Prontos para relembrar alguns dos principais lançamentos da música brasileira e internacional que marcaram o primeiro semestre? Em um ano que já começou bastante movimentado, sobram registros que exploram diferentes gêneros, linguagens e propostas estéticas. Do rock à produção eletrônica, da MPB ao rap, montamos uma seleção com 50 discos que refletem o que há de mais interessante nos trabalhos apresentados entre os meses de janeiro e junho. Sentiu falta de algum álbum? Compartilhe a lista com seus favoritos e ajude a ampliar esse retrato sonoro de 2025.
Addison Rae
Addison (2025, Columbia)
“E então, uma garota não pode simplesmente se divertir?”. A pergunta lançada por Addison Rae em Money is Everything, terceira faixa de Addison, diz muito sobre tudo aquilo que a cantora e compositora norte-americana busca desenvolver no primeiro álbum de estúdio. Passagem para um território particular, o trabalho parte das experiências vividas pela artista para detalhar um repertório marcado pelos desejos mais profundos e aventuras noturnas de Rae. Repleto de acenos para o pop de Madonna, Christina Aguilera e Britney Spears, Addison é um trabalho que estabelece sua base na produção dos anos 1990 e 2000, mas em nenhum momento deixa de dialogar com o presente. É como se a artista seguisse o caminho oposto ao da amiga Charli XCX, substituindo a urgência e os excessos explícitos em Brat (2024) por uma obra de emanações flutuantes e vozes sempre enevoadas. Leia o texto completo.
Arnaldo Antunes
Novo Mundo (2025, Risco)
Há tempos Arnaldo Antunes não parecia tão entusiasmado em estúdio. Para ser mais exato, desde que deu vida ao colaborativo Iê Iê Iê (2009), registro em que uniu forças com o músico cearense Fernando Catatau. E isso tem um motivo: ainda que siga em carreira solo desde o início dos anos 1990, quando deixou os Titãs para mergulhar na própria obra, o cantor e compositor paulistano é o tipo de artista que cresce no coletivo. Exemplo disso fica ainda mais evidente nos deparamos com o fino repertório de Novo Mundo, trabalho em que estabelece no diálogo com diferentes parceiros criativos a passagem para um universo de novas possibilidades. Com produção de Pupillo (bateria, percussão) e completo pela presença dos músicos Kiko Dinucci (guitarras e violões), Vitor Araújo (teclados e piano) e Betão Aguiar (baixo), o registro de doze faixas equilibra ferocidade e leveza enquanto garante algumas das melhores canções de Antunes em anos. Leia o texto completo.
Aya
Hexed (2025, Hyperdub)
A crueza explícita na imagem de capa de Hexed é apenas uma fração de tudo aquilo que a produtora, cantora e compositora Aya Sinclair busca desenvolver no segundo e mais recente trabalho de estúdio da carreira. Composto durante um período de sobriedade, o registro funciona como um olhar para o passado recente, quando noites em claro movidas pelo consumo de cocaína orientavam a vida da artista. Embora parta desse olhar sóbrio de Aya para o próprio passado, Hexed nunca soa de forma moralista. Pelo contrário, é bastante honesto com o ouvinte durante toda sua execução. Composições que, mesmo partindo de um direcionamento torto, assumem um sentido documental, revelando com crueza e completa ausência de encanto a realidade de produtores e artistas outros noturnos tragados para esse universo de excessos. Leia o texto completo.
Babidi
Depois Que a Água Baixou (2025, Sujoground)
A mensagem de Babidi em Depois Que a Água Baixou não poderia ser mais clara: “Só o povo unido, forte, é que vai conseguir mudar isso”. Lançado na mesma semana em que a força implacável das chuvas mais uma vez deixou suas marcas em diferentes cidades brasileiras, o registro de doze canções propõe uma reflexão sobre o racismo climático e negacionismo ambiental que o produtor carioca sentiu na pele quando uma enchente alagou a região onde vivia, no Parque Columbia, Zona Norte do Rio de Janeiro. Inaugurado pela voz de Seu Gerê, pai do produtor, o disco pinta um retrato realista, por vezes documental, sobre a vida nas periferias, o descaso do governo e a força da população que, mesmo desamparada, luta pela própria sobrevivência. São canções que deixam de lado as conquistas, sorrisos e todo um universo de pequenos excessos celebrados em outros trabalhos recentes em que esteve envolvido, como o álbum Eu Ainda Tenho Coração (2023), do rapper LEALL, para destacar a consciência social incorporada aos versos. Leia o texto completo.
Bad Bunny
Debí Tirar Más Fotos (2025, Rimas)
Na contramão dos principais nomes do pop latino, sempre inclinados a moldar o próprio repertório para atender aos interesses da indústria estadunidense, Bad Bunny segue cada vez mais imerso na música, nos ritmos e na cultura porto-riquenha. Sexto e mais recente álbum de estúdio do artista em carreira solo, Debí Tirar Más Fotos funciona como uma clara representação desse resultado. São canções que deixam o reggaeton em segundo plano para incorporar elementos de jíbaro, salsa e outros gêneros locais. Terceira canção do disco, Baile Inolvidable talvez seja a composição que melhor sintetiza essa mudança de rumo que teve início durante o lançamento de Un Verano Sin Ti (2022), mas alcança melhor resultado com o presente álbum. São pouco mais de seis minutos em que o artista, acompanhado pelos alunos da Escola de Música Livre Ernesto Ramos Antonini, de San Juan, Porto Rico, se declara à mulher amada e confessa seus sentimentos mais profundo em meio a metais e elementos percussivos cuidadosamente encaixados. Leia o texto completo.
