Os 50 Melhores Discos Brasileiros De 2025

/ Por: Cleber Facchi 17/12/2025

Desde o início da pandemia de Covid-19 que o Brasil não vivia um ano tão movimentado, musicalmente diverso e repleto de grandes lançamentos quanto 2025. Do pop amazônico de Gaby Amarantos ao rock gaúcho do Bella e o Olmo da Bruxa, da eletrônica pulsante do Deekapz e outros representantes da cena paulista à baianidade transcontinental de Jadsa, sobram trabalhos importantes que abasteceram os últimos meses. Em um esforço de organizar alguns desses registros e celebrar a música brasileira, apresento nossa tradicional lista com os melhores discos nacionais deste ano.


#50. DJ Guaraná Jesus
Ouroboros (2025, Seloki Rercords)

É impressionante a capacidade que o produtor Julio Santa Cecília tem de ambientar o ouvinte mesmo em um curto intervalo de tempo. Em Ouroboros, trabalho que marca a estreia do artista como DJ Guaraná Jesus, cada nova faixa se articula em um espaço de poucos segundos, tempo suficiente para sermos conduzidos em direção ao passado, contudo mantendo os dois pés ainda firmes no presente. Esse jogo temporal, explícito logo no título da obra, com o símbolo da serpente mordendo a própria cauda em uma clara representação da ciclicidade da vida e o conceito de eterno retorno, é justamente o segredo para entender o universo criativo proposto pelo artista fluminense. Canções que encontram na eletrônica produzida na década de 1990 o estímulo para um repertório tão nostálgico e referencial, quanto futurista. Leia o texto completo.


#49. Marrakesh
Marrakesh (2025, Balaclava Rercords)

Bastou ao Marrakesh a mudança de idioma para que fossemos apresentados a um projeto completamente diferente de tudo aquilo que o grupo curitibano vinha testando desde o início da carreira. Primeiro álbum de estúdio da banda cantado em português, o autointitulado sucessor de Timeskip (2022) evidencia a força criativa e completa entrega do quarteto formado por Truno, Winebathory, Daniel Ferraz e Matheus Castella. Com produção de Roberto Kramer (Jovens Ateus, Raça), o álbum diz a que veio logo nos momentos iniciais. São pouco mais de dez minutos em que o quarteto enfileira uma sequência de músicas altamente viscerais, sempre marcadas pela urgência das vozes, batidas e guitarras. Canções como Brincos, Talvez e a berrada Sem Vencer que partem pra cima do ouvinte enquanto materializam a intensa carga sentimental do disco. Leia o texto completo.


#48. Pipa
Funk É Matemática (2025, Independente)

Produtor original de Vila Velha, capital do Espírito Santo, Filipe Gracioth, o Pipa, explora os limites do funk no primeiro trabalho de estúdio da carreira, Funk É Matemática. Conceitualmente dividido em sete movimentos e uma canção de encerramento, o disco estabelece no uso fragmentado das batidas e bases etéreas da música de abertura parte dos elementos que serão explorados ao longo da obra. São pouco mais de cinco minutos em que o artista desenvolve cada componente em uma medida própria de tempo. Exemplo disso fica ainda mais evidente em Segundo Movimento, canção que, mesmo parecendo um interlúdio, revela o experimentalismo sutil do produtor capixaba e ainda abre passagem para Terceiro Movimento, música que combina retalhos de vozes, ruídos e sintetizadores de maneira sempre labiríntica. Leia o texto completo.


#47. FBC
Assaltos e Batidas (2025, Xeque Mate)

Caso você tenha apagado da sua mente, FBC é, antes de tudo, um rapper, e dos bons. Depois de flertar com o funk melody, em Baile (2021), colaboração com VHOOR, e mergulhar no som transcendental de O amor, o perdão e a tecnologia irão nos levar para outro planeta (2023), o artista mineiro faz retorno ao gênero que apresentou com Assaltos e Batidas, obra que, mais uma vez, destaca a força das rimas. Repleto de acenos para o rap dos anos 1990, principalmente o boom bap, o álbum produzido por Pepito e Coyote Beatz pode até dialogar em termos de estrutura com o passado, mas mantém os versos no presente. Exemplo disso fica bastante evidente em Você Pra Mim É Lucro, música em que discute o fim da escala 6X1, convoca greve geral, ataca o capitalismo e ainda faz uma interpolação com Lucro, do grupo BaianaSystem. Leia o texto completo.


#46. Wavezim
Kalor (2025, BicudaRec)

Como o próprio título antecipa, Kalor é um disco quente. Estreia do produtor cearense Antônio Braga como Wavezim, o registro de nove faixas parte do funk para dialogar com outros estilos e diferentes desdobramentos da música eletrônica. Um exercício de acabamento plural, mas que estabelece, na intensa relação com as pistas, uma importante ferramenta de condução e amarra criativa para o artista. Conceitualmente próximo do som explorado por Idlibra, Badsista e outros artistas que têm movimentado a cena eletrônica e partilham de uma linguagem criativa bastante similar, Kalor talvez não seja o disco mais transgressor, porém acerta pelo equilíbrio e fluidez rítmica de Wavezim. É simplesmente impossível ouvir músicas como Ready e não ser convencido a dançar. Do primeiro ao último instante, tudo conduz às pistas. Leia o texto completo.


#45. Vauruvã
Mar da Deriva (2025, Independente)

Uma travessia poética entre a ancestralidade, o tempo e a transcendência. Assim tem sido a obra de Caio Lemos e Bruno Augusto Ribeiro no Vauruvã. Desde a estreia com Manso Queimor Dacordado (2021), cada novo trabalho de estúdio nos convida a mergulhar em narrativas existenciais que combinam a ferocidade do black metal atmosférico com elementos que incorporam a música brasileira de forma sempre particular. Terceiro e mais recente álbum de estúdio da dupla, Mar Da Deriva segue essa mesma cartilha, contudo livre de qualquer traço de previsibilidade ou estrutura formulaica. Sequência ao material entregue em Por Nós da Ventania (2022), o disco mais uma vez destaca a capacidade dos dois artistas em jogar com os instantes, arremessando o ouvinte de um canto a outro da obra que cresce de forma colossal. Leia o texto completo.


