Os 50 Melhores Discos Brasileiros de 2021

/ Por: Cleber Facchi 14/12/2021

Depois de um período de forte instabilidade e incerteza que reduziu o número de lançamentos no último ano, a produção nacional viveu um de seus períodos mais férteis ao longo de 2021. Do pop à música eletrônica, do rap ao samba, sobram registros que transitam por entre estilos de forma sempre inventiva. E isso se reflete não apenas em uma série de obras apresentadas por veteranos como Caetano Veloso, Juçara Marçal e Maria Bethânia, mas em trabalhos assinados por novatos como Marina Sena, Mbé, Papangu e Bebé. Em um esforço de catalogar algumas das obras mais expressivas dos últimos meses, trago 50 discos que considero essenciais e que movimentaram o cenário brasileiro entre janeiro e dezembro deste ano.


#50. Fábio de Carvalho
Anjo Pornográfico (2021, Rubedo Discos)

Não espere por respostas fáceis e composições imediatas ao mergulhar no trabalho de Fábio de Carvalho. Como indicado desde o primeiro álbum de estúdio,Tudo em Vão(2016), sobrevive na obra do compositor mineiro um delirante exercício criativo regido em essência pelo forte caráter exploratório. Canções que confessam sentimentos, medos e angústias vividas pelo artista, porém, partindo de um desenho torto, sempre fragmentado. São ideias e atravessamentos rítmicos que parecem pensados para bagunçar a interpretação do ouvinte, conceito reforçado nas músicas de Anjo Pornográfico. Concebido em um intervalo de quase dois anos, o álbum que contou com a colaboração de Bruno Carlos (bateria), Fernando Bones (baixo), Marcus Vinícius Evaristo (guitarra) e Tiago Sales Gomes (guitarra), todos integrantes do Aldan, mostra Carvalho em sua melhor forma. São canções marcadas pelo permanente cruzamento de informações e quebras conceituais que tingem com incerteza o processo de escuta. Um misto de canto e rima, delírios poéticos, batidas e ruídos cacofônico que confessam algumas das principais referências do artista, porém, preservando a estranha identidade criativa do músico de Belo Horizonte. Leia o texto completo.

.

#49. Cadu Tenório
Are You Okay? (2021, Sinewave)

Quem há tempos acompanha a obra de Cadu Tenório sabe que as criações músico que vive no Rio De Janeiro costumam se dividir entre momentos de maior experimentação e faixas estranhamente acessíveis, íntimas do ouvinte. E isso fica bastante evidente no fino repertório de Are You Okay? (2021). Entregue ao público após um período bastante movimentado do artista, o álbum inaugurado pela etérea Dream convida o espectador a se perder em um território de formas flutuantes, ambientações ruidosas e sobreposições estéticas que vão de um canto a outro da produção eletrônica de forma sempre provocativa. São incontáveis camadas instrumentais e texturas que garantem maior profundidade ao registro, direcionamento que se reflete até a música de encerramento do álbum, Aquário, criação completa pelas vozes de Mohamad Ktaish. Instantes em que Tenório resgata uma série de elementos originalmente testados em outros registros autorais, como Rimming Compilation (2016) e os ainda recentes Monument for Nothing (2020) e Waifu (2020), porém, partindo de uma abordagem ainda mais sensível e detalhista.

.

#48. Tui
Castto IV (2021, Independente)

Nos últimos anos, a cidade de Curitiba, capital do Paraná, se transformou em um dos principais agrupamentos da cultura beatmaker no país. Casa de veteranos como Nave (Emicida) e Laudz (Tropkillaz), o município hoje abriga uma variedade de novos artistas como Hupalo, Chediak e Rafa Inki. São produtores que transitam por diferentes campos da música eletrônica, proposta que vai do trap ao R&B, da lo-fi beat ao funk de forma sempre inventiva. É justamente imerso nesse cenário tão prolífico que Arthur Sugamosto, o Tui, encontrou as bases para a produção do primeiro álbum de estúdio da carreira, Castto IV. Parcialmente distante do material entregue pelo produtor em algumas de suas principais criações, como Você Quer e Um Cinco Sete, inclinadas ao chill baile, o presente álbum estabelece na força das batidas e curioso olhar para o passado o estímulo para parte expressiva do repertório. São canções que parecem alcançar um ponto de equilíbrio entre o city pop e a sonoridade revisionista incorporada em obras como Discovery (2001), do Daft Punk, conceito que embala a experiência do ouvinte tão logo o trabalho tem início, em Sky High, e segue até a música de encerramento, Lucky Girl. Leia o texto completo.

.

#47. Fernando Motta
Ensaio Para Destruir (2021, Geração Perdida)

Entre guitarras carregadas de efeitos, texturas e vozes submersas, os sentimentos de Fernando Motta ganham forma em Ensaio Pra Destruir. Terceiro e mais recente álbum de estúdio do cantor e compositor mineiro, o sucessor de Desde Que o Mundo É Cego (2017) segue uma trilha parcialmente distinta em relação ao material que tem sido apresentado pelo artista belo-horizontino desde a estreia com Andando Sem Olhar pra Frente (2016). São canções que se distanciam do uso de poemas e ambientações etéreas, por vezes arrastadas, fazendo da vulnerabilidade explícita nos versos e blocos quase intransponíveis de ruídos o estímulo para uma obra essencialmente humana e tangível, como se as experiências compartilhadas pelo músico também fossem nossas.Não por acaso, Motta fez de Tridimensional a composição escolhida para anunciar o disco. Acessível quanto próxima de tudo aquilo que o músico havia testado anteriormente, a faixa ganha forma em meio a camadas de guitarras e versos cantaroláveis, estreitando a relação com o ouvinte logo em uma primeira audição. É como se o artista incorporasse o mesmo pop rock testado em Violeta (2019), dos paulistanos da Terno Rei, porém, utilizando de uma linguagem ainda mais radiofônica, conceito que se reflete em outros momentos ao longo da obra. Canções como Elogio à Destruição, que parece saída de algum disco do Ride, em que o cantor mineiro se concentra na formação de melodias aprazíveis e letras que evocam lugares, personagens e sensações de forma sempre descritiva. “Envolto em nuvens de cetim / Ao te ver dançar / Sobre as uvas / Doce intuição / O elogio à destruição“, canta. Leia o texto completo.

.

#46. Píncaro
Um Delírio Madrepérola (2021, Independente)

Um Delírio Madrepérola é um disco sobre memória. Classificações momentâneas que surgem em meio a formas abstratas, como um olhar curioso do cantor e compositor Roger Valença, o Píncaro, em relação ao próprio passado. Não por acaso, o ex-integrante da banda Onagra Claudique, com quem lançou o delicado Lira Auriverde (2014), fez de Lençóis de Algodão a primeira composição do álbum a ser apresentada ao público. “Eu cresci com medo / Raiva entre os dedos / Lençóis de algodão / Dentes de leão / Segredos“, canta em tom nostálgico, conceito que embala a experiência do ouvinte até a música de encerramento do trabalho, Carne Mármore.São fragmentos da infância, relacionamentos conturbados e sentimentos que se projetam com uma naturalidade única, conceito bastante evidente em algumas das principais composições de Lira Auriverde, mas que parecem melhor formuladas no presente disco. E isso se reflete com naturalidade na própria Madrepérola. Entre versos econômicos, sempre calculados, Valença constrói cenários, cenas e acontecimentos de forma sensível, transportando o ouvinte para dentro da obra. “As joias da família tem um brilho / Madrepérola / Glória e orgulho / Montes de entulho / Calcário espalhado no quintal“, canta em meio a arranjos que avançam lentamente, como um complemento aos versos. Leia o texto completo.

.

#45. Pedro Sá
Um (2021, Balaclava Records)

Não seria uma surpresa se o primeiro trabalho de Pedro Sá em carreira solo fosse marcado pelo forte aspecto colaborativo. Desde o início da carreira, quando deu vida ao Mulheres Q Dizem Sim, o cantor, compositor, produtor e guitarrista carioca fez do diálogo com diferentes artistas um estímulo natural para a própria obra. E isso se reflete de forma bastante expressiva em cada um dos projetos em que esteve envolvido, como a Orquestra Imperial, os encontros com Moreno Veloso, Alexandre Kassin e Domenico Lancellotti, no +2, ou mesmo no diálogo com veteranos da música brasileira, caso de Gal Costa, Adriana Calcanhotto e Caetano Veloso, com quem colaborou na série de registros da cultuada trilogia . Entretanto, ao mergulhar nas canções de Um, Sá não apenas investe na produção de um repertório reducionista, como trilha de forma solitária cada uma das faixas que recheiam o álbum. Com exceção do processo de composição do material, em que estreitou a relação com parceiros de longa data, como Lancelotti e Kassin, e dos técnicos de som que registraram as faixas em estúdio, tudo se resolve a partir da econômica combinação entre guitarra e voz. Um estrutura totalmente esquelética, crua, mas não menos interessante e hipnótica, capaz de capturar a atenção do ouvinte logo em uma primeira audição. Leia o texto completo.

.