BaianaSystem
O Mundo Dá Voltas (2025, Máquina de Louco)
Com o lançamento de O Futuro Não Demora (2019), Russo Passapusso e seus companheiros de banda no BaianaSystem conseguiram estabelecer um conceito criativo que vinha sendo desenvolvido desde Duas Cidades (2016). São registros essencialmente marcados pelo colorido cruzamento de estilos, forte discurso político e diálogos com artistas vindos dos mais variados campos da música brasileira e internacional. Um exercício talvez formulaico em termos de estrutura, mas que está longe de ser encarado como previsível. Exemplo disso fica ainda mais evidente com a chegada de O Mundo Dá Voltas. Quinto e mais recente trabalho de estúdio do coletivo baiano, o registro que conta com produção de Daniel Ganjaman traz de volta uma série de elementos que fizeram do grupo um dos mais importantes do cenário brasileiro ao longo da última década. Composições que, mesmo marcadas pelo lirismo contestador, como um chamado a encarar a realidade, em nenhum momento perdem a leveza e o notável aspecto dançante. Leia o texto completo.
Benjamin Booker
Lower (2025, Thirty Tigers / Fire Next Time)
Sete anos separam Witness (2017) do material entregue em Lower. Com o longo intervalo entre um trabalho e outro, Benjamin Booker parece ter encontrado tempo para não somente potencializar tudo aquilo que vinha testando desde o autointitulado registro de estreia, lançado em 2014, como buscar por novas possibilidades, feito reforçado em cada composição do presente disco. Acompanhado de Kenny Segal, produtor que, nos últimos anos, esteve envolvido em diferentes registros ao lado do rapper Billy Woods, Booker traz de volta o habitual blues rock que tem incorporado desde o início da carreira, porém, sustentando na construção das batidas e samples um diálogo bastante claro com o rap. A própria abertura do material, com Black Opps, trata de ambientar o ouvinte ao trabalho, mesclando uma base ruidosa que, ao ser melhor enquadrada, caberia facilmente em um disco assinado por Playboi Carti. Leia o texto completo.
Billy Woods
Golliwog (2025, Backwoodz Studioz)
Billy Woods sempre foi um especialista na composição de obras atmosféricas. Ainda que todas as virtudes do rapper estejam bastante evidentes na elaboração das rimas, a ambientação proposta pelo artista é tão importante quanto o que se estabelece nos versos. De registros em carreira solo, como Aethiopes (2022), a trabalhos colaborativos, caso de Maps (2023), com Kenny Segal, sobram bons exemplos dessa abordagem. Entretanto, o que Woods estabelece em Golliwog, novo álbum em carreira solo, transcende tudo aquilo que havia testado anteriormente. Utilizando trechos de filmes e seriados de terror, antigas propagandas de TV e discursos políticos deteriorados pelo tempo, o rapper apresenta um registro que não apenas utiliza a estética do horror, como faz disso um estímulo para o desenvolvimento dos versos. Leia o texto completo.
BK
Diamantes, Lágrimas e Rostos para esquecer (2025, Gigantes)
Não existe maneira melhor de medir o sucesso de um rapper do que o volume de samples autorizados em seus trabalhos. Entretanto, para além de um exercício de autoafirmação financeira, como se dissesse a todo momento “eu posso”, satisfatório perceber em Diamantes, lágrimas e rostos para esquecer, mais recente álbum de estúdio do rapper carioca BK, um registro que não somente utiliza desse opulento pano de fundo instrumental como símbolo de status, mas para potencializar ainda mais a força dos versos. Sequência ao material entregue em Icarus (2022), trabalho em que se permitiu estreitar laços com o pop, Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer segue de onde o rapper parou há três anos, porém, em uma abordagem ainda mais complexa e musicalmente bem elaborada. São canções que partem de um olhar atento para a música brasileira, resgatando fragmentos de diferentes épocas como forma de estreitar laços com o ouvinte e dar novo sentido à vulnerabilidade que há tempos embala o repertório do artista carioca. Leia o texto completo.
Black Country, New Road
Forever Howlong (2025, Ninja Tune)
Com exceção do nome, o Black Country, New Road como conhecemos hoje em nada se assemelha ao grupo que surgiu no fim da década passada. E isso é excelente. Desde a saída do vocalista e principal compositor, o músico Isaac Wood, o projeto formado por Tyler Hyde, Lewis Evans, Georgia Ellery, May Kershawm, Luke Mark e Charlie Wayne não somente estreitou laços, como encontrou caminhos dentro e fora de estúdio. Exemplo disso fica ainda mais evidente quando avançamos pelas músicas de Forever Howlong. Primeiro álbum de estúdio do sexteto desde Ants From Up There (2022) e sequência ao ensaio ao vivo que foi Live at Bush Hall (2023), o trabalho produzido por James Ford (Arctic Monkeys, Jessie Ware) mostra a banda em sua melhor forma. Canções que destacam o refinamento técnico e a força do coletivo. Leia o texto completo.
Bon Iver
Sable, Fable (2025, Jagjaguwar)
Nunca antes Justin Vernon pareceu tão feliz. E isso fica mais do que evidente em cada mínimo fragmento de Sable, Fable, obra que não apenas destaca o lirismo esperançoso do músico norte-americano, como leva o som do Bon Iver para outras direções. Um delicado exercício criativo que parte das experiências do compositor para dialogar de maneira bastante sensível com todo e qualquer ouvinte. Conceitualmente dividido em duas partes, Sable, Fable estabelece no primeiro bloco de canções um aceno para os primeiros anos do músico, vide o direcionamento acústico que instantaneamente evoca For Emma, Forever Ago (2007). A diferença está na forma como Vernon rompe com a melancolia para destacar o teor ensolarado que orienta a formação dos versos. “O que era dor agora é ganho / Um novo caminho se abre”, canta em Awards Season, composição que pontua o ato inicial e abre passagem para o restante do registro. Leia o texto completo.
Caroline
Caroline 2 (2025, Rough Trade)
Desde o fim da década passada, o Reino Unido vive um período de intensa movimentação criativa, com o surgimento de diferentes coletivos de artistas inclinados à colaboração como forma de desconstrução de antigas estruturas sonoras. São nomes como Black Country, New Road, Squid e, o hoje extinto, Black Midi, que levaram a cena inglesa para um campo de intensa experimentação e busca por novas possibilidades. Parte importante desse mesmo universo criativo, os integrantes do Caroline alcançam um novo estágio de criação colaborativa ao revelar o segundo e mais recente álbum de estúdio da carreira, Caroline 2. Marcado pela sobreposição de estilos, ruídos e manipulações vocais que tendem ao etéreo, o trabalho destaca o esforço do coletivo britânico em utilizar de uma abordagem cada vez mais abstrata. Leia o texto completo.