#44. D.Silvestre
O Que As Mulheres Querem (2025, Submundo 808)

Menos de um ano após o lançamento do último álbum de estúdio, D.Silvestre retorna ainda mais inventivo com O Que As Mulheres Querem. E se no autointitulado disco entregue há poucos meses o rondoniense radicado em São Paulo se articulava de maneira quase intuitiva, combinando batidas e bases altamente distorcidas, com o presente repertório fica evidente a atenção do produtor aos detalhes. Ainda que não siga exatamente uma abordagem progressiva, tratando cada composição de forma isolada, nítido é o esforço do artista em manter a coerência do material. Da escolha dos timbres ao tratamento dos graves, sempre distorcidos, densos e, por vezes, brutais, perceba como D.Silvestre faz com que tudo orbite um mesmo universo criativo, orientando parte expressiva das nove faixas do registro em direção às pistas. Leia o texto completo.


#43. Katy Da Voz e As Abusadas
A Visita (2025, Independente)

Caótico, punk e deliciosamente subversivo, A Visita (2025) faz o que parecia impossível: transportar para dentro de estúdio a mesma energia turbulenta percebida nas apresentações ao vivo de Katy Da Voz e As Abusadas. Exemplo disso fica bastante evidente logo na introdutória Santo, herdeira espiritual de Pajubá (2017), a faixa que combina devoção e resistência não apenas invoca a própria Linn da Quebrada e Malka, como abre caminho, oferece proteção e prepara o terreno para o restante do material entregue pelo trio. Dado esse primeiro passo dentro do trabalho, Navalha, vinda em sequência, arremessa o ouvinte para as pistas em uma colaboração com Carlos do Complexo que referencia de Perlla a Sítio do Pica-Pau Amarelo. É como um preparativo para o que se revela de maneira ainda mais interessante na divertida Mini set das Visitantes, parceria com Fuso! e FKNOFF1963 que resgata diferentes canções do grupo em novo formato. Leia o texto completo.


#42. Sessa
Pequena Vertigem de Amor (2025, Mexican Summer)

Outrora elemento central na vida de Sessa, a música perdeu parte do protagonismo quando, nos últimos anos, o cantor e compositor paulistano teve de lidar com o nascimento do primeiro filho. Vem justamente desse movimentado período de reorganização pessoal o estímulo para o repertório de Pequena Vertigem De Amor, obra em que reflete de forma sensível sobre o processo de paternidade. Inaugurado por Pequena Vertigem, o trabalho produzido em parceria com Biel Basile (O Terno) avança aos poucos, sem pressa. São fragmentos do cotidiano e cenas descritivas que ajudam a ambientar o ouvinte. É como um doce desvendar de sensações, proposta que ganha novo tratamento na faixa seguinte, a jazzística Nome de Deus, canção em que discute liberdade espiritual e autoconhecimento de maneira ritualística. Leia o texto completo.


#41. Rachel Reis
Divina Casca (2025, Independente)

Feito para ser sentido na pele, Divina Casca mostra Rachel Reis em sua melhor forma. Sequência ao material entregue no introdutório Meu Esquema (2022), o registro segue de onde a cantora e compositora de Feira de Santana parou há três anos, com suas nuances e diferentes diálogos com a música brasileira, porém, chama a atenção pela forma como a baiana amplia criativamente os próprios horizontes. Mais uma vez acompanhada por um time seleto de produtores que inclui nomes como Iuri Rio Branco, RDD, Barro, SekoBass, Guilherme Assis e Diogo Strausz, Reis continua a transitar por diferentes gêneros com uma naturalidade única. São composições que vão da MPB tradicional ao pop, do samba aos ritmos baianos em um intenso cruzamento de estilos que só autoriza o ouvinte a respirar nos minutos finais, em Deixa Molhar. Leia o texto completo.


#40. Babidi
Depois Que a Água Baixou (2025, Sujoground)

A mensagem de Babidi em Depois Que a Água Baixou não poderia ser mais clara: “Só o povo unido, forte, é que vai conseguir mudar isso”. Lançado na mesma semana em que a força implacável das chuvas mais uma vez deixou suas marcas em diferentes cidades brasileiras, o registro de doze canções propõe uma reflexão sobre o racismo climático e negacionismo ambiental que o produtor carioca sentiu na pele quando uma enchente alagou a região onde vivia, no Parque Columbia, Zona Norte do Rio de Janeiro. Inaugurado pela voz de Seu Gerê, pai do produtor, o disco pinta um retrato realista, por vezes documental, sobre a vida nas periferias, o descaso do governo e a força da população que, mesmo desamparada, luta pela própria sobrevivência. São canções que deixam de lado as conquistas, sorrisos e todo um universo de pequenos excessos celebrados em outros trabalhos recentes em que esteve envolvido, como o álbum Eu Ainda Tenho Coração (2023), do rapper LEALL, para destacar a consciência social incorporada aos versos. Leia o texto completo.


#39. Lupe de Lupe
Amor (2025, Balaclava Records / Geração Perdida)

Se em Um Tijolo Com Seu Nome (2023) a Lupe de Lupe metralhava o ouvinte com uma sequência de faixas curtas, com Amor, o grupo formado por Vitor Brauer, Renan Benini, Gustavo Scholz e Jonathan Tadeu segue o caminho oposto. São apenas quatro canções, porém todas extensas, com mais de nove minutos cada, e tematicamente centradas no sentimento que dá nome ao disco. Inaugurado pela avassaladora Vermelho (Seus Olhos Brilhando Violentamente Sob os Meus), o trabalho diz a que veio logo nos momentos iniciais. São pouco mais de dez minutos em que Tadeu, autor e vocalista da composição, discorre sobre o fim de um relacionamento intenso e repleto de memórias afetivas. São versos sempre expositivos, quase documentais, que culminam na constatação melancólica de que, com o tempo, o esquecimento será inevitável. “Um dia aleatório a gente vai acordar e perceber / Que já não lembra mais um do outro”, repete em meio a coros de vozes e guitarras carregadas de efeitos, altamente ruidosas e sujas. Leia o texto completo.