#44. Taco de Golfe
Memorandos (2021, Balaclava Records)

Memorandos é um desses discos que fazem você se perguntar: “como é que eu vim parar aqui?“. Naturalmente imprevisível, como tudo aquilo que os integrantes da Taco de Golfe têm produzido desde os primeiros registros autorais, o trabalho de essência labiríntica, conceito reforçado logo na imagem de capa, parece jogar com a experiência do ouvinte durante toda a execução do material. São canções que transitam por entre estilos de maneira sempre inesperada, torta, como um natural acumulo de informações, diferentes referências criativas e experimentos que vão de um canto a outro sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma obra confusa.Sequência ao material entregue no também inventivo Nó Sem Ponto II (2020), Memorandos chama a atenção pela economia dos elementos frente a grandeza do repertório apresentado pela banda. Primeiro registro de inéditas do grupo sergipano assumido integralmente pelos músicos Alexandre Damasceno (bateria) e Gabriel Galvão (guitarras, baixo), o trabalho de essência reducionista estabelece na economia dos instrumentos o estímulo para um álbum marcado pelo permanente tensionamento das informações. São composições que encolhem e crescem a todo instante, como fragmentos de uma obra viva, versatilidade que parece refletida até os últimos segundos do material. Leia o texto completo.

.

#43. Jean Tassy
Amanhã (2021, Independente)

Mesmo regido pelo título de “Amanhã”, a estreia de Jean Tassy é um trabalho sobre o hoje. Da construção das batidas, cuidadosamente encaixadas pelo produtor Iuri Rio Branco, passando pela escolha dos temas e colaboradores que invadem o disco, cada elemento do álbum parece incorporar o que há de mais fresco no novo R&B, riqueza que se reflete do primeiro ao último segundo da obra. São canções que atravessam as pistas, utilizam de narrativas noturnas, romances e momentos de doce melancolia como estímulo para a formação dos versos. Instantes em que o artista original de Brasília traz de volta tudo aquilo que tem sido incorporado em uma série de composições apresentadas nos últimos anos, porém, partindo de uma abordagem deliciosamente refinada. Não por acaso, Cadê Nosso Sol? foi a música escolhida para inaugurar o disco. Do uso versátil das vozes e versos que parecem acompanhar a fluidez das batidas, passando pelo costura atmosférica dos sintetizadores, cada elemento da canção funciona como uma síntese conceitual de tudo aquilo que o rapper e o parceiro de produção buscam desenvolver até a chegada da derradeira Test Drive. São inserções pontuais, por vezes minimalistas, estrutura que naturalmente potencializa os sentimentos e histórias detalhadas por Tassy. Composições que parecem apontar para a obra de estrangeiros, como Khalid e Daniel Caesar, mas que a todo momento regressam ao território brasileiro, efeito direto da colorida sobreposição dos ritmos que garante maior riqueza e vívida identidade ao trabalho. Leia o texto completo.

.

#42. Macaco Bong
Mondo Verbero (2021, Independente)

Mondo Verbero, como tudo aquilo que a Macaco Bong tem produzido desde o início da carreira, nasce como uma colorida combinação de ritmos, quebras e formas instrumentais. E isso fica bastante evidente na introdutória Cho. São pouco menos de oito minutos em que a guitarra macia de Bruno Kayapy ganha forma em meio a sobreposições hipnóticas, ambientando o ouvinte ao território que se completa pelo baixo suculento de Hygor Carvalho e a bateria de Éder Noleto. É como se o trio flutuasse em meio a ambientações psicodélicas e formas jazzísticas, proposta que naturalmente evoca estrangeiros como Tortoise e Mogwai, mas que em nenhum momento oculta a fina identidade da banda de Cuiabá.E isso fica ainda mais evidente na composição seguinte, a já conhecida Kãeãe. Do título extraído de uma gíria cuiabana, passando pelo desenho torto das guitarras que vão do rasqueado à polca paraguaia, cada fragmento da canção resgata a essência plural do introdutório Artista Igual Pedreiro (2008). Essa mesma versatilidade acaba se refletindo em Hacker do Sol. Inaugurada em meio a sintetizadores atmosféricos, a faixa rapidamente desemboca em um baião que não apenas potencializa os arranjos de Kayapy, como destaca a bateria imprevisível de Noleto. Um ziguezaguear de ideias, ritmos e diferentes informações que ganha novos contornos minutos à frente, em Treze, um forró eletrizante que convida o ouvinte a dançar. Leia o texto completo.

.

#41. Vauruvã
Manso Queimor Dacordado (2021, Independente)

Em março deste ano, quando deu vida ao experimental Sem Propósito (2021), trabalho em que transita por entre estilos e incorpora elementos da música eletrônica, o brasiliense Caio Lemos fez da parceria com o cantor e compositor carioca Bruno Augusto Ribeiro, em B, a passagem para uma composição marcada pelo forte teor existencialista. São pouco menos de 30 minutos em que o ouvinte é convidado a se perder em um universo de experiências cósmicas e manifestações caóticas que vão do início ao fim da nossa existência de forma sempre provocativa e turbulenta, resultando em um delirante cruzamento de informações.Mais uma vez acompanhado de Ribeiro, porém, partindo de um novo direcionamento estético, Lemos entrega ao público um novo trabalho de estúdio, Manso Queimor Dacordado. Primeiro registro de inéditas como Vauruvã, o álbum de sete composições estabelece na temática da ancestralidade e no alvorecer da civilização humana um precioso componente de aproximação entre as faixas. São canções que partem dos charcos úmidos da vida na Terra para trilhar um ambiente marcado pela aridez dos elementos, estrutura que vai da construção dos arranjos ao tratamento dado aos versos. Leia o texto completo.

.

#40. Charme Chulo
O Negócio É o Seguinte (2021, Independente)

Perto de completar duas décadas de formação, a Charme Chulo continua tão relevante hoje quanto na época em que foi criada. E não falo isso apenas em um delírio bairrista de um paranaense que se viu apaixonado pelo grupo curitibano logo no primeiro trabalho de estúdio, de onde vieram faixas como Mazzaropi Incriminado e Piada Cruel, mas porque não existe nenhum banda hoje que dê conta de tamanha pluralidade de conceitos com a mesma consistência que abastece a obra do quarteto formado por Igor Filus (voz), Leandro Delmonico (viola, guitarra e voz), Hudson Antunes (baixo) e Douglas Vicente (bateria).Um dos poucos sobreviventes de uma geração que revelou nomes como Superguidis, Poléxia, Wonkavision, Ecos Falsos, Moptop, Terminal Guadalupe e outros tantos grupos há muito extintos, o quarteto curitibano continua a investir na construção de faixas que alternam entre o regionalismo bucólico e temáticas urbanas, sempre pontuadas por questões existencialistas e sentimentais. São personagens fictícios, porém, intimamente conectados ao ouvinte, estrutura que assume novo e inusitado tratamento nas canções de O Negócio É o Seguinte, quarto e mais recente trabalho de inéditas da banda. Leia o texto completo.

.

#39. Djonga
Nu (2021, Ceia Ent.)

Eu sei o quanto eu sou sujo, mesquinho, avarento, invejoso, irado, desconfiado e qualquer coisa a mais que ‘cê possa botar. Covarde, entendeu? Mentiroso. Eu conheço, acontece que eu não gosto“. Extraído do documentário Rogério Duarte, o Tropikaoslista (2015), de Walter Lima, o trecho que encerra o novo álbum de Djonga, Nu, funciona como uma representação exata de tudo aquilo que o rapper mineiro busca desenvolver ao longo do trabalho. São canções que preservam a essência errática do artista belo-horizontino, celebram conquistas, excessos e histórias de superação, mas que em nenhum momento sufocam pela vaidade do próprio realizador. Instantes em que somos confrontados pela mesma rima crua explícita em obras como Heresia (2017) e O Menino Que Queria Ser Deus (2018), porém, partindo de um evidente exercício de amadurecimento pessoal.Sequência ao material entregue no ainda recente Histórias da Minha Área (2020), Nu, assim como os registros que o antecedem, diz a que veio logo na introdutória Nós. São pouco mais de três minutos em que o rapper parte de uma abertura melancólica (“A gente nasce sozinho e morre sozinho / A gente nasce sozinho e morre sozinho“), citando Emicida, porém, estabelece no minucioso cruzamento das rimas o estímulo para capturar a atenção do ouvinte. “Outro dia acordei herói, dormi inimigo / Mais que a buceta das Kardashian, eu sou perseguido / Falam de reinserção, mas agem igual polícia / Nem me olham no olho, novão olha pro próprio umbigo“, reflete em meio a versos em que discute o próprio cancelamento e comentários recebidos após uma apresentação lotada no Rio de Janeiro, em dezembro do último ano, durante um dos momentos mais críticos da pandemia de Covid-19. Leia o texto completo.

.

#38. Domenico Lancellotti
Raio (2021, Arraial)

Raio, como tudo aquilo que Domenico Lancellotti tem produzido ao longo da última década, é um trabalho feito para ser absorvido aos poucos, sem pressa. Com produção dividida entre Petrópolis, no Rio de Janeiro, e Lisboa, capital de Portugal, onde reside desde 2019, o sucessor de Serra dos Órgãos (2017) mostra um artista contido, mas não menos detalhista e inventivo. São incontáveis camadas instrumentais, melodias nostálgicas que passeiam por diferentes campos da música brasileira e instantes de profunda entrega sentimental. Um precioso exercício criativo onde cada fragmento assume uma função específica, riqueza que se percebe tão logo o registro tem início, na construção labiríntica de Vai a Serpente, mas que acaba se refletindo até a derradeira Newspaper.“É um registro sobre transformação permanente“, resume Lancellotti no texto de apresentação do álbum. Canções que se espalham em uma medida própria de tempo, sussurrando segredos, ruídos e porções instrumentais que pouco a pouco movimentam o disco. Não por acaso, cada composição serve de passagem para a faixa seguinte. Entrelaces rítmicos e melódicos que garantem ao trabalho uma sensação de obra viva, como um bloco imenso que se divide em porções específicas, porém, nunca isoladas. Exemplo disso acontece logo nos minutos iniciais, quando sintetizadores cósmicos e a percussão rastejante Vai a Serpente desemboca no minimalismo de Snake Way, música completa pelos sopros de Joana Queiroz e a voz doce de Nina Miranda, também parceira em Mushroom Room. Leia o texto completo.