Catto
Caminhos Selvagens (2025, Editsy)
O dente sujo de batom, a fumaça do cigarro, o cabelo loiro desbotado que escorre pela jaqueta preta. Em Caminhos Selvagens, primeiro registro de inéditas de Catto após um intervalo de oito anos, tudo é retratado de maneira tão intensa e dramática que o som instantaneamente se converte em imagem. É como se um filme de beleza decadente fosse rodado no canto escuro das nossas mentes. Fragmentos de memórias, romances fracassados e uma protagonista que, mesmo consumida pela dor, permanece intacta. E não poderia ser diferente. Concebido a partir de canções inicialmente registradas no celular, Caminhos Selvagens nasce como um acúmulo das experiências, relacionamentos fracassados e dores sentidas pela artista gaúcha entre o intervalo que abrange o último trabalho de inéditas e o presente álbum. São versos tão expositivos e íntimos que é difícil não se identificar e perguntar: “como ela sabe dos meus segredos?”. Leia o texto completo.
Darkside
Nothing (2025, Matador)
Desde o começo da carreira, quando Nicolas Jaar e Dave Harrington passaram a se encontrar para sessões de improviso, o Darkside sempre foi encarado como um espaço marcado pelas possibilidades. E isso fica mais do que evidente não apenas nos trabalhos de estúdio da dupla, caso de Psychic (2013) e Spiral (2021), como nos registros ao vivo e até na inusitada releitura de Random Access Memories (2013), do Daft Punk. Com o lançamento de Nothing, terceiro e mais recente registro de inéditas da banda, Jaar e Harrington decidiram brincar não apenas com as possibilidades em estúdio, mas com o formato do próprio projeto. Não por acaso, para a elaboração do trabalho, a dupla contou com a percussão de Tlacael Esparza, baterista norte-americano que passa a atuar de forma integral junto aos dois instrumentistas do Darkside. Leia o texto completo.
Destroyer
Dan’s Boogie (2025, Merge)
Se pegarmos apenas o que Dan Bejar produziu nos últimos dez anos com o Destroyer, como Poison Season (2015), Ken (2017), Have We Met (2020) e Labyrinthitis (2022), já teríamos em mãos um dos catálogos mais invejáveis da história da música. A questão é que o compositor canadense tem feito isso desde o começo da década de 1990 e, ao menos por enquanto, não apresenta qualquer sinal de exaustão ou desgaste criativo. Prova disso é o fino repertório montado para Dan’s Boogie. Com produção assinada por John Collins, com quem Bejar tem colaborado desde o começo da carreira, o registro é uma combinação do que há de melhor na obra do grupo canadense. Das letras sempre descritivas e altamente expositivas, passando pelo tratamento aplicado aos arranjos, melodias e vozes, tudo parece pensado para impressionar o ouvinte. Leia o texto completo.
DJ Guaraná Jesus
Ouroboros (2025, Seloki Records)
É impressionante a capacidade que o produtor Julio Santa Cecília tem de ambientar o ouvinte mesmo em um curto intervalo de tempo. Em Ouroboros, trabalho que marca a estreia do artista como DJ Guaraná Jesus, cada nova faixa se articula em um espaço de poucos segundos, tempo suficiente para sermos conduzidos em direção ao passado, contudo mantendo os dois pés ainda firmes no presente. Esse jogo temporal, explícito logo no título da obra, com o símbolo da serpente mordendo a própria cauda em uma clara representação da ciclicidade da vida e o conceito de eterno retorno, é justamente o segredo para entender o universo criativo proposto pelo artista fluminense. Canções que encontram na eletrônica produzida na década de 1990 o estímulo para um repertório tão nostálgico e referencial, quanto futurista. Leia o texto completo.
DJ Koze
Music Can Hear Us (2025, Pampa)
Mesmo que mantenha um volume constante de lançamentos, remixes e parcerias com diferentes artistas, DJ Koze costuma levar anos entre um álbum e outro. E isso tem um motivo. Na contramão dos principais nomes da cena eletrônica, sempre movidos pela urgência das batidas, o artista de Flensburg, Alemanha, avança em uma medida particular de tempo, fazendo de cada faixa a passagem para um mundo mágico. Exemplo disso fica ainda mais do que evidente quanto mergulhamos nas canções de Music Can Hear Us. Sequência ao bem-recebido Knock Knock (2018), possivelmente o registro mais comercial da carreira de Koze, o trabalho de mais de 60 minutos de duração ganha forma aos poucos, sem pressa. São ambientações sutis, batidas sempre calculadas e vozes que se projetam de forma quase instrumental. Leia o texto completo.
Djrum
Under Tangled Silence (2025, Houndstooth)
Quem há tempos acompanha os trabalhos de Felix Manuel como Djrum sabe o quão meticuloso o produtor britânico costuma ser. Entretanto, mesmo dono de repertório marcado em essência pelos detalhes, conceito reforçado no ainda recente EP Meaning’s Edge (2024), o que o artista estabelece em Under Tangled Silence, terceiro registro de inéditas, transcende esteticamente os limites da própria criação. Marcado pelo capricho na elaboração dos arranjos que vão de pianos minimalistas ao violoncelo de Zosia Jagodzinska, Under Tangled Silence é um trabalho que encanta pelo completo equilíbrio do produtor. São canções que partem de uma abordagem puramente instrumental, tocando na obra de artistas como Sigur Rós, vide a forte similaridade em músicas como Reprise, porém, sempre orientadas pela força das batidas. Leia o texto completo.