#38. Urias
Carranca (2025, Independente)

Desde a estreia, quando encaixou a psicodélica Foi Mal no repertório essencialmente pop de Fúria (2022), Urias deixou bastante claro que jogaria com regras próprias. Livre de apego a um gênero em específico, a cantora e compositora mineira continua a se desafiar criativamente em estúdio, proposta que ganha novo significado no denso material concebido pela artista de Uberlândia para Carranca. Mais uma vez acompanhada pelos produtores Rodrigo Gorky e Maffalda, Urias abandona o pop eletrônico de Her Mind (2023) para tensionar e elevar a própria criação. Marcado por referências afro-brasileiras, o registro de forte carga simbólica transita por entre temas como negritude, gênero e liberdade de maneira bastante provocativa, porém, preservando o que há de mais acessível no fino repertório da artista mineira. Leia o texto completo.


#37. Arnaldo Antunes
Novo Mundo (2025, Risco)

Há tempos Arnaldo Antunes não parecia tão entusiasmado em estúdio. Para ser mais exato, desde que deu vida ao colaborativo Iê Iê Iê (2009), registro em que uniu forças com o músico cearense Fernando Catatau. E isso tem um motivo: ainda que siga em carreira solo desde o início dos anos 1990, quando deixou os Titãs para mergulhar na própria obra, o cantor e compositor paulistano é o tipo de artista que cresce no coletivo. Exemplo disso fica ainda mais evidente nos deparamos com o fino repertório de Novo Mundo, trabalho em que estabelece no diálogo com diferentes parceiros criativos a passagem para um universo de novas possibilidades. Com produção de Pupillo (bateria, percussão) e completo pela presença dos músicos Kiko Dinucci (guitarras e violões), Vitor Araújo (teclados e piano) e Betão Aguiar (baixo), o registro de doze faixas equilibra ferocidade e leveza enquanto garante algumas das melhores canções de Antunes em anos. Leia o texto completo.


#36. Mateus Aleluia
Mateus Aleluia (2025, Independente)

No amor não mando / Me mando amor / Quando o amor me manda / Eu sigo e vou”, canta Mateus Aleluia logo nos primeiros minutos de No Amor Não Mando, composição que inaugura o quinto registro do músico baiano em carreira solo. São pouco mais de nove minutos em que arranjos produzidos em parceria com a dupla formada por Tadeu Mascarenhas e Tenille Bezerra ganham forma aos poucos, sem pressa, como um complemento natural aos versos que funcionam como um mergulho nos sentimentos do artista de 81 anos. Com a direção apontada nos minutos iniciais, Aleluia se encaminha para a elaboração de faixas cada vez mais extensas, ainda que musicalmente reducionistas. São movimentos calculados de violão que se abrem para a sutil inserção de outros elementos. Canções geradas a partir da combinação de diferentes músicas, como em Doce Sacrifício / Filho / Acalanto, com seus mais de 14 minutos de arranjos e vozes trabalhadas em uma medida própria de tempo. Um avanço vagaroso, por vezes arrastado, porém, sempre fascinante. Leia o texto completo.


#35. Janvi
VemSer (2025, Central Records)

Tudo cria tempo pra colher, plantar e ver crescer”, rima Janvi logo nos minutos iniciais de VemSer. Estreia da rapper paranaense de ascendência indiana, o registro de nove faixas avança aos poucos, sem pressa, detalhando o misto de canto e rima que parte do conceito hindu de Maya — a ilusão que nos faz acreditar que somos o que vemos —, para mergulhar nos sentimentos mais profundos da artista. Passado esse momento de doce ambientação ao trabalho, Janvi, sempre acompanhada pelo produtor Safê, segue com a faixa-título do disco. Enquanto a base da composição dialoga com o neo-soul de Erykah Badu e outros nomes do gênero, versos marcados por conquistas pessoais surgem como um chamado. É como um preparativo para o que se reflete de forma ainda mais impactante em Amanheceu, junto de Alra Alves. Leia o texto completo.


#34. Nyron Higor
Nyron Higor (2025, Far Out Recordings)

Passagem para um universo particular, o autointitulado segundo álbum Nyron Higor é uma dessas obras que encantam sem necessariamente fazer esforço. São dez composições que destacam a sensibilidade do cantor e compositor alagoano, estreitam laços com conterrâneos como Bruno Berle e Batata Boy, com quem divide a produção do disco, mas em nenhum momento rompem com uma lógica própria do instrumentista que estreou há três anos com o contido Fio de Lâmina (2022) e retorna agora para ampliar seus horizontes. Com Ciranda como composição de abertura, Higor apresenta parte dos elementos que serão explorados no decorrer do registro. São ambientações sutis que passam pela música brasileira, mas em nenhum momento rompem com o que parece ser uma lógica própria do instrumentista, sempre orientado pelo reducionismo dos elementos. Exemplo disso fica ainda mais evidente com a chegada de Louro Cantador, canção em que incorpora o canto de um papagaio como alternativa aos vocais, porém, preservando a sutileza do trabalho. Leia o texto completo.


#33. YMA
Sentimental Palace (2025, Matraca Records / YB Music)

Yasmin Mamedio, a YMA, é uma artista inquieta. E isso fica bastante evidente na variedade de canções que a cantora e compositora paulistana revelou ao público desde que deu vida ao primeiro trabalho de estúdio da carreira, Par de Olhos (2019). De colaborações com Jadsa, Fernando Catatau e Uiu Lopes, passando por criações autorais, como as curiosas Aquilo Que Habito, White PeacockNo Aquário, sobram momentos de profunda agitação. Mas e se todas essas inquietações, tormentos e sensações habitassem um único lugar? A resposta para isso chega em Sentimental Palace. Cenário conceitual, como um hotel onírico onde cada porta esconde um segredo, o registro de onze canções destaca o caráter exploratório da artista paulistana. É como se a musicista atravessasse as cortinas vermelhas e a profunda homogeneidade do atmosférico álbum entregue há seis anos para se perder em um campo de incertezas. Leia o texto completo.