.

#37. Zopelar
Universo (2021, Apron Records)

Multi-instrumentista, produtor e importante agitador cultural da cidade de São Paulo, Pedro Zopelar tem uma capacidade única de transportar o ouvinte por meio da música. Basta um simples movimento dos sintetizadores ou uso estilizado das batidas para o público seja prontamente conduzido em direção ao passado. Canções que evocam as melodias funkeadas de veteranos da música brasileira, como Marcos Valle e Banda Black Rio, porém, partindo de uma linguagem deliciosamente atualizada, tratamento explícito durante o lançamento do ainda recente Joy of Missing Out (2020), lançado há poucos meses, mas que ganha ainda mais destaque nos temas eletrônicos e ambientações cósmicas que marcam o novo registro de inéditas do músico, Universo.Feito para ser absorvido aos poucos, sem pressa, o registro apresenta parte dos elementos que serão explorados pelo artista logo nos primeiros minutos, na introdutória Process of Change. Entre camadas de sintetizadores que emulam arranjos de cordas e solos empoeirados de guitarras, Zopelar vai de encontro à produção dos anos 1980, lembrando os momentos de maior leveza de artistas como Yellow Magic Orchestra e Kikuchi Momoko. São melodias sintéticas que surgem e desaparecem durante toda a execução da faixa, conceito que preserva parte da essência detalhista incorporada durante o lançamento do álbum anterior, porém, partindo de um novo direcionamento. Instantes em que o produtor rompe com qualquer traço de previsibilidade, mesmo mantendo a leveza da obra. Leia o texto completo.

.

#36. Duda Beat
Te Amo Lá Fora (2021, Independente)

Quanto tempo leva para um coração partido cicatrizar? Em se tratando das canções apresentadas em Te Amo Lá Fora, segundo e mais recente álbum de estúdio de Duda Beat, as feridas expostas no antecessor Sinto Muito (2018) parecem permanentemente abertas, sangrando versos de amor e instantes de maior comoção. Embora vendido pela cantora e compositora pernambucana como uma obra “para alegrar as pessoas“, o registro que conta com produção de Tomás Tróia, parceiro romântico e colaborador de longa data da artista, e Lux Ferreira, músico que já trabalhou com nomes como Mahmundie Felipe Vellozo, estabelece no mesmo lirismo entristecido de composições como Pro Mundo Ouvir e Todo Carinho a base para grande parte do presente disco.E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos do trabalho, na introdutória Tu e Eu. Entre camadas de sintetizadores e fragmentos extraídos de Coração de Papel, música composta pela conterrânea Cila do Coco, Eduarda Bittencourt Simões, verdadeiro nome da cantora, confessa: “Cheguei ‌e‌ ‌tava‌ ‌tocando‌ ‌nosso‌ ‌som‌ ‌/ Grave‌ ‌bateu‌ ‌e‌ ‌doeu‌ ‌meu‌ ‌coração‌ / ‌Não‌ ‌sei‌ ‌se‌ ‌foi‌ ‌a‌ ‌canção‌ ‌ou‌ ‌minha‌ ‌decepção‌ / De‌ ‌te‌ ‌ver‌ ‌com‌ ‌outra‌ ‌pessoa‌“. É como se o ouvinte fosse prontamente transportado para o mesmo ambiente criativo e sentimental do disco entregue há três anos. Frações poéticas que se dividem entre a melancólica busca por libertação e desejo incontrolável de reconciliação, como memórias de um passado ainda recente que insistem em reviver desejos e sensações. Leia o texto completo.

.

#35. Jonathan Ferr
Cura (2021, Slap)

Música que provoca, acolhe, tensiona e cura. Dois anos após o lançamento de Trilogia do Amor (2019), de onde vieram acertos como Borboletas e Sonhos, o pianista carioca Jonathan Ferr está de volta com sua maior obra: Cura. Ponto de equilíbrio entre o que há de mais acessível no jazz e na produção contemporânea, o registro de nove faixas faz da cada composição um precioso objeto de estudo. São delicadas paisagens instrumentais que preservam a essência dos antigos trabalhos do artista, porém, estabelecem no curioso atravessamento de vozes, ruídos e novos debates sociais um importante componente de transformação. Instantes em que compositor transita por entre gêneros e diferentes abordagens criativas de forma a construir e expandir a própria identidade.Não por acaso, Ferr, que já colaborou com nomes como Tuyo e Poss, inaugura o disco com a releitura de Sino da Igrejinha. Partindo de uma base diminuta, íntima de outras interpretações da faixa, a canção de domínio público rapidamente se transforma em um turbilhão instrumental quando arranjos de cordas sobrevoam as notas ritmadas que escapam do piano do artista. É como se o músico apresentasse parte dos temas que serão explorados ao longo da obra, estrutura que ganha ainda mais destaque na sonoridade transcendental da composição seguinte, Nascimento. Confessa homenagem a Milton Nascimento, o registro de quase seis minutos reflete a capacidade do compositor em lidar com os instantes, alternando entre momentos de evidente leveza e atos de maior grandiosidade. Leia o texto completo.

.

#34. Kaatayra
Inpariquipê (2021, Independente)

A trilha bucólica apontada por Caio Lemos na imagem de capa de Toda História pela Frente (2020), último trabalho de estúdio do multi-instrumentista brasiliense como Kaatayra, está longe de chegar ao fim. Pouco mais de um ano após o lançamento do registro que revelou preciosidades como O Castigo Vem a Cavalo e Miséria da Sabedoria, o músico se reinventa por completo nas cinco composições que abastecem o experimental Inpariquipê, obra que preserva a essência exploratória do material entregue há poucos meses, mas que utiliza de uma abordagem essencialmente ritualística e hipnótica.Síntese desse resultado fica bastante evidente na introdutória Tiquindê. Assim como em Toda História Pela Frente, Lemos parte de uma base acústica, mas não menos detalhista. São movimentos espiralados que se completam pela percussão sempre destacada e crescente, como um complemento direto ao minimalismo dos arranjos que se engrandecem pelo canto de pássaros, sintetizadores e sobreposições que evocam o caráter transcendental das composições de Steve Reich. É como a passagem para um mundo mágico e misterioso, marca de boa parte das criações do artista que também se apresenta como Bríi e Vauruvã. Leia o texto completo.

.

#33. Bonifrate
Corisco (2021, OAR)

No isolamento de um estúdio montado na própria casa, a passagem para um território mágico. Dois anos após o lançamento de Mundo Encoberto (2019), trabalho em que decidiu explorar fragmentos do poemaMiscelânia, do trovador português Garcia de Resende (1470-1536), Pedro Bonifrate está de volta com Corisco. Produzido em um intervalo de quatro anos, o registro marcado por questões existencialistas, medos e experiências oníricas parte de inquietações e conflitos pessoais do músico carioca, porém, cresce para além dos limites de uma obra particular. São canções que discutem a passagem do tempo e relações humanas de forma sempre enigmática, torta, como fragmentos instrumentais e poéticos que se revelam ao público em uma medida própria de tempo.“O que seremos nós? / Imersas ilhas? / Máquinas de si mesmas? / Flutuações nos sonhos de outrem?“, questiona na introdutória Rei Lagarto, composição que sintetiza parte das experiências incorporadas pelo músico ao longo da obra. Pouco menos de seis minutos em que Bonifrate passeia em meio a guitarras cósmicas, ruídos e melodias delirantes, como uma parcial fuga da estrutura delimitada que marca o antecessor Museu de Arte Moderna (2013), de onde vieram faixas como a cantarolável Eu não vejo Teenage Fanclub nos Teus Olhos e Soneto Estrambótico. Ideias que flutuam em um campo aberto às possibilidades, sempre de maneira imprevisível, como se esperassem por uma possível ordem, talvez orientada pela voz econômica soprada pelo multi-instrumentista carioca. Leia o texto completo.

.

#32. Psilosamples
Jornada Selvagem (2021, Voodoohop)

Em um cenário marcado pelo distanciamento social e isolamento dos indivíduos, a música produzida por Zé Rolê funciona como um importante componente de libertação sensorial. Em Jornada Selvagem, mais recente criação do produtor de Pouso Alegre, Minas Gerais, cada mínimo fragmento parece pensado de froma a transportar a mente do ouvinte para um território mágico. São ambientações minimalistas, ruídos sintéticos que florescem de maneira orgânica e momentos de maior experimentação que surpreendem a cada curva. Um lento desvendar de ideias e possibilidades que potencializam tudo aquilo que o artista tem desenvolvido sob o título de Psilosamples. Inaugurado pelas batidas ritualísticos de EXU 2020, o trabalho de essência econômica se revela ao público em pequenas doses, sem pressa. São sobreposições eletroacústicas, quebras e pequenas variações rítmicas que tornam a experiência de ouvir o registro sempre imprevisível, conceito reforçado com a música seguinte, Velas Coloridas. Pouco mais de quatro minutos em que o produtor parece jogar com os instantes, fracionando elementos percussivos em meio a camadas de sintetizadores e momentos de maior contemplação. Um misto de imersão e libertação, proposta que orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução dessa jornada fantástica e selvagem. Leia o texto completo.