Ebony
KM2 (2025, Independente)
Inaugurado por fragmentos de programas de TV e trechos de Baixada é Cruel, um dos grandes exemplares do funk dos anos 2000, KM2 é um precioso exercício de reconexão de Ebony com o passado, mas sem deixar de dialogar com o presente. O próprio título do álbum é uma referência à cidade natal da artista, Queimados, na Baixada Fluminense, que ela e amigos costumavam chamar de “K-M-Dois”. Exemplo disso fica bastante evidente no que talvez seja a canção mais vulnerável do disco, Não Lembro Da Minha Infância. São versos que escancaram tentativas de abusos (“Não tenho medo de monstros / Quando os meus tios chegavam, eu dormia embaixo da cama / Eu fiquei amiga das aranhas”) e momentos de maior fragilidade enquanto mergulhamos na mente e traumas da rapper que foi catapultada com Terapia (2023). Leia o texto completo.
Erika de Casier
Lifetime (2025, Independent Jeep Music)
Lançado de surpresa, sem qualquer aviso prévio, Lifetime é uma obra feita para ser ouvida da primeira à última canção, livre de possíveis interrupções. E isso tem um motivo. Quarto trabalho de estúdio de Erika de Casier, o sucessor do ainda recente Still (2024) não é um álbum que trata suas canções de maneira independente, mas como parte de um repertório único e puramente atmosférico. Produzido e gravado inteiramente pela artista ao longo de um ano, durante o intervalo das sessões de Still e início da turnê de divulgação do trabalho, Lifetime é uma obra de ambientação noturna. A própria cantora cogitou batizar o álbum de Midnight Caller, referenciando tanto a produção notívaga do material, como os tormentos existenciais e reflexões sobre a morte que surgem quando assentamos a cabeça no travesseiro. Leia o texto completo.
FKA Twigs
Eusexua (2025, Young)
De Beyoncé à Jessie Ware, de Dua Lipa à Charli XCX, não foram poucas as cantoras que, nos últimos anos, encontraram na intensa relação com as pistas a passagem para algumas de suas melhores obras. Embora imersa nesse mesmo universo criativo, Tahliah Barnett, a FKA Twigs, segue uma abordagem parcialmente distinta em Eusexua. Partindo do estado de êxtase que dá nome ao disco, um termo criado por ela mesma, a multiartista se aprofunda ainda mais nos próprios desejos, sentimentos e inquietações. “Você se sente sozinho? / Você não está sozinho / E se te perguntarem, diga que sente / Mas não chame isso de amor, Eusexua”, canta na atmosférica faixa-título. Escolhida para inaugurar o disco, a música não apenas cumpre a função de ambientar o ouvinte ao trabalho, como apresenta parte expressiva dos elementos que serão incorporados ao longo do material. São composições que apontam para a obra de Madonna e Björk na década de 1990, mas em nenhum momento ocultam a identidade criativa e entrega da cantora inglesa. Leia o texto completo.
Gabriel Ventura
Pra Me Lembrar De Insistir (2025, Balaclava Records)
O espirro, o isqueiro tentando ser aceso, o cricrilar suave e o som de um telefone analógico sendo discado. Em Pra Me Lembrar de Insistir, as coisas acontecem enquanto Gabriel Ventura tenta se organizar emocionalmente. Composições que se estendem para além do limite das palavras, como se o músico fluminense fosse capaz de transportar para dentro de estúdio o próprio ambiente que o cerca. Nascido das reflexões de Ventura sobre o fazer artístico, o sucessor de Tarde (2022) é uma obra feita para que o ouvinte se perca dentro dela. Enquanto o músico, que foi apresentado como integrante da Ventre no início da década passada, mergulha de cabeça nas próprias inquietações, camadas instrumentais surgem e desaparecem a todo instante, tornando a sensação de impermanência a única certeza que move o registro. Leia o texto completo.
Hesse Kassel
La Brea (2025, Independente)
Os pouco mais de dez minutos da introdutória Postparto são essenciais para entender tudo aquilo que os chilenos do Hesse Kassel buscam desenvolver no primeiro trabalho de estúdio da carreira, La Brea. Enquanto camadas de guitarras e batidas irregulares trilham um percurso torto, a intensa dramaticidade aplicada pelo vocalista e líder Renatto Olivares faz dos versos que tratam sobre elementos simples do cotidiano o estímulo para um material essencialmente catártico, evidenciando a força do grupo. Com o ouvinte ambientado e possivelmente atordoado pela experiência proposta pelo sexteto, Olivares e seus companheiros de banda abrem passagem para um dos repertórios mais avassaladores da produção chilena recente. São quase 80 minutos em que somos arremessados de um canto a outro da obra e sempre confrontados pela poética oblíqua que vai de personagens dúbios a medos e outros conflitos existenciais. Leia o texto completo.
Ichiko Aoba
Luminescent Creatures (2025, Hermine / Psychic Hotline)
O mergulho dado por Ichiko Aoba em Windswept Adan (2020) continua a orientar o trabalho da musicista japonesa em Luminescent Creatures. Inaugurado pelas orquestrações de Taro Umebayashi, com quem divide a produção do disco, Aoba faz da introdutória Coloratura a passagem para o ambiente de emanações litorâneas que conduz criativamente cada uma das onze faixas do registro. Não por acaso, ao mergulhar na composição seguinte, 24° 3′ 27.0″ N, 123° 47′ 7.5″ E, Aoba resgata os versos de uma música tradicional da ilha de Hateruma, reforçando ainda mais a temática do registro. São canções que partem da relação com o mar e as criaturas que habitam o fundo dos oceanos para se relacionar com os sentimentos mais profundos da musicista japonesa, como a solidão detalhada nos versos de Mazamun. Leia o texto completo.
Jadsa
Big Buraco (2025, Risco)
A sonora escolha de palavras como “manguaça”, “antioxidante” e “beiço”, o ruído pontual dos scratches e a completa flexibilidade das vozes tornam o óbvio ainda mais explícito: Big Buraco é uma obra que transborda musicalidade. Segundo álbum Jadsa em carreira solo, o sucessor de Olho de Vidro (2021) é tanto uma continuação dos registros que o antecedem, quanto a passagem para um novo território criativo. Ainda que muitas das canções que integram o disco tenham saído diretamente do colaborativo Vera Cruz Island (2024), trabalho assinado em parceria com João Miliet Meireles no paralelo Taxidermia, o produto final é completamente outro. Agora acompanhada pela produção caprichosa de Antônio Neves, a cantora baiana não apenas conclui o que iniciou há poucos meses, como transcende os limites da própria criação. Leia o texto completo.