#32. Gabriel Ventura
Pra Me Lembrar de Insistir (2025, Balaclava Records)

O espirro, o isqueiro tentando ser aceso, o cricrilar suave e o som de um telefone analógico sendo discado. Em Pra Me Lembrar de Insistir, as coisas acontecem enquanto Gabriel Ventura tenta se organizar emocionalmente. Composições que se estendem para além do limite das palavras, como se o músico fluminense fosse capaz de transportar para dentro de estúdio o próprio ambiente que o cerca. Nascido das reflexões de Ventura sobre o fazer artístico, o sucessor de Tarde (2022) é uma obra feita para que o ouvinte se perca dentro dela. Enquanto o músico, que foi apresentado como integrante da Ventre no início da década passada, mergulha de cabeça nas próprias inquietações, camadas instrumentais surgem e desaparecem a todo instante, tornando a sensação de impermanência a única certeza que move o registro. Leia o texto completo.


#31. Mahmundi
Bem-Vindos De Volta (2025, UnitedMasters)

Nos últimos anos, Marcela Vale, a Mahmundi, se especializou na produção de obras curtas, porém bastante efetivas. São trabalhos como Mundo Novo (2020) e Amor Fati (2023) que se resolvem em um intervalo de poucos minutos, destacando o domínio da artista em relação ao pop. Entretanto, nenhum desses registros revelados pela cantora carioca parece tão consistente quanto Bem-Vindos de Volta. Primeiro álbum de inéditas da artista de Marechal Hermes desde o fim do contrato com a Universal Music, o trabalho de oito faixas é tanto um recomeço quanto um exercício de libertação criativa. Ainda que o título evoque o passado e a própria cantora acene para registros como o homônimo disco de estreia, Bem-Vindos de Volta aponta para o futuro, destacando a maturidade poética, sonora e emocional da musicista carioca. Leia o texto completo.


#30. Vera Fischer Era Clubber
Veras I (2025, Palatável Records)

O sotaque afetado, com o chiado do “s” e “x” que estala feito chicote, a letra ora cantada, ora declamada e o uso de batidas eletrônicas que buscam a todo instante acompanhar os excessos detalhados nos versos. Em Veras I, disco de estreia do grupo niteroiense Vera Fischer Era Clubber, somos convidados a embarcar em uma aventura noturna consumida pela dor, drogas, sexo e pequenos prazeres. Mesmo repleto de acenos para a obra de veteranos da cena carioca, como Gang 90 & Absurdetes, Fausto Fawcett e Fernanda Abreu, o álbum de sete faixas encanta justamente pela maneira como o grupo formado por Malu, Pek0, Vickluz e Crystal consolida a própria identidade em um curto intervalo de tempo. Canções que equilibram versos quase sempre atormentados com batidas eletrônicas e considerável dose de humor. Leia o texto completo.


#29. Julia Mestre
Maravilhosamente Bem (2025, Independente)

Julia Mestre está bem, maravilhosamente bem. Entretanto, o sentimento não era esse quando a cantora e compositora carioca mergulhou no exercício de criação do terceiro álbum em carreira solo. Nascido de um processo de cura, o registro, produzido em parceria com os músicos Gabriel Quinto, João Moreira e Gabriel Quirino, foi gestado aos poucos, até que a artista, pela primeira vez, se sentisse dona da própria trajetória. Não por acaso, em janeiro, quando decidiu revelar ao público uma mostra do álbum, Sou Fera foi a canção escolhida para assumir essa função. E não poderia ser diferente. Primeira faixa do trabalho composta por Mestre, a canção traz de volta uma série de elementos testados no antecessor Arrepiada (2023), como os acenos para o pop dos anos 1980 e a obra de Rita Lee, porém prepara o terreno para o presente registro. Leia o texto completo.


#28. Cícero
Uma Onda Em Pedaços (2025, Independente)

A imagem de Cícero, rodeado por escombros, diz muito sobre aquilo que o cantor, compositor e produtor carioca busca desenvolver no sexto e mais recente álbum de estúdio da carreira, Uma Onda em Pedaços. Nascido de um longo processo de reconstrução pessoal após o período pandêmico, o trabalho é tanto um olhar para o passado recente do artista quanto uma obra que avança criativamente. “O passado segue adiante”, canta Cícero na derradeira canção que concede título ao disco. Partindo dessa abordagem introspectiva, sempre imerso em divagações e pequenos fluxos de pensamento que revelam o que se esconde no interior, o músico carioca garante ao público uma de suas criações mais expositivas e, consequentemente, íntimas do ouvinte, efeito do sempre meticuloso lirismo confessional que move a obra. Leia o texto completo.


#27. Sophia Chablau & Felipe Vaqueiro
Handycam (2025, Risco)

Ver e ouvir o mundo a partir de diferentes perspectivas é um dos princípios básicos que definem o fazer artístico e o processo de composição musical. No caso de Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro, esses recortes são ainda mais específicos, intimistas e, por vezes, até documentais. Frações do cotidiano, como câmeras que apontam para temas políticos e sentimentais, estímulos para o fino repertório de Handycam (2025). Utilizando a alegoria das câmeras de mão como instrumento de captura da realidade, Chablau, conhecida pelo trabalho nas bandas Uma Enorme Perda de Tempo e Besouro Mulher, e Vaqueiro, também membro da Tangolo Mangos, propõem uma observação sobre o cenário ao redor e as inquietações internas de maneira bastante sensível. Um misto de poesia visual e narrativa urbana orientada por letras sempre provocadoras. Leia o texto completo.


#26. Joca
Cortavento (2025, Independente)

A fluidez explícita nos minutos iniciais de Cortavento diz muito sobre aquilo que Joca busca desenvolver no segundo registro da carreira. Com Exu abrindo os caminhos, o mineiro radicado em Niterói encaixa uma canção na outra de maneira sempre acelerada, mas que em nenhum momento oculta a mesma riqueza de detalhes incorporada ao introdutório A Salvação é Pelo Risco: O Show do Joca (2019). Terceira canção do disco, Só Por Hoje sintetiza de maneira bastante eficiente parte dos temas e estruturas exploradas por Joca no decorrer do trabalho. Enquanto os versos reforçam a sensação de inquietude que consome o rapper, batidas aceleradas contrastam com o sopro melancólico de Antonio Neves. É como um enérgico cruzamento de informações, estilos e sentimentos que ampliam os horizontes do artista mineiro. Leia o texto completo.