.

#31. Pabllo Vittar
Batidão Tropical (2021, Sony Music)

Limitar o trabalho de Pabllo Vittar a um gênero específico seria um erro enorme, porém, um dos grandes problemas quando voltamos os ouvidos para 111 (2020), último álbum de estúdio da cantora maranhense, está no excesso de informações e estilos muitas vezes incompatíveis. Se por um lado esse inusitado cruzamento de ritmos resultou na produção de músicas como a divertida Rajadão, por outro, revelou faixas como a esquecível Ponte Perra, com seus versos cantados em espanhol sofrido, e Flash Pose, bem-sucedido encontro com Charli XCX, mas que parece deslocada do restante da obra. Satisfatório percebe em Batidão Tropical, quarto e mais recente disco da artista, uma obra de essência versátil, mas que calcula de forma inteligente seu campo de atuação.Confessa homenagem de Pabllo à música produzida no Norte e Nordeste do Brasil, onde viveu parte da infância e adolescência, entre Santa Izabel do Pará e Caxias, no interior do Maranhão, Batidão Tropicalcostura passado e presente da música pop sem necessariamente sufocar pela nostalgia. Longe de mirar em estrangeirismos, a artista e seus principais parceiros de estúdio, Rodrigo Gorky, Arthur Marques, Maffalda, Pablo Bispo e Zebu, da Brabo Music, se concentram na produção de um repertório marcado pelo uso de ritmos locais. São canções que vão do forró ao tecnobrega em uma interpretação deliciosamente atualizada de tudo aquilo que Mastruz com Leite, Calcinha Preta e outros tantos nomes, essências para a formação da cantora, têm produzido desde a década de 1990. Leia o texto completo.

.

#30. Fabriccio
Selva (2021, Zeferina Produções)

Selva é um recomeço. Quatro anos após a entrega do primeiro álbum de estúdio, Jungle (2017), o cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista Fabriccio está de volta com um novo registro autoral. Entretanto, contrário ao esperado de uma obra do gênero, o artista, em comum acordo com a antiga gravadora, decidiu extinguir o trabalho que revelou músicas como Teu Pretim, Foge Comigo e Orfeu, e reinterpretar cada uma delas partindo de uma nova abordagem estética. O resultado esse processo está na entrega de um material que naturalmente preserva a essência do repertório original, porém, potencializa cada mínimo fragmento lírico e instrumental.Utilizando de uma base essencialmente econômica, mas não menos detalhista, Fabriccio confessa sentimentos, medos e momentos de maior vulnerabilidade de forma estreitar a relação com o ouvinte. São canções que transitam por entre gêneros e incorporam um vasto catálogo de referências, porém, preservando a identidade criativa do multi-instrumentista capixaba. A principal diferença em relação à versão original do disco, onde cada composição parecia funcionar como um objeto de estudo, está na maior homogeneidade dada ao presente álbum. É como se cada faixa servisse de passagem para a canção seguinte, conceito que se reflete até o último segundo da obra. Leia o texto completo.

.

#29. eliminadorzinho
Rock Jr. (2021, Cavaca Records)

É difícil ouvir as músicas de Rock Jr, estreia da banda paulistana eliminadorzinho, e não se sentir instantaneamente atraído pelo som produzido por Gabriel Eliott (guitarras, voz), João Pedro Haddad (baixo) e Tiago Souto Schützer (bateria). Produto final de um lento, porém, continuo processo de aprimoramento artístico, o registro de apenas nove faixas parece encapsular décadas de referências e sentimentos que vão da adolescência ao início da vida adulta de forma urgente. São canções de amor e temas existencialistas que atravessam paisagens urbanas de forma a dialogar com todo e qualquer ouvinte.Na contramão de parte expressiva da cena paulistana, em essência consumida pelo lirismo tóxico que vitimiza figuras masculinas e demoniza mulheres, o trabalho que conta com co-produção de Luden Viana, um dos integrantes da banda E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, se distancia de possíveis gêneros em virtude de um repertório marcado pela universalidade do discurso. Muito além da exposição barata, de romances fracassados e da raiva incontida, cada composição parece apontar para dentro. São memórias de um passado ainda recente e versos sempre consumidos pela sensação de isolamento, como um mergulho angustiado na mente atormentada de qualquer indivíduo solitário, tema central do registro. Leia o texto completo.

.

#28. Bebé
Bebé (2021, Bastet / Ori Records)

Autointitulada, a estreia de Bebé Salvego é uma obra sobre possibilidades. Produzido em parceria com o baterista Sergio Machado Plim, músico conhecido pelo trabalho como colaborador no Metá Metá e parceiro de artistas como Tulipa Ruiz e Emicida, o registro de dez faixas se revela ao público em uma medida própria de tempo, sem pressa. São labirintos instrumentais, poéticos e sentimentais que estabelecem na fragmentação dos elementos um importante componente criativo. Instantes em que a jovem de 17 anos transita por entre gêneros de forma tão despretenciosa quanto consciente, estrutura que tinge com incerteza a experiência do ouvinte durante toda a execução do material.Perfeita representação desse resultado acontece logo nos primeiros minutos da obra, em Saltos da Realidade. São pouco mais de três minutos em que a cantora que foi apresentada ao público no The Voice Kids Brasil parece jogar com os instantes, flutuando em meio a camadas de sintetizadores, batidas espaçadas, ruídos e samples que encolhem e crescem de forma a acompanhar os versos lançados pela artista. “Às vezes nem me lembro o que sonhei / Me perco em todo pensamento / Eu já me perguntei e me cansei / Qual será a realidade que estarei?“, questiona, reforçando o conceito onírico e poesia delirante que ganha forma e cresce até a música de encerramento, Bipolada. Leia o texto completo.

.

#27. Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo
Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo (2021, Risco)

Nascida da criativa colagem de ideias e referências que apontam para diferentes campos da música, a estreia de Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo é uma obra deliciosamente estranha. São fragmentos de vozes, batidas inexatas, ruídos e captações sujas que se espalham em meio a versos marcados por significados ocultos e indagações feitas para bagunçar a cabeça do ouvinte. “E as brigas dos casais que se unem só pra discutir / Me deixam refletindo se nós somos grandes interruptores de luz / Se sou mais Ravi Shankar ou Jesus“, questiona na introdutória Pop Cabecinha, composição que aponta o caminho torto seguido pelos parceiros Sophia Chablau (voz, guitarra),Téo Serson (baixo), Theo Ceccato (bateria) e Vicente Tassara (guitarra, teclados) até o encerramento do disco.E é essa mesma imprevisibilidade que torna a experiência de ouvir o trabalho tão satisfatória. Do momento em que tem início, na já citada Pop Cabecinha, até alcançar a derradeira Delícia/Luxúria, canção escolhida para anunciar a chegada do disco, cada composição do álbum funciona como um objeto isolado e curioso. São fragmentos que ora apontam para o pop rock descompromissado de veteranos como Rita Lee e Gang 90 e as Absurdettes, ora fazem lembrar das criações de contemporâneos como O Terno e Ana Frango Elétrico, essa última, convidada a assinar a produção do registro. Instantes de parcial delírio e faixas marcadas pelo completo reducionismo dos arranjos, como uma interpretação ampliada de tudo aquilo que o grupo havia testado durante o lançamento de Idas e Vindas do Amor. Leia o texto completo.

.

#26. LEALL
Esculpido a Machado (2021, Covil da Bruxa)

Esculpido a Machadoé um trabalho que diz a que veio antes mesmo que a primeira rima seja disparada. Utilizando da impactante imagem de capa produzida pelo fotógrafo Marcelo Martins, o carioca Arthur Leal apresenta parte dos elementos que serão explorados de maneira aprofundada ao longo do registro. São canções que discutem a busca por oportunidade em um cenário negligenciado pelo Estado, a corrupção de menores, o peso da criminalidade e a necessidade de romper com as estatísticas. “A história que você vai ouvir agora, é uma história que acontece com pelo menos dois em cada dez jovens do meu bairro, que na barriga da miséria nasceram brasileiros“, anuncia LEALL, como aqui se apresenta, logo nos primeiros minutos da obra.Uma vez imerso nesse cenário, o artista divide o trabalho em dois blocos específicos de composições. O primeiro deles, bem representado pela introdutória Pedro Bala, passeia pelas periferias brasileiras em meio a versos descritivos em que reflete a sedução pelo tráfico e os pequenos excessos de quem mergulha nessa realidade. “A boca de fumo é plano dе vida / A miséria faz vilão aparecer no mapa / Dá meu brinquedo de escorrer sangue na escada“, rima. Esse mesmo direcionamento acaba se refletindo na canção seguinte, Duas Pistolas, música que cresce no uso destacado das batidas e temas eletrônicos, como uma interpretação ainda mais insana do som produzido SD9 no ainda recente 40º.40 (2021), registro que conta com a participação de LEALL na música Poze de Rodo. Leia o texto completo.

.