Jane Remover
Revengeseekerz (2025, DeadAir)
Jane Remover vive hoje a melhor fase da carreira. Depois de passar os últimos meses revelando ao público uma série de boas canções, como Magic I Want U e Flash In The Pan, além, claro, de dar vida ao novo disco do paralelo Venturing, Ghostholding (2025), a cantora, compositora e produtora original de Newark, Nova Jersey, está de volta com o terceiro e mais recente trabalho de estúdio da carreira, Revengeseekerz (2025). Sequência ao material entregue em Census Designated (2023), o disco traz de volta uma série de elementos originalmente testados no registro entregue há dois anos, como as guitarras, sintetizadores e vozes sempre carregadas de efeitos, porém, destacando a potência e fluidez das batidas. O resultado desse processo está na entrega de uma obra que, mesmo densa, chama a atenção pelo completo dinamismo das composições. Leia o texto completo.
Japanese Breakfast
For Melancholy Brunettes (& Sad Women) (2025, Dead Oceans)
Seja na literatura ou nos trabalhos como Japanese Breakfast, Michelle Zauner sempre encontrou na força dos próprios sentimentos a passagem para grandes obras. E isso fica ainda mais evidente com a chegada de For Melancholy Brunettes (& Sad Women), registro em que se entrega às emoções e firma na produção caprichada de Blake Mills um contraponto soturno ao som radiante de Jubilee (2021). Inaugurado em meio a arranjos acústicos, sintetizadores cristalinos e sopros de Here is Someone, o registro busca com a delicada canção de abertura ambientar o ouvinte aos temas que Zauner desenvolve ao longo do trabalho. “Observando você do quintal / A vida é triste, mas alguém está aqui”, canta. São versos sempre confessionais e melancólicos, como a passagem para um universo particular da musicista norte-americana. Leia o texto completo.
Jovens Ateus
Vol. 1 (2025, Balaclava Records)
O sentimento de estagnação e deslocamento que consome os versos de Correntes, quinta música de Vol. 1, diz muito sobre aquilo que os membros da Jovens Ateus buscam desenvolver no primeiro trabalho de estúdio. “Me deparo com mudanças / Me parece que a vida seguiu sem eu aqui”, cresce a densa letra da canção, sempre acompanhada por um contrastante jogo de guitarras melódicas. Trabalho de sentimentos latentes e versos sempre expositivos, o registro que ainda conta com produção de Roberto Kramer (Raça, gorduratrans) parte dos tormentos vividos por Guto Becchi (voz), Fernando Vallim (guitarra), João Manoel Oliveira (guitarra), Bruno Deffune (baixo) e Antônio Bresolin (bateria eletrônica e sintetizadores) para dialogar com o ouvinte. São canções que flertam com a morte, tratam sobre crises de ansiedade e pintam um retrato brutal sobre o impacto da vida adulta e o peso das relações que criamos. Leia o texto completo.
Julia Mestre
Maravilhosamente Bem (2025, Independente)
Julia Mestre está bem, maravilhosamente bem. Entretanto, o sentimento não era esse quando a cantora e compositora carioca mergulhou no exercício de criação do terceiro álbum em carreira solo. Nascido de um processo de cura, o registro, produzido em parceria com os músicos Gabriel Quinto, João Moreira e Gabriel Quirino, foi gestado aos poucos, até que a artista, pela primeira vez, se sentisse dona da própria trajetória. Não por acaso, em janeiro, quando decidiu revelar ao público uma mostra do álbum, Sou Fera foi a canção escolhida para assumir essa função. E não poderia ser diferente. Primeira faixa do trabalho composta por Mestre, a canção traz de volta uma série de elementos testados no antecessor Arrepiada (2023), como os acenos para o pop dos anos 1980 e a obra de Rita Lee, porém prepara o terreno para o presente registro. Leia o texto completo.
Khadija Al Hanafi
!OK! (2025, Fada Records)
Quando pensamos em estilos tão característicos como o juke e o footwork, difícil não lembrar do trabalho de alguns dos grandes expositores do gênero, como DJ Rashad, RP Boo, Traxman e outros nomes da cena de Chicago. Entretanto, a tunisiana Khadija Al Hanafi há muito tem conquistado seu espaço. Depois de dois ótimos discos da série Slime Patrol, a produtora retorna com o que talvez seja sua melhor obra, !OK! (2025), registro em que estabelece a própria identidade criativa e ainda expande seus horizontes. Conceitualmente próximo de outros exemplares do gênero, com seus ritmos rápidos e repetitivos, batidas quebradas e fragmentos de vozes, !OK! segue a cartilha proposta por diferentes produtores de Chicago há mais de três décadas, porém, trilha um percurso único. Ainda que voltada ao estilo industrial do footwork, Al Hanafi consolida no uso melódico das bases um elemento estilístico e identitário totalmente particular. Leia o texto completo.
Los Thuthanaka
Los Thuthanaka (2025, Independente)
Desde que Elysia Crampton adotou a identidade de Chuquimamani-Condori, cada novo registro entregue pela artista norte-americana parece pensado para tensionar a experiência do ouvinte. Ainda que traços de música andina e outros componentes percussivos apontem para a produção latina, o que se percebe é uma insana combinação de ideias, diferentes ritmos e quebras que pervertem todo e qualquer traço de conforto. Exemplo disso fica mais evidente quando nos deparamos com as canções do colaborativo Los Thuthanaka. Produto da parceria entre a artista e o próprio irmão, Joshua Chuquimia Crampton, o registro de oito faixas segue de onde Elysia parou há dois anos, durante o desenvolvimento do também experimental DJ E (2023), porém, partindo de um acabamento criativo ainda mais complexo e desafiador. Leia o texto completo.