#25. Terno Rei
Nenhuma Estrela (2025, Balaclava Records)

Em um cenário dominado por artistas em carreira solo e duplas sertanejas inflacionadas, sempre bom ver uma banda, ainda mais independente, não apenas resistir, como amadurecer a cada novo disco. Quinto e mais recente álbum da Terno Rei, Nenhuma Estrela reafirma o domínio criativo do quarteto paulistano, consolida a identidade sonora do grupo e ainda aponta para diferentes direções. Sequência ao material apresentado por Ale Sater, Bruno Paschoal, Greg Maya e Luis Cardoso em Gêmeos (2022), o disco produzido em parceria com Gustavo Schirmer talvez não seja tão disruptivo musicalmente e até tende ao conforto em alguns momentos, porém, potencializa as virtudes do quarteto. Como indicado na mudança de abordagem iniciada em Violeta (2019), o Terno Rei é hoje uma banda menos orientada ao reducionismo atmosférico do introdutório Vigília (2014) e muito mais voltada ao pop de grandes canções. Leia o texto completo.


#24. Emicida
Emicida Racional VL2 – Mesmas Cores & Mesmos Valores (2025, Cecropia)

Quando os caminhos se confundem, é necessário voltar ao começo”. A frase dita por Emicida na canção que inaugura Pra Quem Já Mordeu Um Cachorro por Comida, Até Que Eu Cheguei Longe (2009), estreia do rapper paulistano, é essencial para entendermos aquilo que o artista busca desenvolver em Emicida Racional VL2 – Mesmas Cores & Mesmos Valores. Primeiro álbum de inéditas desde o celebrado AmarElo (2019), o registro de dez faixas é tanto um retorno às origens como um delicado exercício de exposição emocional e busca por reconexão durante o processo de luto. Imerso em um turbilhão de acontecimentos que culminou na ruptura e na batalha judicial contra o irmão, o músico e empresário Evandro Fióti, Emicida foi pego de surpresa quando, em julho deste ano, teve de lidar com a morte da mãe, Dona Jacira, aos 60 anos. Partindo desse processo de angústia, bem representado nas mensagens de áudio e no choro da introdutória Bom Dia Né Gente? (Ou Saudade Em Modo Maior), o rapper retorna com uma de suas criações mais sensíveis, liricamente expositivas e complexas de toda a carreira. Leia o texto completo.


#23. Seu Jorge
Baile à la Baiana (2025, Cafuné / Black Service)

Mesmo antes de se aventurar em carreira solo, quando ainda integrava o Farofa Carioca, Seu Jorge fez da mistura de estilos um componente fundamental para o próprio trabalho. Entretanto, mesmo habituado aos diferentes cruzamentos de gêneros e diálogos com os mais variados parceiros criativos, poucas vezes antes o artista de Belford Roxo pareceu tão liberto criativamente quanto no repertório de Baile à la Baiana (2025). Primeiro álbum de inéditas do artista em carreira solo após um longo intervalo de dez anos, o sucessor de Músicas para Churrasco, Vol. 2 (2015) é uma verdadeira celebração à música brasileira e os encontros que ela proporciona. São canções que atravessam os bailes black do Rio de Janeiro para encontrar nos ritmos e no tempero baiano o estímulo para o melhor trabalho do cantor e compositor fluminense em duas décadas. Leia o texto completo.


#22. Mateus Fazeno Rock
Lá Na Zárea Todos Querem Viver Bem (2025, DeckDisc)

A mensagem de Mateus Fazeno Rock não poderia ser mais clara: “Lá Na Zárea Todos Querem Viver Bem”. Contraponto ao material entregue no soturno Jesus Ñ Voltará (2023), o terceiro álbum de estúdio do cantor e compositor cearense nasce como uma celebração à vida nas periferias, trata sobre bem-estar, otimismo, memória e o direito ao descanso, mas em nenhum momento perde a crueza e o contato com a realidade. “Parece que eu tô correndo / Pra lugar nenhum / Não ter esperanças / Cansa”, reflete o artista em Melô do Sossego. Síntese criativa do restante da obra, a canção evidencia não apenas o forte aspecto provocativo e sobriedade de Mateus durante toda a execução do álbum, como destaca os sintetizadores e a contribuição sonora do experiente Fernando Catatau, coprodutor do trabalho junto do próprio artista e Rafael Ramos. Leia o texto completo.


#21. BaianSystem
O Mundo Da Voltas (2025, Máquina de Louco)

Com o lançamento de O Futuro Não Demora (2019), Russo Passapusso e seus companheiros de banda no BaianaSystem conseguiram estabelecer um conceito criativo que vinha sendo desenvolvido desde Duas Cidades (2016). São registros essencialmente marcados pelo colorido cruzamento de estilos, forte discurso político e diálogos com artistas vindos dos mais variados campos da música brasileira e internacional. Um exercício talvez formulaico em termos de estrutura, mas que está longe de ser encarado como previsível. Exemplo disso fica ainda mais evidente com a chegada de O Mundo Dá Voltas. Quinto e mais recente trabalho de estúdio do coletivo baiano, o registro que conta com produção de Daniel Ganjaman traz de volta uma série de elementos que fizeram do grupo um dos mais importantes do cenário brasileiro ao longo da última década. Composições que, mesmo marcadas pelo lirismo contestador, como um chamado a encarar a realidade, em nenhum momento perdem a leveza e o notável aspecto dançante. Leia o texto completo.


#20. Bufo Borealis
Natureza (2025, Zenyatta Records)

Muito embora exista desde o fim da década passada e acumule uma sequência de grandes obras, como o introdutório Pupilas Horizontais (2020) e Diptera (2022), é em Natureza que a Bufo Borealis alcança sua melhor obra. E isso fica mais do que evidente em Papa Lou, labiríntica criação que não apenas inaugura o terceiro álbum de estúdio do grupo formado por Juninho Sangiorgio (baixo), Anderson Quevedo (saxofone), Rodrigo Saldanha (bateria), Paulo Kishimoto (percussão e sintetizadores), Tadeu Dias (guitarras) e Vicente Tassara (pianos), como trata de ambientar o ouvinte ao fino repertório. São pouco mais de seis minutos em que pinceladas instrumentais surgem e desaparecem a todo instante, proposta que faz lembrar veteranos como Miles Davis, porém, preservando a identidade da banda. Prova disso acontece em Urca, composição que emana brasilidade no movimento sinuoso das guitarras, sopros, percussão e teclados que vão da Banda Black Rio a João Donato em um curtíssimo intervalo de tempo. Leia o texto completo.