#25. Alessandra Leão
Acesa (2021, Garganta Records / Ori Records / Yb Music)

Produto final de um intenso processo criativo, Acesa é apenas uma parte do exercício proposto por Alessandra Leão nos últimos anos. Sequência ao material entregue pela cantora, compositora e produtora pernambucana no contemplativo Macumbas e Catimbós (2019), registro que encanta pelo completo minimalismo dos elementos, o trabalho de essência documental se organiza a partir de processos. Primeiro, a artista realizou conversas em caminhadas livres com mestres, músicos e líderes religiosos de Pernambuco, Paraíba e São Paulo ligados às tradições do coco, ciranda, maracatu, jurema, umbanda e candomblé. Registrados em vídeo, esses diálogos se transformaram em uma série de 15 episódios e no precioso alicerce conceitual que abastece as canções do presente disco.Partindo desse olhar para as manifestações artísticas e religiosas localizadas no Nordeste do país, Leão e o co-produtor Caê Rolfsen, com quem havia trabalhado no disco anterior, entregam ao público uma obra que preserva o caráter orgânico e riqueza das tradições, mas que se permite provar de novas possibilidades e diferentes direções criativas. São fragmentos instrumentais, rítmicos e poéticos que partem de uma base essencialmente ritualística, porém, completa pela inserção de ruídos sintéticos e efeitos eletrônicos que ampliam de forma significativa tudo aquilo que a artista pernambucana havia testado anteriormente. Leia o texto completo.

.

#24. Putodiparis
Putodiparis (2021, Criasom)

Nome em ascensão na cena carioca e colaborador de artistas como LEALL e DaSiria, Putodiparis entrega ao público sua maior obra. Pelo menos até agora. Autointitulado, o registro de oito faixas sustenta na suculência da rima e uso calculado das batidas a passagem para um território há muito desvendado pelo rapper fluminense. Como indicado durante o lançamento do EP Madame (2020), há poucos meses, são canções que atravessam as ruas do Rio de Janeiro em meio a correntes de ouro, tiros de fuzil e versos sempre perfumados pelo sexo. Um minucioso exercício criativo que ganha ainda mais destaque no flow hipnótico e descritivo que conduz com naturalidade a experiência do ouvinte.E isso fica bastante evidente antes mesmo que a faixa de introdução chegue ao fim. São pouco mais de dois minutos em que o rapper carioca passeia em meio a versos deliciosamente explícitos, reforçando a construção imagética das rimas. “Ela quer dar pro Putodiparis / Ela vem do Projac, ela é atriz / Minha tchutchuca preta cor do Bis“, detalha. É como um preparativo para o fechamento da canção, quando o ato se consuma e o artista abre passagem para o restante da obra. “Ela tá se envolvendo e a xereca tá tremendo / Eu mergulho igual Nemo, grita meu vulgo gemendo / Tchutchuquinha lá do centro, ela pede joga dentro / Sou postura, não marrento“, completa. Leia o texto completo.

.

#23. Caetano Veloso
Meu Coco (2021, Uns Produções / Sony Music)

O rastro imagético deixado na espelhada imagem de capa de Meu Coco, uma fotografia da cabeça de Caetano Veloso registrada por Fernando Young, também responsável pelo material de divulgação da obra, diz muito sobre a trilha seguida pelo cantor e compositor baiano no primeiro trabalho de inéditas em nove anos. Afinal, o que se passa na cabeça de Caetano? Partindo de um fluxo constante de pensamentos, memórias, sentimentos e indagações, o músico nascido em Santo Amaro, na Bahia, costura passado e presente em uma trama poética/historiográfica que diz muito sobre si mesmo, mas que a todo momento aporta em debates sociopolíticos que ultrapassam os limites do próprio cercado.Não por acaso, Caetano fez de Anjos Tronchos a primeira composição do disco a ser revelada ao público. Entre citações a Carlos Drummond de Andrade, Billie Eilish, Trumps e Bolsonaros, o artista baiano mergulha no ambiente tóxico das redes sociais, algoritmos e manipulações políticas de forma sempre provocativa, crítica. “Agora a minha história é um denso algoritmo / Que vende venda a vendedores reais / Neurônios meus ganharam novo outro ritmo / E mais, e mais, e mais, e mais, e mais“, detalha em meio a versos suculentos, densos e referenciais, proposta que evoca o lirismo verborrágico explícito em obras como Circuladô (1991), Livro (1997) e outros registros produzidos pelo compositor na década de 1990. Leia o texto completo.

.

#22. Tasha & Tracie
Diretoria (2021, Ceia Ent.)

Produto das conquistas, memórias e vivências das gêmeas Tasha e Tracie Okereke, Diretoria é uma verdadeira celebração. Do momento em que tem início, em meio a fragmentos de programas de TV e citações de nomes como Djonga, passando pela construção dos versos, sempre marcados pelo permanente senso de glória, cada mínimo fragmento do trabalho funciona como um mergulho na mente e nos momentos de triunfo da dupla paulistana. Composições que pervertem o habitual discurso autocentrado, típico de uma obra do gênero, para sustentar no lirismo explícito e livre de possíveis amarras uma interpretação deliciosamente particular sobre o universo feminino.“Quer minha atenção? Me pague / Porque eu não falei, eles pensam que eu não sei / Que nenhum botava fé, agora diz: ‘Eu sempre acreditei’“, dispara logo nos primeiros minutos do trabalho, em Rouff. Enquanto os versos, sempre autobiográficos, resgatam memórias de um passado ainda recente, batidas reducionistas, quebras e ruídos metálico, típicos da produção de CESRV, sintetizam parte dos elementos que serão explorados ao longo do registro. São ideias e atravessamentos rítmicos que vão de retalhos de funks antigos ao brime, proposta que naturalmente dialoga com outros exemplares da cena paulistana, porém, preservando a identidade e permanente entrega das duas artistas. Leia o texto completo.

.

#21. Badsista
Gueto Elegance (2021, Independente)

De Jup do Bairro à Linn da Quebrada,de Kelela à Deize Tigrona, não foram poucos os artistas com quem Rafaela Andrade, a Badsista, colaborou criativamente ao longo da última década. Entretanto, ao mergulhar no primeiro álbum em carreira solo, Gueto Elegance, a produtora paulistana parece seguir uma trilha completamente distinta em relação ao material entregue nos últimos registros autorais e colaborações. Longe das pistas, a musicista transforma os próprios desejos, romances e inquietações no estímulo para um repertório que se revela ao público em pequenas doses, sempre de forma provocativa.E isso fica bastante evidente em VSNF. Uma das primeiras composições do disco a serem produzidas pela artista, a faixa adornada pelo uso dos sintetizadores não apenas evidencia o minucioso processo de composição do registro, como chama a atenção pela inserção das vozes assumidas pela própria produtora. “Eu quero é paz / Mas vê se não fode“, dispara. O mesmo direcionamento, porém, partindo de uma base ainda mais sensível, acaba se refletindo minutos à frente, no R&B romântico de Hoje Eu Quero Brilhar e na completa melancolia toma conta de Sem Dar Tchau, música escolhida para o encerramento do álbum. Leia o texto completo.

.

#20. Carlos do Complexo
Torus (2021, Independente)

Mesmo entregue em um período bastante ingrato, quando listas de melhores de ano são despejadas aos montes e indicam o fechamento de mais um ano para o mundo da música, Torus é uma obra que merece atenção e uma escuta minuciosa por parte ouvinte. Mais recente criação de Carlos do Complexo, produtor que já havia colaborado com nomes como Kafé e Sango, além de assinar remixes para artistas como Tuyo e Silva, o trabalho de dez faixas convida o espectador a se perder em um labirinto de sons e sensações onde cada batida serve de passagem para um novo território criativo.E esse esmero no processo de construção do trabalho fica bastante evidente durante toda a primeira porção do registro. Salve exceções, caso de Möbius, colaboração com Yan Higa, tudo gira em torno da produção e criativa sobreposição de ideias do artista que cresceu no Complexo do Engenho da Rainha, no Rio de Janeiro. São batidas e atravessamentos rítmicos que mudam de direção a todo instante, rompendo com qualquer traço de linearidade. Mesmo a autointitulado música de abertura, livre da euforia que orienta o restante da obra, encanta pelos detalhes, ruídos sintéticos e incontáveis camadas de texturas. Leia o texto completo.

.

#19. Marina Sena
De Primeira (2021, Alá / Quadrilha)

De Primeira é um desses discos que você ouve da música de abertura à canção de encerramento com um sorriso no rosto. Estreia em carreira solo da cantora e compositora mineira Marina Sena, o registro produzido em parceria com Iuri Rio Branco (Flora Matos, Davi Sabbag), nasce como o produto final de um intenso processo de amadurecimento artístico, busca por novas possibilidades e construção da própria identidade. São composições que preservam a essência colorida e pluralidade de ritmos incorporada durante a atuação como integrante do Rosa Neon, mas que a todo momento estabelecem pequenos diálogos conceituais com outras obras em que esteve envolvida, como a psicodélica A Outra Banda da Lua, encontros com a dupla Hot & Oreia, ou mesmo no ainda recente Amanhã (2021), de Jean Tassy, concebido em parceria com o mesmo produtor.Entregue ao público em pequenas doses, De Primeira vai muito além do que as já conhecidas Me Toca e Voltei Pra Mim, dois momentos de enorme acerto do trabalho, pareciam indicar. Trata-se de uma síntese deliciosa de tudo aquilo que define o pop brasileiro ao longo da última década. São ecos de pagode baiano, batidas extraídas do funk, fragmentos de samba e uma dose extra de romantismo que vai do R&B ao brega. Um bem-resolvido catálogo de ideias que poderia facilmente se perder nas mãos de uma artista iniciante, mas que parece trabalhado de forma inteligente na produção de Rio Branco e voz potente da cantora que ocupa com naturalidade todas as brechas do registro. Leia o texto completo.