Luedji Luna
Um Mar Pra Cada Um (2025, Independente)
A escolha de Luedji Luna em inaugurar Um Mar Pra Cada Um com uma composição instrumental e jazzística é essencial para entender aquilo que a cantora, compositora e produtora baiana busca desenvolver no mais recente trabalho de estúdio da carreira. Sem pressa, a musicista soteropolitana navega nos próprios sentimentos, revelando ao público uma obra que exige e gratifica na mesma medida. Capítulo final das explorações sonoras e emocionais iniciadas pela artista em Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água (2020) e ampliadas com a versão deluxe do material, Um Mar Pra Cada Um não é um trabalho de rápida absorção. Pelo contrário: é cauteloso, por vezes difícil de ser interpretado, mas sempre fascinante. São pinceladas instrumentais e poéticas que mais ocultam do que necessariamente parecem evidenciar. Leia o texto completo.
Maria Somervile
Luser (2025, 4AD)
Maria Somerville soube como poucos a melhor maneira de aproveitar os mais de seis anos que levou para finalizar o sucessor de All My People (2019). Ainda que Luster tenha sido gravado entre 2021 e 2023, com sessões organizadas na região paisagística de Conamara, na Irlanda, e Dublin, capital do país, a cantora e compositora original da cidade de Galway levaria ainda mais alguns meses até finalizar o disco. Apesar do longo intervalo de tempo, a espera valeu a pena. Inaugurado em meio a ambientações etéreas de Réalt,o registro pode até seguir de onde a cantora parou no trabalho anterior, porém assume um rumo completamente inesperado. Os temas contemplativos, harmonias de vozes e bases enevoadas ainda estão presentes, a diferença está na forma como Somerville agora concede ritmo e maior pressão ao repertório. Leia o texto completo.
Marina Sena
Coisas Naturais (2025, Sony Music)
Existe uma naturalidade única na relação de Marina Sena com a música. Da rock psicodélico que marca a passagem pelo grupo A Outra Banda da Lua ao pop tropical durante a breve estadia no Rosa Neon, não são poucos os momentos em que a cantora mineira se permitiu brincar com as possibilidades. Mesmo quando voltou seus esforços para os trabalhos em carreira solo, notável é a separação entre o repertório elaborado para De Primeira (2021), com sua brasilidade latente, e o som comercial do posterior Vício Inerente (2023). Interessante perceber em Coisas Naturais, terceiro e mais recente álbum da artista em carreira solo, um trabalho que combina e equilibra todos esses elementos com uma desenvoltura notável. É como se a artista, pela primeira vez em mais de uma década de carreira, transportasse para dentro de estúdio todas essas referências, fazendo disso o estímulo para um disco que transcende os próprios limites. Leia o texto completo.
Mateus Aleluia
Mateus Aleluia (2025, Independente)
“No amor não mando / Me mando amor / Quando o amor me manda / Eu sigo e vou”, canta Mateus Aleluia logo nos primeiros minutos de No Amor Não Mando, composição que inaugura o quinto registro do músico baiano em carreira solo. São pouco mais de nove minutos em que arranjos produzidos em parceria com a dupla formada por Tadeu Mascarenhas e Tenille Bezerra ganham forma aos poucos, sem pressa, como um complemento natural aos versos que funcionam como um mergulho nos sentimentos do artista de 81 anos. Com a direção apontada nos minutos iniciais, Aleluia se encaminha para a elaboração de faixas cada vez mais extensas, ainda que musicalmente reducionistas. São movimentos calculados de violão que se abrem para a sutil inserção de outros elementos. Canções geradas a partir da combinação de diferentes músicas, como em Doce Sacrifício / Filho / Acalanto, com seus mais de 14 minutos de arranjos e vozes trabalhadas em uma medida própria de tempo. Um avanço vagaroso, por vezes arrastado, porém, sempre fascinante. Leia o texto completo.
MIKE
Showbiz! (2025, 10k)
Dois anos após o lançamento do último trabalho em carreira solo, Michael Jordan Bonema, o MIKE, retorna com uma de suas obras mais ambiciosas, Showbiz! (2025). Sequência ao material entregue em Burning Desire (2023), o registro de 24 composições, todas bastante curtas, parte da relação do artista com a vida na estrada durante as turnês para refletir sobre a saudade de casa, a solidão e outros tormentos pessoais. Nesse sentido, a curta duração das faixas e volume excessivo de canções tem um propósito tanto essencial para o andamento rítmico do trabalho, como conceitual e estilístico. São pequenos fluxos de pensamento, como se a cada parada em uma cidade diferente, o rapper aproveitasse para mergulhar ainda mais fundo nas próprias inquietações, potencializando o que havia iniciado em álbuns como o delicado Disco! (2021). Leia o texto completo.
Model/Actriz
Pirouette (2025, True Panther)
Quando o Model/Actriz começou a despejar as primeiras composições de Pirouette, ficou bastante claro que, em termos de estrutura, a direção seguida pelo quarteto de Boston seria a mesma do introdutório Dogsbody (2023). Embora livre de grandes transformações, prevalece na elaboração dos versos, cada vez mais confessionais, dolorosos e expositivos, a real beleza do som produzido pela banda. Se há dois anos o vocalista Cole Haden nos convidava a mergulhar em uma aventura noturna pela cidade de Nova Iorque, onde a banda reside, hoje somos chamados a visitar as memórias e tormentos que habitam o interior do artista que assina cada uma das faixas do disco. São canções que partem de um insano fluxo de pensamentos, colidem lembranças, medos e traumas que se conectam diretamente ao ritmo do material. Leia o texto completo.