#19. De Leve
Mantendo o Rap Vivo (2025, Brabo)

Se for pra regressar após tantos anos com um novo registro de inéditas, que seja como De Leve. Importante nome do rap fluminense nos anos 2000, o artista que já integrou o extinto grupo Quinto Andar está de volta com Mantendo o Rap Vivo. São onze composições que escancaram a capacidade do rapper em se deliciar com a construção das rimas de maneira ainda mais provocativa do que no início da carreira. Afastado do rap desde o começo da década passada para se dedicar aos cuidados do filho, diagnosticado com autismo, De Leve foi regressando aos poucos. Após o lançamento de De Love (2009), último álbum de estúdio da carreira, o artista voltou cinco anos mais tarde com o EP Estalactite (2014). Em seguida, foi a vez de Poesia Rústica Mixtape (2021), projeto desenvolvido em colaboração com Daniel Shadow e Erik Skratch. Leia o texto completo.


#18. Jovens Ateus
Vol. 1 (2025, Balaclava Records)

O sentimento de estagnação e deslocamento que consome os versos de Correntes, quinta música de Vol. 1, diz muito sobre aquilo que os membros da Jovens Ateus buscam desenvolver no primeiro trabalho de estúdio. “Me deparo com mudanças / Me parece que a vida seguiu sem eu aqui”, cresce a densa letra da canção, sempre acompanhada por um contrastante jogo de guitarras melódicas. Trabalho de sentimentos latentes e versos sempre expositivos, o registro que ainda conta com produção de Roberto Kramer (Raça, gorduratrans) parte dos tormentos vividos por Guto Becchi (voz), Fernando Vallim (guitarra), João Manoel Oliveira (guitarra), Bruno Deffune (baixo) e Antônio Bresolin (bateria eletrônica e sintetizadores) para dialogar com o ouvinte. São canções que flertam com a morte, tratam sobre crises de ansiedade e pintam um retrato brutal sobre o impacto da vida adulta e o peso das relações que criamos. Leia o texto completo.


#17. Stefanie
Bunmi (2025, Jambox)

Bunmi pode até ser o primeiro álbum de estúdio de Stefanie, mas isso não quer dizer que ela seja uma iniciante. Com mais de duas décadas de carreira, a rapper original de Santo André, na região metropolitana de São Paulo, acumula um vasto repertório de criações autorais, colaborações com nomes importantes do cenário brasileiro e até mesmo outros projetos, caso do bem-sucedido Rimas & Melodias. Entretanto, é quando avançamos pelas canções do presente disco que a artista realmente diz a que veio. Com produção caprichada de Daniel Ganjaman e Grou, o registro de dez faixas é tanto uma consolidação de tudo aquilo que Stefanie conquistou até aqui, como um claro exercício de reapresentação. Da escolha dos temas à construção das rimas, poucas vezes antes a rapper pareceu tão consciente da própria obra. Leia o texto completo.


#16. Luedji Luna
Um Mar Pra Cada Um (2025, Independente)

A escolha de Luedji Luna em inaugurar Um Mar Pra Cada Um com uma composição instrumental e jazzística é essencial para entender aquilo que a cantora, compositora e produtora baiana busca desenvolver no mais recente trabalho de estúdio da carreira. Sem pressa, a musicista soteropolitana navega nos próprios sentimentos, revelando ao público uma obra que exige e gratifica na mesma medida. Capítulo final das explorações sonoras e emocionais iniciadas pela artista em Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água (2020) e ampliadas com a versão deluxe do material, Um Mar Pra Cada Um não é um trabalho de rápida absorção. Pelo contrário: é cauteloso, por vezes difícil de ser interpretado, mas sempre fascinante. São pinceladas instrumentais e poéticas que mais ocultam do que necessariamente parecem evidenciar. Leia o texto completo.


#15. Rodrigo Ogi & Nill
Manual Para Não Desaparecer (2025, Independente)

Em um cenário de caos urbano iluminado pela tela dos celulares, Rodrigo Ogi e Nill buscam por equilíbrio com Manual Para Não Desaparecer. Produto da colaboração entre os dois artistas, o registro de onze faixas contrapõe o cenário turbulento que nos cerca e as interações sociais intermediadas por inteligências artificiais com um trabalho que, mesmo provocativo e crítico, nunca perde o bom humor. Enquanto Ogi, autor de obras como Crônicas Da Cidade Cinza (2011) e Rá! (2015), mantém firme os jogos de palavras e versos sempre descritivos que concedem movimento ao material, Nill, responsável por registros como Regina (2017) e O Resgate do Maestro (2023), destaca o lado contemplativo, batidas e amplo catálogo de referências do álbum. Dois artistas vindos de campos distintos do rap, porém intimamente conectados. Leia o texto completo.


#14. Zé Ibarra
Afim (2025, Coala Records)

Em um cenário de artistas influenciadores em que a lógica do algoritmo invariavelmente tende ao ego ou ao isolamento autoral em busca de maior arrecadação, raríssimos são aqueles que podem sacrificar suas vaidades em virtude do fazer artístico. E é exatamente isso que Zé Ibarra faz em Afim. Compositor de mão cheia, o músico fluminense ultrapassa os limites do próprio cercado para investir em repertório. Das oito faixas que integram o disco, apenas duas são inteiramente assinadas pelo músico. O restante, são colaborações com outros artistas, como Essa Confusão, encontro com a companheira de Bala Desejo, Dora Morelenbaum, e, principalmente, releituras para a obra de diferentes compositores. Entretanto, oposto ao esperado de outros representantes da novíssima MPB, sempre inclinados a revisitar o trabalho de Caetano Veloso e demais medalhões da nossa música, Ibarra acerta ao manter os dois pés bem firmes no presente. Leia o texto completo.