.

#18. Rico Dalasam
Dolores Dala Guardião do Alívio (2021, Independente)

De braços abertos, como quem recepciona de forma calorosa, Rico Dalasam ilumina a imagem de capa de Dolores Dala Guardião do Alívio. Produto da dor, relacionamentos instáveis e conflitos vividos pelo rapper paulistano, o trabalho nasce como uma extensão do homônimo registro lançado há poucos meses, porém, estabelece no acolhimento e na perspectiva da afetividade preta a base para cada uma das composições que recheiam o disco. “Não estou debatendo o corpo político ou a vida do negro do modo social, mas discutindo um lugar lá dentro da gente que é pouco elaborado no imaginário coletivo da sociedade“, resume no texto de apresentação da obra. São canções que partem das vivências do próprio artista e utilizam do forte discurso universal como um precioso componente de diálogo com o ouvinte.Dividido entre a dor e a libertação, conceito que tem sido explorado desde a estreia com Aceite-C, o registro de essência agridoce evidencia o completo domínio do artista em relação ao próprio trabalho. Instantes de amarga melancolia que antecedem momentos de doce celebração, proposta que se reflete tão logo o álbum tem início, na introdutória vinheta de abertura, mas que embala a experiência do ouvinte até a derradeira Estrangeiro (“Fui, porque acabou a fé / Não porque acabou o amor“). É como se cada composição servisse de passagem para a música seguinte, rompendo com a aleatoriedade que parecia orientar os antigos lançamentos do rapper, como Modo Diverso EP (2015) e, principalmente, o antecessor Orgunga (2016). Leia o texto completo.

.

#17. Giovani Cidreira
Nebulosa Baby (2021, Risco)

Terceiro e mais recente álbum de estúdio de Giovani Cidreira, Nebulosa Baby é uma obra viva. Produto de um lento processo de transformação que teve início há dois anos, durante a entrega do experimental Mix$take (2019), trabalho assinado em parceria com Benke Ferraz, da Boogarins, o registro marcado pela colorida sobreposição dos elementos, vozes e formas instrumentais estabelece na celebração ao povo preto, debates sobre racismo e solidão da população negra uma delicada base conceitual que possibilita a aproximação entre as faixas. São ideias que pervertem a linearidade explícita durante a produção de Japanese Food (2017), de onde vieram músicas como Última Vida Submarina e Crimes da Terra, porém, consistentes, como se tudo orbitasse um universo particular regido em essência pelos sentimentos, medos e inquietações do cantor e compositor baiano.E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos da obra, na introdutória Daqui Pra Frente. Espécie de texto manifesto assumido por Jup do Bairro, a canção se aprofunda em temas como a necessidade de ocupar espaços historicamente dominados pelas elites brancas e novas perspectivas de futuro para a população negra. “Não sei o que vai ser daqui pra frente, mas eu tô escrevendo essa história“, detalha enquanto o saxofone de Cuca Ferreira se revela aos poucos, sem pressa, lembrando a atmosfera de Negro Swan (2018), de Blood Orange, registro que aporta em temas bastante similares. Uma vez imerso nesse cenário, Cidreira transita por entre ritmos e formas pouco usuais, estreitando a relação com um time seleto de colaboradores vindos dos mais variados campos da música. Leia o texto completo.

.

#16. Maria Bethânia
Noturno (2021, Biscoito Fino)

Em um cenário consumido pelas trevas do obscurantismo, medo e retrocesso, a voz de Maria Bethânia brilha forte. Dois anos após o lançamento de Mangueira: A menina dos meus olhos (2019), registro em que presta reverência à Estação Primeira de Mangueira, da qual foi tema do enredo da agremiação, a cantora e compositora baiana estabelece nas canções do reducionista Noturno, mais recente trabalho de estúdio, um precioso ponto de ruptura. São fragmentos sentimentais e poéticos que passeiam em meio a versos descritivos, arranjos econômicos e momentos de maior vulnerabilidade, como um olhar melancólico sobre a atual situação política do Brasil, porém, intimamente conectado às emoções e temas românticos interpretados pela artista.“Não gosto mais de falar do Brasil. Tenho vontade de chorar”, respondeu em entrevista ao jornalista Leonardo Lichote, do El País, durante a promoção da live que realizou no início deste ano. É partindo justamente desse sentimento de angústia que Bethânia, acompanhada pela direção musical e arranjos de Letieres Leite e produção musical de Jorge Helder, orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução do trabalho. “Quantos estão pelas mesas / Bebendo tristezas / Querendo ocultar / O que se afoga no copo / Renasce na alma / Desponta no olhar“, canta na introdutória Bar da Noite, música resgatada do fino repertório de Nora Ney (1922 – 2003), mas que estabelece na melancolia dos versos uma síntese conceitual do cenário pandêmico e triste temática que consome Noturno. Leia o texto completo.

.

#15. Linn da Quebrada
Trava Línguas (2021, Independente)

Quem soul eu?“.A pergunta levantada por Linn da Quebrada na música de encerramento de Trava Línguas, segundo álbum de estúdio da multi-artista paulistana, funciona como uma clara representação das incertezas e caminhos pouco usuais percorridos durante toda a execução da obra. Talvez frustrante para quem esperava pela mesma ferocidade impressa nas canções de Pajubá (2017), de onde vieram músicas como Bixa TravestyeBomba Pra Caralho, o registro de identidade versátil transita por entre gêneros de forma sempre provocativa, forte, buscando novas possibilidades. “ComTrava Línguasproponho uma conversa franca com o mercado: quem eu soul nesse sistema? Os algoritmos, os rótulos, os gêneros. Onde é que vocês vão me colocar agora?“, discute no texto de apresentação do material que mais uma vez conta com produção de Rafaela Andrade, a Badsista.E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos do trabalho, na dobradinha composta por Amor Amor e Cobra Rasteira. Longe da fluidez de rimas e cruzamento de informações que marca o disco anterior, Linn se permite desacelerar para investir na própria voz. São melodias aprazíveis e momentos de maior vulnerabilidade, conceito que vai da formação dos arranjos à construção das letras. “Amor, amor / Eu amei, não fui amada / Hoje eu sei o meu valor“, confessa. E essa mesma sensibilidade acaba se refletindo durante toda a execução da obra, como em Tudo, balada que evoca as criações de Cazuza, mas que em nenhum momento se distancia do habitual jogo de palavras da artista. “Meu corpo no seu / Seu corpo no mel / Meu corpo no céu / Seu corpo nu”, canta. Leia o texto completo.

.

#14. Bríi
Sem Propósito (2021, Independente)

Quem tem acompanhado o trabalho de Caio Lemos sabe que o multi-instrumentista brasiliense é um especialista em manipular a experiência do ouvinte. E isso fica bastante evidente nas canções de Toda História pela Frente (2020), último álbum de estúdio do músico como Kaatayra e um delirante exercício de criação. São três faixas extensas em que o cantor, compositor e produtor parte de uma base essencialmente atmosférica para mergulhar em um território marcado pela colisão dos elementos, vozes guturais, ruídos e quebras rítmicas. Uma turbulenta sobreposição de ideias, proposta que ganha ainda mais destaque nas composições de Sem Propósito.Mais recente criação de Lemos como Bríi, uma das identidades do instrumentista, o trabalho de apenas duas faixas, A e B, mostra a capacidade do músico em transitar por entre estilos de forma sempre provocativa, como uma abordagem ainda menos usual do fino repertório entregue no antecessor Entre Tudo que é Visto e Oculto (2020). E isso fica bastante evidente logo na abertura do registro. São pelo menos cinco minutos em que o artista, aqui apresentado pelo nome de Serafim, investe no uso de sintetizadores atmosféricos e batidas eletrônicas, esbarrando no mesmo território criativo de Aphex Twin e outros nomes importantes que surgiram há mais de três décadas. Uma camuflagem sintética para o material que parece melhor desenvolvido na porção seguinte da canção. Leia o texto completo.

.

#13. Tuyo
Chegamos Sozinhos Em Casa (2021, Independente)

Poucos artistas souberam como aproveitar tão bem a atenção que lhes foi dada quanto os membros da Tuyo. Passado o lançamento do primeiro trabalho de estúdio, Pra Curar (2018), a banda composta pelas irmãs Lio e Lay Soares e Jean Machado decidiu mergulhar em uma série de colaborações com diferentes representantes da cena brasileira. São nomes como Baleia, Bruna Mendez, 1LUM3, Luiza Brina, Terno Rei e tantos outros artistas que encontraram nas vozes do trio curitibano um importante componente criativo. Entre as brechas dessas colaborações, um minucioso processo de composição e imersão com o conterrâneo Gianlucca Azevedo (Fresno,Jean Tassy), parceiro de longa data do grupo e co-produtor do fino repertório que embala as canções de Chegamos Sozinhos Em Casa (2021).Evidente ponto de amadurecimento na carreira do trio, o registro de nove faixas nasce como um acumulo natural de tudo aquilo que a banda paranaense tem incorporado nos últimos anos. São fragmentos que preservam a mesma melancolia e base reducionista que acompanha a Tuyo desde o introdutório Pra DoerEP (2017), porém, partindo de um refinamento lírico e instrumental que se estende até a derradeira Toda Vez Que Eu Chego Em Casa, brilhante encontro com o pianista carioca Jonathan Ferr. Um misto de passado e presente, dor e libertação, produto direto das angústias e conflitos sentimentais vividos por cada integrante, mas que em nenhum momento deixa de dialogar com o ouvinte, indicativo do completo domínio do grupo em relação ao próprio trabalho. Leia o texto completo.