Nyron Higor
Nyron Higor (2025, Far Out Recirdings)
Passagem para um universo particular, o autointitulado segundo álbum Nyron Higor é uma dessas obras que encantam sem necessariamente fazer esforço. São dez composições que destacam a sensibilidade do cantor e compositor alagoano, estreitam laços com conterrâneos como Bruno Berle e Batata Boy, com quem divide a produção do disco, mas em nenhum momento rompem com uma lógica própria do instrumentista que estreou há três anos com o contido Fio de Lâmina (2022) e retorna agora para ampliar seus horizontes. Com Ciranda como composição de abertura, Higor apresenta parte dos elementos que serão explorados no decorrer do registro. São ambientações sutis que passam pela música brasileira, mas em nenhum momento rompem com o que parece ser uma lógica própria do instrumentista, sempre orientado pelo reducionismo dos elementos. Exemplo disso fica ainda mais evidente com a chegada de Louro Cantador, canção em que incorpora o canto de um papagaio como alternativa aos vocais, porém, preservando a sutileza do trabalho. Leia o texto completo.
Oklou
Enough (2025, True Panther)
Dona de um vasto repertório que se acumula desde o início da década passada, Marylou Mayniel, a Oklou, parece seguir uma trilha bastante particular com o primeiro álbum de estúdio da carreira, Choke Enough. Mesmo acompanhada de A. G. Cook (Charli XCX, Troye Sivan) e Danny L Harle (Dua Lipa, Caroline Polachek), dois dos principais responsáveis por moldar o pop ao longo dos últimos anos, a artista joga com regras próprias tanto na elaboração das batidas e bases, como na construção dos versos. Contraponto reducionista aos excessos propostos por Charli XCX em Brat (2024), Choke Enough concede ao anfetaminado hyperpop um novo acabamento. São canções que avançam em uma medida própria de tempo, lembrando aquilo que nomes como Smerz e Astrid Sonne têm incorporado dentro da cena nórdica, porém, utilizando de um acabamento ainda mais sensível e estruturalmente contido, próprio da musicista. Leia o texto completo.
Panda Bear
Sinnister Grift (2025, Domino)
Contrário ao indicado no título e imagem de capa, poucas vezes antes o trabalho de Panda Bear pareceu tão solar quanto em Sinister Grift. Sétimo e mais recente álbum de estúdio de Noah Lennox em carreira solo, o registro de dez faixas pode até ter seus momentos de contemplação, porém, estabelece na fluidez dos arranjos e melodias cantaroláveis a passagem para um universo de novas possibilidades. E isso tem um motivo. Embora responsável pela composição e parte expressiva dos instrumentos tocados durante toda a execução do trabalho, Sinister Grift se revela como o registro mais colaborativo de Panda Bear. Da coprodução de Deakin, companheiro de banda no Animal Collective, passando pela escolha dos convidados, não são poucos os momentos em que Lennox amplia os próprios horizontes dentro de estúdio. Leia o texto completo.
Perfume Genius
Glory (2025, Matador)
A impecabilidade há muito tem se revelado como um dos principais traços da obra de Mike Hadreas como Perfume Genius. Desde a estreia com Learning (2010), passando por Put Your Back N 2 It (2012), Too Bright (2014), No Shape (2017), Set My Heart on Fire Immediately (2020) e Ugly Season (2022), cada novo álbum evidencia o lirismo confessional e sempre meticuloso processo de composição do músico norte-americano. Sétimo trabalho de estúdio do artista, Glory é mais um bom exemplo disso. Mesmo livre da fluidez que marca o álbum que o antecede, um exercício pensado como parte de um espetáculo teatral, o registro encanta pela minúcia e completo domínio de Hadreas sobre a própria criação. É como se o cantor soubesse exatamente que direção seguir, detalhamento que vai dos versos ao ensaio fotográfico de SSION. Leia o texto completo.
Saba / No I.D.
From the Private Collection of Saba and No I.D. (2025, Independente)
Às vezes, tudo que você precisa é de um novo parceiro criativo. No caso de Saba, ele foi atrás do experiente No I.D., produtor que tem no currículo nomes de peso como Jay-Z, Kanye West e Drake, mas que encontrou no rapper de Chicago um de seus colaboradores recentes mais interessantes. E isso pode ser percebido em cada uma das canções que integram o repertório de From the Private Collection of Saba and No I.D. (2025). Sequência ao material entregue em Few Good Things (2022), o trabalho que vem sendo planejado desde a década passada, quando os dois se conheceram por intermédio de um executivo que tentava atrair Saba para um grande selo, From the Private Collection of Saba and No I.D. concentra o que há de melhor na obra de cada colaborador. Enquanto o rapper brilha nas rimas, o produtor se reconecta com o próprio passado. Leia o texto completo.
Seu Jorge
Baile à la Baiana (2025, Cafuné / Black Service)
Mesmo antes de se aventurar em carreira solo, quando ainda integrava o Farofa Carioca, Seu Jorge fez da mistura de estilos um componente fundamental para o próprio trabalho. Entretanto, mesmo habituado aos diferentes cruzamentos de gêneros e diálogos com os mais variados parceiros criativos, poucas vezes antes o artista de Belford Roxo pareceu tão liberto criativamente quanto no repertório de Baile à la Baiana (2025). Primeiro álbum de inéditas do artista em carreira solo após um longo intervalo de dez anos, o sucessor de Músicas para Churrasco, Vol. 2 (2015) é uma verdadeira celebração à música brasileira e os encontros que ela proporciona. São canções que atravessam os bailes black do Rio de Janeiro para encontrar nos ritmos e no tempero baiano o estímulo para o melhor trabalho do cantor e compositor fluminense em duas décadas. Leia o texto completo.
Sharp Pins
Radio DDR (2025, K)
Radio DDR é um desses trabalhos que fazem você se perguntar: “eu já não ouvi isso antes?”. E não poderia ser diferente. Segundo e mais recente álbum de estúdio do Sharp Pins, projeto comandado por Kai Slater, um dos integrantes do Lifeguard, o registro de acabamento nostálgico é sim uma viagem em direção ao passado, mas que estabelece na força dos sentimentos a formação de uma identidade própria do artista. Entre ecos de veteranos dos anos 1960, como The Beatles e The Kinks, e seus descendentes, vide Guided By Voices e Teenage Fanclub, Slater cria um pano de fundo altamente referencial e nostálgico que é difícil não pensar que estamos de posse de um trabalho perdido do período ou dos artistas que tanto o inspiram. São guitarras descomplicadas, harmonias de vozes elegantes e linhas melódicas deliciosamente empoeiradas. Leia o texto completo.