#13. Bella e o Olmo Da Bruxa
Afeto e Outros Esportes De Contato (2025, Independente)

As variações de intensidade, visceralidade dos versos e imensa carga emocional explícita em Bem No Seu Aniversário, composição que inaugura Afeto e Outros Esportes De Contato, é apenas uma fração daquilo que os integrantes da Bella e o Olmo da Bruxa proporcionam no segundo trabalho de estúdio da banda. Obra de sentimentos latentes, o álbum escancara a potência e entrega do grupo gaúcho. E não poderia ser diferente. Concebido em um intervalo de três anos, com a banda passando por diferentes cidades e entendendo melhor as próprias dinâmicas em cima dos palcos, o registro de onze faixas destaca o amadurecimento técnico do quarteto formado por Julia Garcia, Felipe Pacheco, Ricardo De Carli e Pedro Acosta. Claro que isso não exime o grupo de pequenas deficiências vocais ou mesmo temáticas emocionais que pouco avançam quando próximas do repertório montado no homônimo disco entregue há cinco anos. Leia o texto completo.


#12. Deekapz
Deekapz FM (2025, Independente)

De Baco Exu do Blues a BK, de Duda Beat a Pabllo Vittar, não foram poucos os artistas que encontraram na produção do Deekapz a passagem para um repertório marcado pela riqueza das batidas. Não por acaso, ao mergulhar no primeiro trabalho de estúdio, Deekapz FM, o duo formado por Paulo Vitor e Matheus Henrique fez desse aspecto colaborativo o estímulo criativo para a elaboração do material. Como indicado no próprio título da obra, Deekapz FM se revela como uma estação de rádio inspirada pela programação dos anos 1990 e 2000. Comandado pela narração de Jamés Ventura, o álbum funciona tanto com um exercício conceitual, remontando musicalmente a infância e adolescência do duo paulista, como uma vitrine que ainda destaca a capacidade da dupla em transitar com naturalidade por diferentes estilos. Leia o texto completo.


#11. Teago Oliveira
Canções do Velho Mundo (2025, Meia-Noite FM)

Teago Oliveira é um poeta de canções. Daquelas que machucam, provocam, acolhem, reconciliam e, acima de tudo, permanecem. E é justamente cantando sobre aquilo que perdura, mesmo temporariamente, que o cantor e compositor baiano, conhecido pelo repertório como vocalista da banda Maglore, firma as bases para o segundo e mais recente registro em carreira solo, Canções do Velho Mundo. Contraponto ao caos do cotidiano, à lógica algorítmica e à pressa do mundo digital, o sucessor de  Boa Sorte (2019) é um trabalho que avança aos poucos, sem pressa. Um fino repertório de canções que existem pelo tempo que precisam para manifestar suas inquietações, momentos de vulnerabilidade emocional e crises existenciais que talvez partam das experiências sentidas pelo artista baiano, mas que também são nossas. Leia o texto completo.


#10. Maui
Melodia&Barulho (2025, DeckDisc)

Melodia&Barulho é um álbum que tinha tudo para dar errado, mas dá muito certo. Estreia do cantor, compositor e MC fluminense Maui, o disco transita por estilos completamente distintos, como o pagode, drum and bass, R&B, reggae, grime e afrobeats, porém estabelece nessa contrastante combinação de gêneros o estímulo necessário para aflorar a poesia versátil do artista e seus diferentes colaboradores. Como indicado na própria imagem de capa, uma releitura da tela Hell De janeiro (2021), de ArteDeft, Maui é um artista que encontra equilíbrio no caos. Do momento em que tem início, em Tem gente com fome, uma interpretação do poema de Solano Trindade narrado por Sílvia de Mendonça, cada nova canção destaca a capacidade do MC em transitar por incontáveis estilos, temas e propostas criativas com absoluto domínio. Leia o texto completo.


#9. Catto
Caminhos Selvagens (2025, Editsy)

O dente sujo de batom, a fumaça do cigarro, o cabelo loiro desbotado que escorre pela jaqueta preta. Em Caminhos Selvagens, primeiro registro de inéditas de Catto após um intervalo de oito anos, tudo é retratado de maneira tão intensa e dramática que o som instantaneamente se converte em imagem. É como se um filme de beleza decadente fosse rodado no canto escuro das nossas mentes. Fragmentos de memórias, romances fracassados e uma protagonista que, mesmo consumida pela dor, permanece intacta. E não poderia ser diferente. Concebido a partir de canções inicialmente registradas no celular, Caminhos Selvagens nasce como um acúmulo das experiências, relacionamentos fracassados e dores sentidas pela artista gaúcha entre o intervalo que abrange o último trabalho de inéditas e o presente álbum. São versos tão expositivos e íntimos que é difícil não se identificar e perguntar: “como ela sabe dos meus segredos?”. Leia o texto completo.


#8. BK
Diamantes, Lágrimas e Rostos Para Esquecer (2025, Gigantes)

Não existe maneira melhor de medir o sucesso de um rapper do que o volume de samples autorizados em seus trabalhos. Entretanto, para além de um exercício de autoafirmação financeira, como se dissesse a todo momento “eu posso”, satisfatório perceber em Diamantes, lágrimas e rostos para esquecer, mais recente álbum de estúdio do rapper carioca BK, um registro que não somente utiliza desse opulento pano de fundo instrumental como símbolo de status, mas para potencializar ainda mais a força dos versos. Sequência ao material entregue em Icarus (2022), trabalho em que se permitiu estreitar laços com o pop, Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer segue de onde o rapper parou há três anos, porém, em uma abordagem ainda mais complexa e musicalmente bem elaborada. São canções que partem de um olhar atento para a música brasileira, resgatando fragmentos de diferentes épocas como forma de estreitar laços com o ouvinte e dar novo sentido à vulnerabilidade que há tempos embala o repertório do artista carioca. Leia o texto completo.


#7. Zeca Veloso
Boas Novas (2025, Sony Music)

Salvo exceções, como ao lado de Gal Costa, no álbum Nenhuma Dor (2021), ou Baco Exu do Blues, no ainda recente Hasos (2025), a última vez que ouvimos Zeca Veloso com maior destaque foi justamente no disco em que fomos introduzidos ao músico, o registro ao vivo Ofertório (2017). Gravado em conjunto com o pai, Caetano Veloso, e os irmãos, Moreno e Tom, o trabalho serviu não apenas para apresentar o artista de voz suave, como aponta caminhos para o que encontramos no repertório de Boas Novas. Não por acaso, ao inaugurar o disco com Salvador, Zeca volta a se encontrar com os membros da própria família em uma composição que emana baianidade e evoca as criações do pai, mas em nenhum momento oculta a própria identidade. Evangélico devoto, o artista carioca salpica referências religiosas durante toda a execução do trabalho, porém livre do discurso panfletário. São inserções sutis, direcionamento reforçado logo na canção de abertura, mas que ganha ainda mais destaque na faixa-título da obra. Delicada, a cantiga que espelha o nascimento de Jesus também acena para Boas Vindas, música que Caetano compôs para o álbum Circuladô (1991) enquanto esperava pela gestação do filho, na época, o primeiro com Paula Lavigne. Leia o texto completo.