.

#12. Antônio Neves
A Pegada Agora É Essa (2021,Far Out Recordings)

Instantes de doce calmaria que antecedem momentos de completo delírio. Em A Pegada Agora É Essa, segundo e mais recente álbum do multi-instrumentista, arranjador e produtor carioca Antônio Neves, passado e presente da música produzida no Rio de Janeiro se encontram em um turbilhão instrumental e poético que aponta para as mais variadas direções criativas. Canções que vão do jazz ao samba, do rock ao uso de temas experimentais de forma sempre inexata, torta, como um acumulo natural de tudo aquilo que artista que já colaborou com nomes como Elza Soares, Moreno Veloso e Ana Frango Elétrico tem produzido desde o início da carreira.Não por acaso, Neves inaugura o disco com a caótica Simba. Como um soco, a composição rapidamente situa o ouvinte no interior do álbum, porém, perverte qualquer traço de normalidade, tornando o caminho até o encerramento da obra deliciosamente incerto. São arranjos quebradiços, pianos e metais que se chocam em meio a fragmentos de vozes e ruídos aleatórios, proposta que ganha ainda mais destaque na música seguinte, a própria faixa-título do trabalho. Da construção das batidas, que parecem saídas de alguma bateria de escola de samba, passando pelo uso de guitarras que evocam Fela Kuti e até o som da interferência de um celular, cada elemento da canção parece transportar o ouvinte para um novo e sempre inusitado território criativo. Leia o texto completo.

.

#11. Mariá Portugal
Erosão (2021, Risco / Fun In The Church)

Em Erosão, primeiro em carreira solo da baterista, cantora, compositora e produtora Mariá Portugal, música é matéria em decomposição. Partindo de um lento processo criativo que teve início há dois anos, quando se reuniu em estúdio com diferentes nomes da cena paulistana, como Maria Beraldo, Joana Queiroz e Chicão, também parceiros de banda na Quartabê, Portugal decidiu se concentrar no uso de improvisos com instrumentos acústicos, fazendo dessa sobreposição de elementos o estímulo para um material que seria minuciosamente filtrado, formatado e completo pelo uso de vocais, acréscimos e efeitos durante um período de residência artística na região de Moers, na Alemanha.E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos da obra, na introdutória Cheio/Vazio. São pouco mais de quatro minutos em que Portugal apresenta parte das regras, possibilidades e conceitos que serão incorporados e derrubados ao longo do álbum. Oscilações eletroacústicas e vozes que encolhem e crescem a todo momento, sempre de maneira imprevisível, como uma manifestação instrumental e lírica do caminho indicado no próprio título da canção. Instantes em que a artista, acompanhada pelo cantor Tó Brandileone (5 a Seco), utiliza justamente da incerteza como único elemento de garantia do registro. Leia o texto completo.

.

#10. FBC / VHOOR
Baile (2021, Independente)

Do encaixe das vozes que se dividem entre o canto e a rima ao jogo nostálgico das batidas, cada mínimo fragmento de Baileparece conduzir o ouvinte em direção ao passado. Entre ecos de Furacão 2000 e outras coletâneas de funk melody que moldaram a estética da produção carioca nos anos 1990, os mineiros FBC e VHOOR reavivam memórias sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma obra unicamente saudosista. São canções que evocam lembranças empoeiradas e confessaram referências, porém, sustentam na construção versos um diálogo totalmente sóbrio e necessário com o presente.Catapultado por conta do fenômeno no TikTok que envolve a viralização da música Se Tá Solteira, quinta faixa do disco, Baile convence com naturalidade em uma audição descompromissada. Do momento em que tem início, na convidativa Vem Pro Baile, VHOOR utiliza de uma colorida sobreposição de ritmos que vai da chegada do Miami Bass ao Brasil à explosão televisiva que tomou conta das tardes de sábado no início dos anos 2000. Um exercício puramente melódico e acessível que continua a reverberar na cabeça do ouvinte mesmo após o encerramento do trabalho, sempre completo pelas rimas e vozes espalhadas por FBC. Leia o texto completo.

.

#9. Jadsa
Olho de Vidro (2021, Balaclava Records)

Camadas de guitarras que se entrelaçam em uma medida própria de tempo, a percussão diminuta e vozes tratadas como mantras, sempre cíclicas e transcendentais. Ouvir as composições de Olho de Vidro, estreia da cantora e compositora Jadsa Castro, é como entrar no mar. São canções que se projetam em meio a ondulações tímidas, quase imperceptíveis, mas que se convertem em verdadeiros turbilhões instrumentais e poéticos, convidando o ouvinte a se perder em um oceano de memórias e sentimentos conflitantes. Um misto de dor e libertação, entrega e doce vulnerabilidade, como se a artista baiana transportasse para dentro de estúdio parte das histórias, relacionamentos amorosos e tudo aquilo que tem vivido nos últimos anos.Feito para ser absorvido aos poucos, sem pressa, o sucessor de Taxidermia (2020), diz a que veio logo nos primeiros minutos, na introdutória Mergulho. São fragmentos de vozes – “olho”, “oco”, “rosto” e “fundo do mar” –, que parecem soprados de forma a revelar a letra da canção – “Eu vou pintar o mar no fundo do seu olho / De lá refletirão mil tons rebatidos no oco / Depois da água, a alegria suaviza seu rosto“. Retalhos sensoriais e líricos que utilizam de elementos da natureza, personagens reais e sentimentos como estímulo para a formação de uma massa essencialmente mutável, viva, conceito que muito se assemelha ao material entregue no também delicado Mansa Fúria (2018), da conterrânea Josyara. Leia o texto completo.

.

#8. Febem
Jovem OG (2021, Ceia Ent. / Empire)

Jovem OG é uma verdadeira celebração. Mais recente lançamento de Felipe Disiderio, o Febem, o trabalho que conta com produção de CESRV, parceiro de longa data do artista, preserva a essência do registro que o antecede, Running (2019), porém, estabelece nas rimas do rapper paulistano um importante ponto de transformação. Canções que exaltam as conquistas e pequenos excessos do ex-integrante do grupo Zero Real Marginal, mas que em nenhum momento tapam os olhos para a realidade. Frações descritivas que passeiam pela periferia de qualquer centro urbano, utilizam de narrativas noturnas, cenas e personagens para construir uma obra de essência viva, como se diferentes histórias e possibilidades fossem condensadas dentro de cada composição.E isso fica bastante explícito logo nos primeiros minutos do registro, na introdutória Jovem. São pouco mais de dois minutos em que Febem e CESRV apresentam parte das regras, temas e conceitos que serão explorados no restante do trabalho. Da fluidez das vozes incorporadas pelo convidado, o cantor/rapper Smile – “Nunca estive tão bem / Posso voar também” –, passando pela base eletrônica que vai do grime à club house e citações a Djonga – “E quem falou que o disco antigo é fraco / Vai tomar no cu” –, tudo soa como um preparativo para as rimas despejadas pelo rapper minutos à frente. “Que agora é nossa vez de ser feliz, de dar risada / Paz na quebrada acaba de ser decretada / E mesmo que eu ainda ande pelo vale da sombra / Volta de ré, filha da puta, cancelei sua ronda“, anuncia. Leia o texto completo.

.

#7. Mbé
Rocinha (2021, QTV)

Pesquisador, produtor cultural e engenheiro de som que trabalhou com nomes como Ana Frango Elétrico e Thiago Nassif, o músico Luan Correia passou mais de dois anos imerso na captação de ruídos, fragmentos de vozes e sobreposições atmosféricas que vão de terreiros a apresentações ao vivo. O resultado desse minucioso processo de seleção está nas composições de Rocinha, primeiro álbum de estúdio do artista que nasceu e cresceu na favela que dá nome ao disco e uma obra marcada pelas possibilidades. São ambientações ritualísticas e trechos de falas de historiadores e ativistas negros, como Maria Beatriz Nascimento (1942 – 1995), estrutura que ganha novo significado nas mãos do produtor que se apresenta como Mbé, palavra em yorubá que significa “ser e existir”.De essência política, como tudo aquilo que Correia tem produzido em seus outros trabalhos, como o coletivo de rap Justa Causa e a dupla Ó Só, Rocinha diz que veio logo nos primeiros minutos, na introdutória Aos Meus. São pouco menos de 50 segundos em que o produtor carioca parte da repetição das vozes e batidas que emulam o som de tiros como elemento de provocativo diálogo com o ouvinte. “O que vocês esperavam que acontecesse quando tiraram a mordaça que tapava essas bocas negras?“, questiona a voz empoeirada que cresce por entre as brechas da canção. São fragmentos rápidos, sempre pontuais, porém, certeiros nas mãos do artista, ampliando os domínios da obra. “Os samples funcionam como amostras de onde viemos e do que somos, as batidas deixam pegadas nas trilhas e os ruídos ressoam aquilo que não nos contam“, resume no texto de apresentação do álbum. Leia o texto completo.

