  (Dead Oceans) que o cantor e compositor norte-americano oficialmente se apresenta ao “grande público”. Obra mais acessível e madura de toda a discografia de Morby – pelo menos em carreira solo –, o registro que conta com produção de Sam Cohen – músico que já trabalhou com artistas como Norah Jones e Shakira – dá um salto em relação ao material apresentado nos dois primeiros discos de inéditas do cantor. O mesmo folk rock nostálgico inaugurado em Harlem River, porém, encorpado por uma série de novas referências, grande parte delas ancoradas em elementos vindos dos anos 1960 e 1970. [Resenha]

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#28. Kendrick Lamar
Untitled Unmastered (Top Dawg / Aftermath / Interscope)

Produzido em um intervalo de quase dois anos, To Pimp a Butterfly (2015), terceiro álbum de estúdio de Kendrick Lamar, está longe de se limitar ao conjunto de 16 composições que abastecem a obra. Prova disso está no bem-sucedido Untitled Unmastered (Top Dawg / Aftermath / Interscope), uma coletânea com oito faixas inéditas que resgata parte da atmosfera, time de colaboradores e elementos orquestrados pelo rapper californiano há poucos meses. De essência experimental, mergulhado no mesmo jogo de arranjos jazzísticos que abasteceram o disco lançado em 2015, Untitled Unmastered transporta a música, rimas e temas incorporados por Lamar para dentro de um ambiente tão acessível quanto complexo. São atos instrumentais extensos, versos que passeiam pelo R&B/Soul dos anos 1970, diálogos e coros de vozes que dançam com leveza enquanto o time de músicos comandado por Stephen Bruner (Thundercat) muda de direção a cada curva do álbum. [Resenha]

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#27. Whitney
Light Upon the Lake (Secretly Canadian)

Versos tristes, declarações de amor e melodias que chegam até o ouvinte com extrema delicadeza. Em Light Upon The Lake (2016, Secretly Canadian), primeiro álbum de estúdio do coletivo norte-americano Whitney, Max Kakacek (ex-integrante do Smith Westerns) e o parceiro Julien Ehrlich (baterista do Unknown Mortal Orchestra) exploram sentimentos, histórias e confissões de forma sempre sensível, revelando ao público uma coleção de músicas essencialmente simples, mas que encantam pela composição agridoce de cada fragmento de voz. Nascido das experiências e temas instrumentais anteriormente incorporados por cada integrante da banda – hoje completa com Josiah Marshall, Will Miller, Malcolm Brown, Print Chouteau e Charles Glanders – o álbum de apenas 10 faixas e exatos 30 minutos de duração parece flutuar entre diferentes cenários, décadas e referências musicais. Melodias aprazíveis, sempre acolhedoras, tão íntimas de veteranos que marcaram o folk psicodélico dos anos 1960/1970, como de nomes recentes, principalmente Girls, The Shins e Fleet Foxes. [Resenha]

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#26. Jamila Woods
HEAVN (Closed Sessions)

Poemas publicados em diferentes antologias, canções assinadas em parceria com nomes como Chance the Rapper e Macklemore & Ryan Lewis, obras produzidas de forma colaborativa com o músico Owen Hill no projeto Milo & Otis. Sem restrições, de forma sempre atenta, Jamila Woods passou os últimos cinco anos se relacionando com um time de artistas estadunidenses. Produtores, instrumentistas, compositores e, principalmente, representantes do Hip-Hop de Chicaco, artistas e colaboradores que cercam a cantora dentro do recém-lançado HEAVN (Closed Sessions). Extensão segura do material produzido há poucos meses em Surf (2015), obra apresentada pelo coletivo Donnie Trumpet & The Social Experiment, a estreia solo de Woods confirma a completa versatilidade da cantora. São composições que mergulham na música negra dos anos 1970 (Bubbles), abraçam o neo-R&B de Erykah Badu no final da década de 1990 (Lonely Lonely) e alcançam o presente cenário em meio a batidas e rimas que vão do debate sobre racismo ao empoderamento feminino (Blk Girl Soldier). [Resenha]

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#25. Parquet Courts
Human Performance (Rough Trade)

Evoluir sem necessariamente perverter a própria essência musical. Dois anos após o lançamento da dobradinha Sunbathing Animal (2014) e Content Nausea (2014) – este último, apresentado ao público sob título de Parkay Quarts – Andrew Savage (voz, guitarras), Austin Brown (voz, guitarras), Sean Yeaton (baixo) e Max Savage (bateria) estão de volta um novo registro de inéditas do Parquet Courts: Human Performance (Rough Trade). Obra mais “ousada” de toda a discografia dos nova-iorquinos, musicalmente o presente álbum dá um salto em relação ao material produzido anteriormente pela banda. Ainda que o diálogo com elementos do pós-punk e rock alternativo dos anos 1990 seja mantido durante toda a execução do trabalho, pouco do som pensado para os iniciais American Specialties (2011) e Light Up Gold (2012) parece ter sobrevivido, revelando um claro exercício de reposicionamento por parte do quarteto. [Resenha]