Stefani
Bunmi (2025, Jambox)
Bunmi pode até ser o primeiro álbum de estúdio de Stefanie, mas isso não quer dizer que ela seja uma iniciante. Com mais de duas décadas de carreira, a rapper original de Santo André, na região metropolitana de São Paulo,acumula um vasto repertório de criações autorais, colaborações com nomes importantes do cenário brasileiro e até mesmo outros projetos, caso do bem-sucedido Rimas & Melodias. Entretanto, é quando avançamos pelas canções do presente disco que a artista realmente diz a que veio. Com produção caprichada de Daniel Ganjaman e Grou, o registro de dez faixas é tanto uma consolidação de tudo aquilo que Stefanie conquistou até aqui, como um claro exercício de reapresentação. Da escolha dos temas à construção das rimas, poucas vezes antes a rapper pareceu tão consciente da própria obra. Leia o texto completo.
Terno Rei
Nenhuma Estrela (2025, Balaclava Records)
Em um cenário dominado por artistas em carreira solo e duplas sertanejas inflacionadas, sempre bom ver uma banda, ainda mais independente, não apenas resistir, como amadurecer a cada novo disco. Quinto e mais recente álbum da Terno Rei, Nenhuma Estrela firma o domínio criativo do quarteto paulistano, consolida a identidade sonora do grupo e ainda aponta para diferentes direções. Sequência ao material apresentado por Ale Sater, Bruno Paschoal, Greg Maya e Luis Cardoso em Gêmeos (2022), o disco produzido em parceria com Gustavo Schirmer talvez não seja tão disruptivo musicalmente e até tende ao conforto em alguns momentos, porém, potencializa as virtudes do quarteto. Como indicado na mudança de abordagem iniciada em Violeta (2019), o Terno Rei é hoje uma banda menos orientada ao reducionismo atmosférico do introdutório Vigília (2014) e muito mais voltada ao pop de grandes canções. Leia o texto completo.
Turnstile
Never Enough (2025, Roadrunner)
Never Enough talvez não seja o disco que os ouvintes mais conservadores de hardcore estivessem esperando, mas é justamente isso que faz dele um trabalho tão interessante. Quarto registro de inéditas do Turnstile, o sucessor de Glow On (2021) não apenas segue de onde o grupo de Baltimore parou há quatro anos, como potencializa suas virtudes, estreita relações e amplia os horizontes de possibilidades. Atravessado pela sutil interferência de artistas vindos dos mais variados campos da música, como Hayley Williams (Paramore), Dev Hynes (Blood Orange), Shabaka Hutchings, Leland Whitty (BADBADNOTGOOD), Faye Webster e A. G. Cook, Never Enough destaca o caráter exploratório da banda. Da insatisfação expressa no título do material, o grupo parece ter encontrado o estímulo para um repertório essencialmente curioso. Leia o texto completo.
Vera Fischer Era Clubber
Veras I (2025, Palatável Records)
O sotaque afetado, com o chiado do “s” e “x” que estala feito chicote, a letra ora cantada, ora declamada e o uso de batidas eletrônicas que buscam a todo instante acompanhar os excessos detalhados nos versos. Em Veras I, disco de estreia do grupo niteroiense Vera Fischer Era Clubber, somos convidados a embarcar em uma aventura noturna consumida pela dor, drogas, sexo e pequenos prazeres. Mesmo repleto de acenos para a obra de veteranos da cena carioca, como Gang 90 & Absurdetes, Fausto Fawcett e Fernanda Abreu, o álbum de sete faixas encanta justamente pela maneira como o grupo formado por Malu, Pek0, Vickluz e Crystal consolida a própria identidade em um curto intervalo de tempo. Canções que equilibram versos quase sempre atormentados com batidas eletrônicas e considerável dose de humor. Leia o texto completo.
YHWH Nailgun
45 Pounds (2025, AD 93)
Estreia do grupo nova-iorquino YHWH Nailgun, 45 Pounds é uma dessas obras curtas, mas que fazem um estrago danado. São pouco mais de 20 minutos em que o grupo formado por Zack Borzone (voz), Saguiv Rosenstock (guitarras), Jack Tobias (sintetizadores) e Sam Pickard (bateria) parece jogar com as possibilidades dentro de estúdio, indo de tempos estranhos à permanente fragmentação dos elementos. E isso fica mais do que evidente logo na introdutória Penetrator, canção que posiciona a bateria inexata de Pickard em primeiro plano e aponta o caminho para o restante da obra – se é que ele realmente existe. Não por acaso, com a chegada da música seguinte, Castrato Raw (Fullback), o quarteto mais uma vez muda de direção, fazendo do som grooveado e da percussão afro-latina um dos raros momentos acessíveis da obra. Leia o texto completo.
Zé Ibarra
Afim (2025, Coala Records)
Em um cenário de artistas influenciadores em que a lógica do algoritmo invariavelmente tende ao ego ou ao isolamento autoral em busca de maior arrecadação, raríssimos são aqueles que podem sacrificar suas vaidades em virtude do fazer artístico. E é exatamente isso que Zé Ibarra faz em Afim (2025). Compositor de mão cheia, o músico fluminense ultrapassa os limites do próprio cercado para investir em repertório. Das oito faixas que integram o disco, apenas duas são inteiramente assinadas pelo músico. O restante, são colaborações com outros artistas, como Essa Confusão, encontro com a companheira de Bala Desejo, Dora Morelenbaum, e, principalmente, releituras para a obra de diferentes compositores. Entretanto, oposto ao esperado de outros representantes da novíssima MPB, sempre inclinados a revisitar o trabalho de Caetano Veloso e demais medalhões da nossa música, Ibarra acerta ao manter os dois pés bem firmes no presente. Leia o texto completo.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.