.

#6. Índio da Cuíca
Malandro 5 Estrelas (2021, QTV)

A cuíca é boa / Não posso parar de tocar“. Os versos lançados por Índio da Cuíca logo nos primeiros minutos de Cuíca Malandra / Cuíca Encantada, terceira faixa de Malandro 5 Estrelas, sintetizam a devoção do músico carioca ao instrumento que o acompanha há mais de cinco décadas. Conhecido pelo trabalho como colaborador de nomes como Alcione, Roberto Carlos e Jair Rodrigues, o artista que esteve envolvido em grupos como Corda K Samba e Brasil Ritmo, estreia em grande estilo com uma obra de repertório amplo, porém, centrada em essência no atrito melódico que sutilmente envolve as canções. São fragmentos que contam histórias, detalham personagens e confessam sentimentos sempre atrelados ao universo particular do multi-instrumentista.Com direção musical e arranjos de Gabriel de Aquino e co-direção do cuiqueiro e pesquisador Paulinho Bicolor, o trabalho de dez faixas diz a que veio logo nos primeiros segundos, na introdutória A Cuíca Chora. São pouco mais de dois minutos em que o músico apresenta o time de instrumentistas que o cercam, porém, sempre posicionado em um lugar de destaque, proposta que embala a experiência do ouvinte até a música de encerramento do álbum, Baile do Bambu. E isso fica ainda mais evidente na canção seguinte, Stribinaite Camufraite Oraite, um calango psicodélico e louco, efeito direto do ronco ritmado, por vezes emulando um violino, conceito que acaba se refletindo em diversos momentos ao longo do registro, como na já citada Cuíca Malandra / Cuíca Encantada. Leia o texto completo.

.

#5. Amaro Freitas
Sankofa (2021, Far Out Recordings)

Voltar ao passado para ressignificar o presente e pavimentar o caminho para o futuro. Esse parece ser o principal direcionamento criativo de Amaro Freitas em Sankofa. Com título inspirado pelo pássaro místico que anda com a cabeça voltada para trás, típico dos símbolos ideográficos dos povos de GanaeCosta do Marfim, na África Ocidental, o registro marcado pela pluralidade de ideias costura séculos de referências e temas ancestrais, porém, partindo de uma linguagem essencialmente atualizada. Instantes em que o pianista recifense confessa algumas de suas principais inspirações, transita por entre ritmos e potencializa de forma ainda mais sensível e detalhista tudo aquilo que havia testado nos antecessores Sangue Negro (2016) e Rasif (2018).E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos do álbum, na introdutória faixa-título. Mais uma vez acompanhado pelos músicos Jean Elton (Contrabaixo)e Hugo Medeiros (Bateria), com quem tem colaborado desde o início da carreira, Freitas entrega ao público uma composição que se revela em uma medida própria de tempo, sem pressa, detalhando incontáveis camadas instrumentais, curvas e quebras rítmicas que vão do jazz de Thelonious Monk ao uso de temas ritualísticos. É como se o pianista apresentasse parte das regras que serão exploradas e consequentemente quebradas ao longo do registro. Um ziguezaguear de ideias que ganha ainda mais destaque na canção seguinte, a ensolarada Ayeye, precioso exercício criativo que evoca o neo-soul de nomes como D’Angelo e Erykah Badu, porém, pontuada pela mesma força rítmica e versatilidade de artistas como The Roots. Leia o texto completo.

.

#4. Jennifer Souza
Pacífica Pedra Branca (2021, Balaclava Records)

Ouvir as canções de Pacífica Pedra Branca, segundo álbum de Jennifer Souza em carreira solo, é como chegar em casa depois de uma longa viagem. A reconfortante sensação de acolhimento é quase imediata, quente, mesmo que tudo pareça modificado. E não poderia ser diferente. Oito anos se passaram desde que a cantora e compositora mineira deu vida ao último registro de inéditas, Impossível Breve (2013). Nesse intervalo, Souza, que sempre sustentou na leveza da própria voz um importante componente de diálogo com o ouvinte, aproveitou para colaborar com a antiga banda, Transmissor, com quem trabalhou na produção do delicado De Lá Não Ando Só (2014), além de uma variedade de obras com os parceiros da Moons, vide o ainda recente Dreaming Fully Awake (2019).Vem justamente dessas andanças e colaborações com diferentes artistas o estímulo para a introdutória Ultraleve. De essência cigana, a faixa passeia por entre melodias enevoadas, memórias e arranjos essencialmente dinâmicos, como uma combinação natural das experiências vividas pela artista. “Hoje sou a soma dos caminhos / Já perdi de vista onde começou / Me tornei tão só“, detalha com melancolia, apontando a direção seguida em parte expressiva do trabalho, como na composição seguinte, a agridoce Birds. São flutuações sentimentais, medos e indagações que parecem sutilmente sopradas pela cantora. Leia o texto completo.

.

#3. Don L
Roteiro Para Aïnouz, Vol. 2 (2021, Caro Vapor Vidas)

Ficção e realidade se confundem no Brasil imaginário de Roteiro Para Aïnouz, Vol. 2. Segundo e mais recente capítulo da trilogia reversa proposta por Don L no registro entregue há quatro anos, o trabalho de essência autobiográfica parte de experiências pessoais vividas pelo rapper original de Fortaleza, no Ceará, porém, se permite ir além do próprio cercado. São canções incendiárias e decoloniais que funcionam como um contraponto esperançoso ao atual cenário político do país. Rimas, batidas e fragmentos de vozes que desafiam o conservadorismo, a ignorância e a falsa moralidade cristã.“​Saquear engenhos no caminho ​/ Matar os soldados do rei gringo ​/ E nunca poupar um sertanista / É disso que eu chamo cobrar o quinto“, dispara na introdutória Vila Rica, música que costura passado e presente do país e aponta a trilha revolucionária percorrida pelo artista na primeira porção do trabalho. Pouco mais de quatro minutos em que batidas apoteóticas ganham forma em meio a camadas de sintetizadores, ruídos e vozes em coro, estrutura que se completa pela participação do conterrâneo Mateus Fazeno Rock, mas que dialoga de forma bastante particular com o universo criativo da também grandiosa Ultralight Beam, bem-sucedida colaboração entre Kanye West e Chance The Rapper no álbum The Life of Pablo (2016). Leia o texto completo.

.

#2. Papangu
Holoceno (2021, Independente)

Guitarras colossais, criaturas folclóricas e momentos de maior experimentação. Em Holoceno, estreia do grupo paraibano Papangu, cada mínimo fragmento do trabalho encanta pela completa imprevisibilidade dos elementos. São canções marcadas pela criativa colagem de referências e componentes que vão do imaginário popular nordestino ao metal progressivo, da literatura de Ariano Suassuna ao discurso ecológico anti-Bolsonaro. Um ziguezaguear de ideias e conceitos que não apenas tensionam a experiência do ouvinte durante toda a execução da obra, como refletem o evidente domínio do grupo formado por Marco Mayer (baixo, voz, guitarras, teclados), Nichollas Jaques (bateria, voz), Hector Ruslan (guitarra, voz) e Rai Accioly (guitarra, voz).E não poderia ser diferente. Foram sete anos de maturação até a montagem, produção e entrega do repertório. Um minucioso exercício criativo que se completa pela colaboração de Torstein Lofthus, baterista e integrante de bandas como Shining e Elephant9, Benjamin Mekki Widerøe, saxofonista do grupo norueguês Seven Impale, e os tecladistas Uaná Barreto e Luís Souto Maior. Um permanente cruzamento de informações que diz a que veio logo nos primeiros minutos da obra, na intensa Ave-Bala. Pouco mais de três minutos em que o quarteto de João Pessoa sintetiza parte dos elementos que serão apresentados ao longo do trabalho, direcionamento que vai da bateria insana de Jaques à força imponente das guitarras, sempre labirínticas e imprevisíveis, ainda que essencialmente coesas. Leia o texto completo.

.

#1. Juçara Marçal
Delta Estácio Blues (2021, QTV / Mais Um Discos)

Depois de dançar com a morte no lúgubre Encarnado (2014), Juçara Marçal estabelece nas canções de Delta Estácio Blues, segundo álbum em carreira solo, um inusitado cruzamento de informações. São retalhos sintéticos e batidas que se espalham em meio a memórias, personagens fictícios e releituras de forma totalmente imprevisível. Instantes em que a artista nascida em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, resgata e adapta elementos da própria trajetória artística, como em um remix torto e mutável.Não por acaso, Marçal fez de Crash a primeira composição a ser apresentada ao público. Brutal, a canção desferida como um soco sintetiza parte das experiências e conceitos que serão explorados pela artista e o produtor Kiko Dinucci, parceiro de banda no Metá Metá, até os últimos segundos da obra. Enquanto a rima composta por Rodrigo Ogi pega o ouvinte desprevenido – “Beatrix Kiddo, liquido, com golpes de Aikido / Acerto o pé do ouvido / Ouvindo o seu gemido sofrido, decido” –, sintetizadores frenéticos e samples se entrelaçam de forma provocativa, forte. É possível esperar qualquer coisa da cantora, menos o óbvio. Leia o texto completo.

.

Veja também: Os 50 Melhores Discos Internacionais de 2021

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.