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#24. Esperanza Spalding
Emily’s D+Evolution (2016, Concord)

Da estreia com o intimista Junjo (2006), passando pelo lançamento de obras como Esperanza (2008), Chamber Music Society (2010) e até a tentativa de parecer “acessível” com a entrega do comercial Radio Music Society (2012), Esperanza Spalding passou a última década tentando encontrar a própria identidade musical. Curioso perceber nas canções do intenso Emily’s D+Evolution (Concord), trabalho que mais se distancia da discografia da cantora, o explícito fortalecimento de uma criativa assinatura autoral. Vozes e guitarras descontroladas em Good Lava, o suspiro romântico em Unconditional Love, arranjos que crescem e encolhem a todo minuto no interior de Earth to Heaven, a leveza que orienta arranjos e versos na doce Noble Nobles. Durante pouco mais de 45 minutos, tempo de duração da obra, Spalding não apenas derruba todas as pontes para os últimos trabalhos de estúdio, como perverte a essência do presente registro. Uma constante alteração que define os rumos da obra até o acorde final da instável I Want It Now. [Resenha]

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#23. Vijay Iyer & Wadada Leo Smith
A Cosmic Rhythm With Each Stroke (ECM)

A tristeza corrompe cada nota apresentada em A Cosmic Rhythm With Each Stroke (ECM). Trabalho desenvolvido em parceria entre o pianista e compositor nova-iorquino Vijay Iyer e o trompetista Wadada Leo Smith, um dos veteranos do avant-garde jazz norte-americano, a obra de ambientação sorumbática se espalha lentamente, revelando uma imensa colcha de retalhos marcada por temas intimistas, profundamente sombrios e emocionais. Em um movimento conjunto que vai da abertura do registro, com Passage, e segue até a execução da extensa Marian Anderson, no encerramento da obra, Iyer e o parceiro de estúdio trocam confissões e sentimentos que sutilmente ocupam o interior do trabalho. Uma espécie de canto silencioso, por vezes perturbador, capaz de ocupar os pequenos respiros deixados pelo trompete de Smith e a imensa base instrumental que o pianista detalha até o último instante do álbum. [Resenha]

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#22. Hamilton Leithauser + Rostam
I Had a Dream That You Were Mine (Glassnote)

Depois de uma década como vocalista do grupo nova-iorquino The Walkmen, em 2014, Hamilton Leithauser apresentou ao público o primeiro trabalho em carreira solo: Black Hours. Gravado em Los Angeles, Califórnia, o registro que contou com a presença de nomes como Amber Coffman (Dirty Projectors), Richard Swift (The Shins) e Morgan Henderson (Fleet Foxes) trouxe na produção assumida por Rostam Batmanglij (ex-Vampire Weekend) o início de uma bem-sucedida parceria. Dois anos após o lançamento do álbum — obra que apresentou ao público músicas como as pegajosas Alexandra e 11 O’Clock Friday Night —, Leithauser e Batmanglij mais uma vez se encontram em estúdio para a produção do primeiro trabalho colaborativo: I Had a Dream That You Were Mine (Glassnote). Uma delicada seleção de temas românticos em que a dupla vai de encontro ao passado, resgatando melodias, fórmulas e conceitos típicos do pop produzido entre as décadas de 1950 e 1960. [Resenha]

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#21. Anderson Paak
Malibu (EMPIRE / OBE / Steel Wool / Art Club)

A colorida capa de Malibu (2016) indica o caminho assumido por Anderson .Paak no segundo álbum de estúdio. Em um passeio atento pelo Hip-Hop, Soul, Jazz e R&B de diferentes épocas e tendências, o cantor/rapper norte-americano finaliza uma obra tão íntima do trabalho assinado por veteranos como D’Angelo (Brown Sugar), Outkast (Aquemini) e Dr. Dre (The Chronic), quanto de novos representantes da música negra estadunidense, principalmente Kendrick Lamar (To Pimp a Butterfly) e Chance The Rapper (Surf). Ambientado no mesmo universo temático do antecessor Venice, de 2014, o presente álbum utiliza de um rico acervo de histórias pessoais, personagens e conflitos extraídos de diferentes pontos da cidade de Los Angeles como um instrumento de construção dos versos. Canções que amarram cenários e sentimentos (Parking Lot), reflexões sobre o passado e presente (The Bird) ou mesmo pequenas realizações de Paak (The Dreamer), sempre preservando o colorido (e imenso) cenário que cresce ao fundo da obra. [Resenha]

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[40 – 31] [20 – 11]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.