#6. Marina Sena
Coisas Naturais (2025, Sony Music)

Existe uma naturalidade única na relação de Marina Sena com a música. Da rock psicodélico que marca a passagem pelo grupo A Outra Banda da Lua ao pop tropical durante a breve estadia no Rosa Neon, não são poucos os momentos em que a cantora mineira se permitiu brincar com as possibilidades. Mesmo quando voltou seus esforços para os trabalhos em carreira solo, notável é a separação entre o repertório elaborado para De Primeira (2021), com sua brasilidade latente, e o som comercial do posterior Vício Inerente (2023). Interessante perceber em Coisas Naturais, terceiro e mais recente álbum da artista em carreira solo, um trabalho que combina e equilibra todos esses elementos com uma desenvoltura notável. É como se a artista, pela primeira vez em mais de uma década de carreira, transportasse para dentro de estúdio todas essas referências, fazendo disso o estímulo para um disco que transcende os próprios limites. Leia o texto completo.


#5. Ebony
KM2 (2025, Independente)

Inaugurado por fragmentos de programas de TV e trechos de Baixada é Cruel, um dos grandes exemplares do funk dos anos 2000, KM2 é um precioso exercício de reconexão de Ebony com o passado, mas sem deixar de dialogar com o presente. O próprio título do álbum é uma referência à cidade natal da artista, Queimados, na Baixada Fluminense, que ela e amigos costumavam chamar de “K-M-Dois”. Exemplo disso fica bastante evidente no que talvez seja a canção mais vulnerável do disco, Não Lembro Da Minha Infância. São versos que escancaram tentativas de abusos (“Não tenho medo de monstros / Quando os meus tios chegavam, eu dormia embaixo da cama / Eu fiquei amiga das aranhas”) e momentos de maior fragilidade enquanto mergulhamos na mente e traumas da rapper que foi catapultada com Terapia (2023). Leia o texto completo.


#4. Pelados
Contato (2025, Risco)

Debochado, provocativo, estranho e, por isso mesmo, fascinante. Em Contato, segundo e mais recente trabalho de inéditas da banda paulistana Pelados, o grupo formado por Lauiz, Manu Julian, Vicente Tassara, Helena Cruz e Theo Ceccato, deixa de lado os temas românticos, dores e conflitos típicos de jovens adultos para explorar um universo de novas possibilidades e propostas criativas deliciosamente delirantes. Utilizando como pano de fundo o programa Voyager, da Nasa, que lançou duas sondas contendo discos de ouro com informações sobre a vida na Terra e instruções para contato com a raça humana, o grupo parte de uma abordagem talvez confusa e que nem sempre preserva o elemento temático, mas que encanta pelo caráter exploratório. É como se cada nova música do registro aportasse em um território criativo diferente. Leia o texto completo.


#3. Don L
Caro Vapor II – Qual a Forma de Pagamento? (2025, Independente)

O bom malandro está de volta. Mais de uma década após o lançamento de Caro Vapor – Vida e Veneno de Don L (2013), primeiro registro de Don L em carreira solo, o rapper cearense revela ao público Caro Vapor II – Qual a Forma de Pagamento? (2025). Trabalho mais ambicioso do artista, o disco naturalmente chama a atenção pela força das rimas, porém é na intensa relação com a música brasileira que o repertório cresce. Com produção assinada pelo próprio artista em colaboração com Iuri Rio Branco e Nave, o trabalho parte do esforço do rapper em reimaginar estilos populares como samba, baião e funk dentro da lógica do rap. Canções que transbordam uma brasilidade negra, ensolarada e tropical, como um caleidoscópio sonoro que se completa pela construção dos versos sempre mergulhados em excessos, romances e provocações. Leia o texto completo.


#2. Gaby Amarantos
Rock Doido (2025, DeckDisc)

Por mais bem executados que sejam os primeiros discos de Gaby Amarantos, especialmente o introdutório Treme (2012), a cantora e compositora paraense sempre se mostrou incapaz de transportar para dentro de estúdio a mesma energia explícita em suas apresentações ao vivo. Os temas, ritmos e referências à cultura nortista estavam lá, porém contidos, como se adaptados ao pop comercial produzido no restante do Brasil. Satisfatório perceber em Rock Doido (2025), mais recente trabalho da cantora paraense, uma obra que não apenas escancara a potência criativa de Amarantos, como ainda celebra e incorpora a fluidez das festas de aparelhagem. São 22 canções, todas bastante curtas, que se entrelaçam com dinamismo, domínio técnico e evidente bom humor, efeito direto da produção caprichada da própria artista em parceria com MGZD, trio formado pelos músicos Baka, Dedé Santaklaus e Cido, colaboradores durante toda a execução do material. Leia o texto completo.


#1. Jadsa
Big Buraco (2025, Risco)

A sonora escolha de palavras como “manguaça”, “antioxidante” e “beiço”, o ruído pontual dos scratches e a completa flexibilidade das vozes tornam o óbvio ainda mais explícito: Big Buraco é uma obra que transborda musicalidade. Segundo álbum Jadsa em carreira solo, o sucessor de Olho de Vidro (2021) é tanto uma continuação dos registros que o antecedem, quanto a passagem para um novo território criativo. Ainda que muitas das canções que integram o disco tenham saído diretamente do colaborativo Vera Cruz Island (2024), trabalho assinado em parceria com João Miliet Meireles no paralelo Taxidermia, o produto final é completamente outro. Agora acompanhada pela produção caprichosa de Antônio Neves, a cantora baiana não apenas conclui o que iniciou há poucos meses, como transcende os limites da própria criação. Leia o texto completo.


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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.